CONVERSA POLÍTICA
Opinião: por R$ 4,70, ao menos as paradas de ônibus tinham que ser dignas
É cansativo e desconfortável ao extremo esperar pelos veículos. É uma falta de respeito. É indigno. São centenas de paradas sem cobertura, sem um lugar para sentar, sem identificação de linhas.
Publicado em 15/03/2023 às 16:35 | Atualizado em 15/03/2023 às 17:27
Nos últimos 15 dias, o debate sobre a qualidade do sistema de transporte público de João Pessoa ganhou força.
O combustível para as polêmicas e protestos nas ruas foi o aumento da passagem de ônibus de R$ 4,40 para R$ 4,70.
Mais custo, mais dinheiro para um deslocamento sofrível. E essa é a questão. Quase todos os usuários lembram que o 'problema do aumento não é só o aumento'.
Claro que ninguém quer pagar mais, mas o respeito com o passageiro poderia "amenizar" o impacto no bolso.
O problema central está no déficit de linhas, na falta de pontualidade, de regularidade e ônibus descentes, limpos e acessíveis. Incluímos ainda os abrigos por toda a capital, foco dessa reflexão.
É cansativo e desconfortável ao extremo esperar pelos veículos. É uma falta de respeito. É indigno. São centenas de paradas sem cobertura, sem um lugar para sentar. E não é de agora. Há momentos mais graves, mas entra gestão e sai gestão é a mesma peleja.
Um conversa rápida com um usuário para sentir, nos olhos, o desconsolo. No Colina do Sul, por exemplo, os abrigos cobertos são contados em um mão. Assentos? Aí você está pedindo demais. Algumas paradas, na Hilton Souto Maior, são engolidas por mato.
Sob o sol quente ou sob chuva, a espera é ainda pior. Ouvimos por aí: "por R$ 4,70, tínhamos que ter pelo menos paradas de ônibus dignas".
Não deveria ser assim
A ida ao trabalho, à escola ou a volta para casa, para muita gente, começa com a busca por uma sombrinha, por cobertura para fugir da nuvem carregada, à procura de uma brisa, embaixo de uma árvore mais perto da parada.
Por causa de todo esse sacrifício, pegar ônibus para muita gente é "algo menor", é humilhante, é coisa para "pobre". Que triste! NÃO DEVERIA SER ASSIM.
É preciso desfrutar de um transporte público sem esse estigma. Com um serviço público sem essa máxima e com prática diferente. Como acontece em vários lugares do mundo. A qualidade de todo o sistema é fundamental para isso.
Como ainda estamos distantes desse cenário, desse modelo dos sonhos, investir em abrigos decentes seria uma forma de dar um recado positivo ao usuário de ônibus da capital. Uma sinalização de respeito e de cuidado.
Repetimos: paradas com coberturas, assentos, placas de identificação de linhas. Afinal, nem todo mundo conhece bem o sistema.
Como retorno, a venda dos espaços publicitários deveria ser estimulada. Nada de novo. Sem invenção da roda. O básico.
O sistema como um todo
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), tem total consciência de que o modelo atual está falido. Desde o início do mandato, como representante de prefeitos, no eventos em Brasília, busca do governo federal uma sinalização para conseguir dinheiro para financiar o sistema, tirar o peso das costas dos usuários, dos cofres da prefeitura e melhorar a qualidade da frota. Ainda não houve avanços.
No caso dele, ainda tem uma pressão extra. Na campanha, prometeu ônibus com ar condicionado e acessibilidade em toda frota. Mais de 320 veículos. Terá dificuldade de cumprir a promessa na íntegra. Agora, busca uma solução paliativa retomando a ideia do "ônibus ligeirinho": micro-ônibus com ar condicionado.
A questão é que se ele for mais caro que o normal, será melhor pegar um uber. Afinal, o cenário de hoje é diferente de 20 anos atrás.
Corredores
Outra aposta é a instalação de corredores exclusivos no sistema de João Pessoa. O dinheiro virá de uma Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) para modernizar o transporte e a mobilidade da cidade.
As obras atingirão quatro grandes corredores viários: Epitácio Pessoa, Cruz das Armas, Pedro II e 2 de Fevereiro.
O projeto também tem parceria com o governo do estado e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid). A previsão é de um financiamento de R$ 60 milhões.
É a "revolução" esperada. O problema é que o dinheiro não sai rápido e até lá como ficarão os usuários? No mínimo, é preciso encontrar uma maneira para ampliar as 26 linhas subtraídas na pandemia, diminuir o tempo de espera e o aperto. Oferecer transporte públicos com mais frequência no fim da noite e no domingo.
Solução
A solução é urgente. A falta dela está abarrotando as ruas de João Pessoa com o transporte individual. Um movimento compulsório. Movido pelo desespero de quem sai tarde do trabalho e não tem ônibus para voltar para casa. De quem quer visitar parentes no domingo e tem dificuldade de pegar um ônibus. De quem precisa ficar mais de 1h30 dentro do ônibus, do Valentina ao Centro.
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