SILVIO OSIAS
Tom não gostava de Elis, Elis não gostava de Tom, mas, juntos, fizeram uma obra-prima
Publicado em 21/09/2023 às 7:31
Elis e Tom, Só Tinha de Sercom Você estreia nesta quinta-feira (21) em uma centena de salas brasileiras. Dirigido por Roberto de Oliveira e Tob Jom Azulay, o documentário entra em João Pessoa numa sala do Manaíra Shopping. O filme, com duração de 100 minutos, conta a história do disco que Tom Jobim e Elis Regina fizeram, juntos, em 1974.
Tom Jobim não gostava de Elis Regina. Elis Regina não gostava de Tom Jobim. Mesmo assim, a gravadora mandou os dois a Los Angeles para a gravação de um disco que seria uma espécie de presente pelos 10 anos de carreira de Elis. O álbum, que poderia não ter sido terminado, é, no entanto, uma obra-prima e logo se transformou num clássico absoluto da música popular brasileira.
Naquele estúdio em Los Angeles, os conflitos entre Tom Jobim, 47 anos, e Elis Regina, 29, não eram os únicos. Tom também implicava com o pianista, maestro e arranjador César Camargo Mariano, marido de Elis e diretor musical dela. O compositor questionava o gosto de César pelos pianos elétricos e desconfiava da capacidade dele para escrever os arranjos.
Elis & Tom não é um disco de bossa nova. Tem clássicos do período, como Corcovado, Só Tinha de Ser com Você e Brigas NuncaMais, mas reúne outras facetas da produção de Tom Jobim.
No repertório de 14 músicas, que se estendem por pouco mais de 40 minutos, há também o Tom camerístico (Modinha, Por Toda aMinha Vida, O Que Tinha de Ser) da parceria com Vinícius de Moraes na fase anterior à bossa nova, e o Tom posterior à bossa em músicas como Triste, Pois É e Retrato em Branco e Preto, as duas últimas, em parceria com o jovem Chico Buarque.
Em Soneto de Separação, o Tom minimalista põe melodia nos versos do Vinícius poeta e não letrista de canção popular. E o Tom ecológico coloca versos no tema instrumental Children's Games e o transforma em Chovendo na Roseira. Inútil Paisagem é da parceria com Aloysio de Oliveira, produtor do disco. E Fotografia, letra e música de Tom, ganha cores jazzísticas.
A obra-prima de Elis & Tom é Águas de Março, a faixa de abertura. Tom já gravara precariamente para o disquinho de bolso do Pasquim, e Elis o fizera muitíssimo bem no seu álbum de 1972. A música está ainda em Matita Perê, inclusive em inglês na edição americana do extraordinário disco de Jobim. E, claro, há a inacreditável versão de João Gilberto em seu Álbum Branco.
Águas de Março é uma das grandes canções do século XX. Quem disse foi Leonard Feather, o mais importante e mais respeitado entre todos os críticos de jazz. Águas de Março é um dos sambas mais lindos do mundo. Aí, quem disse foi o nosso Chico Buarque. As palavras serão insuficientes para descrever a beleza do dueto de Elis e Tom em Águas de Março.
Elis & Tom tem arranjos de Tom Jobim e César Camargo Mariano. Elis canta em todas as faixas. Tom, em algumas, mas faz também piano e violão. O quarteto mágico que gravou o disco é formado por César (piano e piano elétrico), Paulo Braga (bateria), Luizão (baixo) e Hélio Delmiro (guitarra). Chico Batera (percussão) e Oscar Castro-Neves (violão) fazem participações especiais.
Em 2024, Elis & Tom completa 50 anos. Agora, podemos ouvir o disco e ver o filme. Celebremos.
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