icon search
icon search
home icon Home > cultura > silvio osias
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

SILVIO OSIAS

Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Publicado em 03/01/2024 às 7:22 | Atualizado em 03/01/2024 às 7:52


                                        
                                            Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Em 1982, quando a editora Melhoramentos publicou no Brasil o livro The Beatles, fazia 20 anos do lançamento do primeiro single do grupo e 12 da separação. Tudo ainda era muito recente. O texto do livro era de Geoffrey Strokes, e a capa, de Andy Warhol.

O prefácio - sim, o prefácio! - era do maestro Leonard Bernstein, que nós cultuávamos com profunda admiração. A opinião de Bernstein, sendo o gigante que ele era na música erudita, chancelava os Beatles e cortava o barato dos que insistiam em não compreender a dimensão do quarteto.


				
					Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Comprei o livro em 1982 e o mantenho íntegro no meu acervo. Agora, aproveitando o momento em que o nome de Leonard Bernstein está outra vez em evidência por causa do filme Maestro, transcrevo o prefácio escrito no final da década de 1970.

"Me apaixonei pela música dos Beatles (e, ao mesmo tempo, por aquelas quatro caras cum persone) junto com meus filhos, duas meninas e um garoto, ao descobrir aquele falsete fabuloso gritado-sussurrado, aquela batida irresistível, a entonação perfeita, as letras completamente novas, a torrente schubertiana de invenção musical e a nonchalance tipo Danem-se esses Quatro Cavalheiros do Nosso Apocalipse. Jamie tinha doze anos, Alexander, nove, e Nina, dois. Juntos, nós vimos A Visão, em nossas formas inevitavelmente distintas (eu tinha 46 anos!), mas vimos a mesma Visão, e ouvimos o mesmo Pássaro-da-Manhã, Trombeta-do-Elefante, Fanfarra-do-Futuro. Que futuro? Cá estamos nós, quinze anos se passaram, aquilo passou. Porém, durante uma década mais ou menos, ou ainda menos, aquilo permaneceu a mesma Visão-Clarim, cada vez mais concludente e irrefutável, mais clara, mais amarga - e melhor.

Talvez o mais claro, mais amargo (e quem sabe melhor) foi um disco chamado Revolver (pace Sgt. Pepper, Abbey Road et al). Nesse álbum, a melhor coisa, talvez, era uma musiquinha chamada She said she said; pensar nela, lembrar-se dela traz imediatamente à memória toda a beleza daquelas Veias Varicosas Vietnamitas. As notas cicatrizavam, a letra incomodava; ou talvez fosse vice-versa. Mas alguma coisa incomodava, e alguma coisa cicatrizava, ano após ano, Rigby após Rigby, Paperback após Norwegian, talvez expressa às últimas consequências na verdade vislumbrante e triste de She's leaving home.

Enquanto isso, aparecia um volume fino, de pura genidalidade verbal de um ator novo, chamado John Lennon: in his own write. Como se isso não bastasse para a lenda, ainda havia as notas (e a voz de sereia-sílfide) de um tal McCartney. Esses dois formavam uma dupla que incorporou uma criatividade quase nunca igualada naquela década feliz. Ringo - um ator-instrumentista adorável. George - um talento místico irrealizado. Porém, John e Paul, São João e São Paul, eram, e fizeram, e aureolaram, beatificaram e eternizaram o conceito que será sempre conhecido, lembrado e profundamente amado como The Beatles.

E, se os depois foram simplesmente isso, os quatro foram O Todo. Essa interdependência deixava atônito, chapava, às vezes dava pavor; vamos mesmo precisar disso tudo Quando Tivermos 64 Anos? Bem, hoje estou beirando os 64, e três compassos de A day in the life bastam para me sustentar, rejuvenescer, excitar meus sentidos e sensibilidades.

Nina, que tinha dois anos em 64, agora tem dezessete; e ainda na semana passada pegamos aquele livro grosso e infeliz de partituras mal tiradas dos Beatles para ficar relembrando no piano. Nós choramos, e demos pulos de alegria com as redescobertas (She's a woman) - só nos dois, durante horas (Ticket to ride, A hardday'snight, I saw her standing there)...

Isso foi a semana passada. Os Beatles não existem mais. Mas esta semana ainda estou pulando, chorando, recordando uma época boa, uma década de ouro, bons tempos, bons tempos...

LEONARD BERNSTEIN/9 de outubro de 1979"

Imagem ilustrativa da imagem Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Silvio Osias

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp