CULTURA
Crônica: a poesia de Juca Pontes seguirá entre nós
Juca Pontes é um poeta e ativista cultural dos mais importantes da Paraíba. Sua poesia seguirá viva.
Publicado em 09/04/2023 às 16:14 | Atualizado em 09/04/2023 às 17:56
Foi no sábado, 2 de abril de 2023.
Eu estava no Bistrô 17, um aprazível reduto literário fincado no Centro Histórico de João Pessoa, que funciona no mesmo prédio onde no passado foi a Rádio Sanhauá.
Era dia de lançamento dos novos livros do mestre Hildeberto Barbosa Filho e eu estava na fila das dedicatórias quando, à meia distância, avistei o sempre sorridente poeta Juca Pontes.
A vida tem dessas transmutações inexplicáveis.
Essas situações corriqueiras que, só bem depois, transformam-se em extraordinárias.
Como todos que gostam de cultura na Paraíba, eu adoro Juca Pontes.
Uma figura sempre agradável, divertida, inteligente, bom papo, irrefreável ativista cultural de nossa terra.
Era um prazer conversar com Juca. Escutá-lo. Trocar ideias nesses encontros literários.
Mas, naquele sábado quente de João Pessoa, no que parecia ser apenas mais um dentre tantos outros, em meio à objetividade de quem espera a sua vez numa fila, limitei-me a um aceno de longe, ainda que com o vigor merecido por ele.
– Oi, Juca, querido – gritei empolgado de onde eu estava, enquanto levantava a mão e a vibrava por cima da cabeça, numa típica reverência fraternal.
Ele retribuiu o carinho. Respondeu com o mesmo aceno cordial. Com a personificação do afeto. Até que seguiu no papo que travava com quem estava em seu entorno.
Juca Pontes era assim.
Pessoa sempre muito requisitada, que a despeito disso sabia dar atenção a todos que o circundavam.
Pois, exatamente uma semana depois desse encontro fortuito e distante, Juca se foi para sempre.
Óbvio que, acaso eu soubesse que era a última vez, teria feito o ritual completo.
Teria ido até ele, apertado a sua mão, deixado me demorar um pouco mais ao lado dele, escutando suas histórias, aprendendo com os seus ensinamentos, refletindo sobre suas opiniões acerca da cena literário-cultural da Paraíba.
Não fiz nada disso.
Mas, passados os dias, o corriqueiro tendo se transformado em extraordinário como que de repente, lamentei e muito não ter feito nada disso.
Não era apenas mais um lançamento. Era o encontro derradeiro. A despedida do poeta. A partida definitiva de uma figura humana incrível.
Juca Pontes se foi!
Isso é fato dolorido, impiedoso, inescapável.
Mas, no mundo encantado da arte, é sempre possível enxergar a vida – e a morte – sob outros ângulos.
Nessa nova perspectiva, muito de Juca seguirá entre nós.
Os seus livros, a sua poesia, os seus projetos, a sua inesgotável e incansável dedicação à cultura paraibana.
Apeguemo-nos a isso, portanto.
E, fechando os olhos, com um pouco de esforço e de encantamento, ainda conseguiremos enxergá-lo, por onde estivermos, percebendo o seu sorriso largo e bonachão, careca e barbudo, tão expressivo que tinha a capacidade de comprimir os próprios olhos enquanto ria.
Ele estará por aí.
Pela Praia do Seixas que tanto lhe empolgava, nos eventos da Academia Paraibana de Letras e da Fundação Casa de José Américo, nos espaços literários da cidade, na Livraria do Luiz, no Sebo Cultural na Tabajaras, nos saraus, nos encontros entre escritores e leitores, nas rodas de conversas literárias que tanto lhe empolgavam.
É isso.
Juca não morreu.
Porque poetas não morrem jamais.
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