SAÚDE
'The Last of Us': fungo zumbi da série existe, mas não pode 'controlar' humanos
Série sobre o jogo The Last of Us levantou discussão sobre a capacidade de infecção de alguns tipos de fungos.
Publicado em 06/02/2023 às 11:04
A série 'The Last of Us' é o mais novo sucesso de audiência entre as produções audiovisuais neste início de 2023. Inspirada em um jogo de mesmo nome, ambos os produtos têm como pano de fundo a discussão sobre os impactos ambientais que podem mudar a vida em sociedade, no caso, uma pandemia de infecções por fungos.
Na produção, devido ao aumento na temperatura média do planeta, graças ao aquecimento global, os fungos ganharam as condições necessárias para deixarem de ser apenas pequenas ‘pedras no sapato’ dos seres humanos e começarem a ser verdadeiras ameaças.
Diante disso, o JORNAL DA PARAÍBA conversou com o biomédico e professor de microbiologia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Vinícius Perez, para entender o que são os fungos, os potenciais perigos que eles oferecem e como o fungo da série se comporta na vida real.
- O que são fungos?
- O que fungos podem fazer contra os seres humanos?
- Mudanças climáticas podem impactar no perigo dos fungos?
- Pandemia de fungos pode acontecer?
O que são fungos?
Antes de entrar na discussão sobre os potenciais perigos, é preciso entender como os fungos funcionam e quais as suas funções na natureza. “Fungos são seres vivos complexos. Existem algumas espécies que são microscópicas, enquanto outros fungos são mais evoluídos e formam o que a gente conhece como bolores, cogumelos”, explica o biomédico.
“Existem muitos tipos de fungos. Em geral, são considerados decompositores de matéria orgânica, então eles crescem em material que está sendo degradado. Então, às vezes, num pedaço de couro velho, no sapato que fica guardado, o mofo que a gente acabava vendo nas roupas, são os fungos que fazem esse tipo de degradação”, disse.
Muito presente na vida humana, a maioria dos fungos não é prejudicial à saúde, como explica o microbiologista. “Alguns desses fungos podem causar infecções no ser humano. As infecções mais frequentes são aquelas micoses, que se dão por fungos nas nossas unhas, na pele, e são infecções de baixíssimo risco”.
Perigos dos fungos
No entanto, apesar da ‘convivência’ entre seres humanos e os fungos ser normal, a minoria desse tipo de ser vivo pode causar danos à saúde, ainda assim em condições específicas.
“Existem sim uma minoria de fungos que podem causar infecções mais graves, geralmente quando o indivíduo tem alguma debilitação, alguma doença de base, alguém que está em período de tratamento de alguma doença, inclusive podendo levar à morte”, conta.
Sobre o fungo Cordyceps, que é o que gera a pandemia em The Last of Us, o biomédico ressalta que ele existe sim na natureza, mas isso não significa que pode 'controlar' seres humanos porque é um parasitário.
“Existe esse gênero de fungo e ele está vinculado à ocorrência como um parasito de alguns insetos. Fungos também podem ser parasitos de insetos, e realmente em formigas, principalmente, esse fungo acaba por infectar esses animais, acometendo o sistema nervoso central, o que leva a uma mudança de comportamento dessas formigas e isso leva à morte do hospedeiro e uma maior probabilidade de disseminação”, esclarece o especialista sobre a capacidade infecciosa desse tipo de fungo.
Mudanças climáticas e os fungos
Levando em consideração que os fungos, assim como todos os seres vivos do planeta, estão sujeitos às mudanças climáticas ocasionadas por diversos fatores, inclusive o aquecimento global, eles passam por adaptações para continuarem se disseminando na natureza.
“Fungos, em geral, crescem em temperatura ambiente. Quando fungos causam infecções nos seres humanos, o nosso corpo não é um local muito agradável justamente pela temperatura. Alguns deles têm sim capacidade de crescer em temperaturas mais elevadas, mas sofrem por conta disso, ou seja eles podem se adaptar a crescer e sobreviver em temperaturas mais elevadas e, talvez,venha a causar algum tipo de parasitismo (nos seres humanos) como ocorre na natureza”, explica.
Pandemia de fungos?
Traçando um paralelo com pandemias virais, como as que aconteceram algumas vezes na história da humanidade, tal qual a da Gripe Espanhola em 1919 e de Covid-19 recentemente, em 2020, Vinícius fala que a chance de isso acontecer é bem menor em relação aos fungos, por conta do tipo de disseminação.
“Se os fungos vão se propagar via aérea, respiração, ele vai ter que crescer no ambiente, e a gente tem muita variedade climática no nosso planeta, então você não vai ter propagação e crescimento em todas as regiões. A questão da disseminação também não segue uma lógica viral, que são muito mais rápidos”, destaca.
Por fim, o especialista diz que o teto de um número de casos de fungos é apenas os que podem acontecer em locais específicos, como o que acontece em Pernambuco atualmente, onde são registrados casos de um super fungo, chamado de candida auris.
“Podemos ter ocorrência e disseminação, um exemplo é a candida auris, que é conhecida como um habitante do corpo humano. Nos últimos anos, notamos o surgimento de uma candida auris preocupante, que causa infecção em pacientes hospitalizados e é um fungo resistente a alguns antibióticos”, conta.
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