SILVIO OSIAS
Polanski, que perdeu a mãe num campo de concentração, esperou pela velhice para filmar os horrores do nazismo
Publicado em 18/08/2023 às 10:08
A morte da mãe num campo de concentração foi um acontecimento brutal na vida do menino Roman Polanski. O cineasta franco-polonês de origem judaica faz 90 anos nesta sexta-feira, 18 de agosto de 2023.
Polanski nasceu na França, e logo cedo seus pais foram para a Polônia. A família foi perseguida pelos nazistas, e o garoto viveu no Gueto de Varsóvia, de onde sua mãe foi levada para o campo de concentração onde viria a morrer.
O cineasta esperou décadas e já era um homem velho, no início dos anos 2000, quando, finalmente, filmou os horrores do nazismo. OPianista, filme belo e trágico de 2002, recupera situações que Polanski viveu na infância, dentro do gueto.
A morte da mãe não foi o único acontecimento brutal na vida de Roman Polanski. O outro ocorreu em 1969, quando ele, já um cineasta famoso, teve sua mulher - a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses - assassinada pela Família Manson.
Polanski já era velho quando se debruçou sobre o horror nazista em O Pianista e nunca transformou em filme o assassinato de Sharon Tate, mas a violência descomunal que há nesses episódios está, por certo, presente no seu grande cinema.
Roman Polanski correu o mundo realizando filmes. Começou na Polônia (A Faca na Água), passou pela Inglaterra (Repulsa ao Sexo, ADança dos Vampiros), seguiu para os Estados Unidos, onde, em 1968, encontrou o sucesso com O Bebê de Rosemary. Ainda da fase estadunidense, Chinatown, de 1974, revisita com maestria o gênero noir.
O Inquilino, de 1976, foi realizado na França. Com capital inglês e francês, Tess, de 1979, parece filmado para exibir a beleza estonteante de Nastassja Kinski, então com 18 anos. BuscaFrenética, de 1988, é uma homenagem explícita a Alfred Hitchcock, com trama claramente inspirada em O Homem que Sabia Demais.
Em 2005, para realizar Oliver Twist, Polanski contou com capital francês, italiano, tcheco e britânico. No clássico de Charles Dickens, ele foi buscar elementos que remetem à sua infância miserável na Polônia.
Em O Escritor Fantasma, de 2010, fala genericamente de política e particularmente da figura de Tony Blair, numa hábil mistura de ficção e realidade. Ficção e realidade também se fundem na trama angustiante de Baseado em Fatos Reais, de 2017. Antes, em Deusda Carnificina, de 2012, mostrou como se faz cinema filmando teatro e como se dirige atores praticamente enclausurados.
Polanski envelheceu, mas não parou de filmar. Em 2019, um pouco antes da pandemia, realizou O Oficial e O Espião. E agora mesmo, aos 90 anos, está com a black comedy The Palace pronta para estreia em setembro. Roman Polanski é um dos maiores cineastas do mundo.
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