SILVIO OSIAS
Ludmilla cantando o samba da Beija-Flor é recado eloquente a todos os caretas do carnaval
Publicado em 21/02/2023 às 9:01 | Atualizado em 21/02/2023 às 9:17
A seta do tempo é sempre pra frente. Isso aí, aprendi com Gilberto Gil. Há dois dias, numa conversa com uma amiga louca por carnaval, argumentei que não faz sentido ficar reclamando das mudanças pelas quais essa extraordinária festa popular do Brasil vem passando. É assim mesmo. A música brasileira é ricamente diversa, e é essa diversidade que cada vez mais se faz presente no carnaval.
Vejam o exemplo do Recife, que é um dos berços do carnaval. O Recife do frevo, o Recife de grandes tradições é também o Recife do carnaval multicultural. Já faz tempo. O Galo da Madrugada, bloco gigantesco que vem das mais genuínas manifestações carnavalescas da cidade, hoje recebe Pablo Vittar, cuja música não tem nada a ver nem com frevo nem com maracatu. O Galo, portanto, é multicultural.
Essa conversa serve para a tão criticada presença do DJ Alok nas Muriçocas do Miramar, aqui em João Pessoa. Serve também para os grandes blocos que, reunindo multidões no Rio de Janeiro e em São Paulo, foram responsáveis por uma salutar renovação do carnaval de rua das duas maiores cidades brasileiras.
Não me leve a mal, hoje é carnaval, e não vou ficar aqui defendendo tese. Digo apenas que essa meia dúzia de palavras foi motivada por uma imagem da segunda noite do desfile das escolas de samba do Rio. Sim. A imagem de Ludmilla cantando o samba da Beija-Flor ao lado de Neguinho da Beija-Flor.
Neguinho, um cantor de samba, o samba que é a maior representação musical brasileira, e Ludmilla, uma cantora de funk, o funk que ainda incomoda tanta gente de "bom gosto", tudo junto e misturado no desfile da Beija-Flor.
O samba tem mais de 100 anos e é uma tradição da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. O funk, que nasceu entre os pretos pobres como legítima manifestação das nossas profundas desigualdades, também vai compor a grande fotografia das tradições do Rio.
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