CONVERSA POLÍTICA
Barroso deveria falar menos, mas pedido de impeachment não dará em nada
O pedido é baseado em falas do ministro do STF, que revelariam um posicionamento político dele, com influência nos julgamentos na Corte.
Publicado em 20/07/2023 às 12:12
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, tornou-se alvo de pedido de investigação por crime de responsabilidade. Doze senadores e 70 deputados de oposição, entre eles o paraibano Cabo Gilberto (PL), querem o impeachment do ministro.
O pedido é baseado em falas de Barroso que revelariam um posicionamento político dele, com influência nos julgamentos na Corte. A principal delas foi no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), no dia 12 de julho, em Porto Alegre, quando Barroso disse que "derrotamos a censura, a tortura e o bolsonarismo".
Deputados também acrescentaram outras falas, entre elas a "perdeu, playboy". Quando se referia a perda da eleição de Bolsonaro a apoiadores.
O senador Jorge Seif (PL-SC) afirmou que Barroso exerceu atividade político-partidária e cometeu crime de responsabilidade, segundo a Lei do Impeachment (Lei 1.079, de 1950), ao afirmar que “nós derrotamos o bolsonarismo”. Para os parlamentares da extrema-direita, Barroso e o Judiciário tornou-se um poder político.
Para andar, o pedido tem que ser aceito pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que "aceitou", na verdade, um nota de Barroso admitindo ato falho. Não vai dar em nada. Não passará de munição para narrativa da extrema-direita de que é injustiçada e está sempre em busca de uma conspiração para se vitimizar.
Mas foi mais do que ato falho. Barroso não deveria estar no congresso da UNE, e nem em outros tantos eventos que aceita participar para dar uma palavrinha. Deveria falar menos, ser discreto e parar de se portar como 'popstar'. Alías, o judiciário brasileiro não precisa de mais Moros ou da proliferação de Gilmar Mendes, estrelas da imprensa. Precisa de discrição.
É inevitável que um posicionamento, uma análise, um comentário, sejam levados em conta na hora de criar a impressão que temos do juiz e da Justiça, em qualquer decisão. Os posicionamentos, no entanto, deveriam estar na peças, nas decisões, nos acórdãos e não em falas, e não em eventos criados para agradar os empresários da Faria Lima, ou para se livrar de vaias de estudantes.
O impeachment não vai acontecer, mas deixou uma lição para os ministros STF e juízes pelo país. O melhor lugar e mais confortável para falar são os autos. Principalmente, em um momento como esse, ainda contaminado pela polarização, com os extremismos usando suas armas de desinformação para criar o caos e apresentar-se como solução democrática.
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