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SILVIO OSIAS

Fundador do Jaguaribe Carne, Pedro Osmar faz 70 anos

Aniversário do artista é neste sábado, 29 de junho de 2024.

Publicado em 27/06/2024 às 17:44 | Atualizado em 29/06/2024 às 7:27


				
					Fundador do Jaguaribe Carne, Pedro Osmar faz 70 anos
Foto/Reprodução.

O compositor paraibano Pedro Osmar faz 70 anos neste sábado, 29 de junho de 2024. Ele é o fundador do grupo Jaguaribe Carne ao lado do irmão, o também compositor Paulo Ró.

No começo dos anos 1970, nós éramos os "comunas" do Colégio Estadual de Jaguaribe, onde fazíamos o ginásio - me disse Walter Galvão, muitos anos depois. Ele, eu e os irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró.

Não sei se "comunas". Transgressores, sim. Eram tempos difíceis. A direção do colégio não queria nem que deixássemos o cabelo crescer. Em 1971, eu tinha 12 anos. Paulo Ró tinha 13. Galvão, 15. Pedro, 17.

Pedro Osmar me disse que fazia música. No bolso, dentro da carteira, ele carregava uma foto de Jimi Hendrix, outra de Janis Joplin, que morreram no ano anterior.

Pedro foi à nossa casa, na Avenida Conceição, e mostrou algumas das suas músicas. Uma delas se chamava Cogito Ergo Sum. Diziam que era sobre um rapaz do bairro que tinha morrido num acidente, mas não era.

As canções de Pedro me impressionaram. Também a meu pai. Eram bonitas e fortes. E apontavam nitidamente para o fato de que ele, embora ainda muito jovem, sabia fazer música.

Naquela época, tinha os festivais. Depois, houve uma temporada no Rio e, na volta, a Coletiva de Música da Paraíba. Aí veio o Jaguaribe Carne, já com o palco e a autoria das canções divididos com Paulo Ró.

Pedro Osmar tocou viola na banda de Zé Ramalho, gravou e excursionou com Zé, foi gravado por Elba e Amelinha. Esteve no olho do furacão no momento em que uma geração de artistas do Nordeste conquistou dimensão nacional.

Mas Pedro não foi atrás do sucesso. Àquela altura, virada da década de 1970 para a de 1980, seu negócio nem era mais compor canções. Seu negócio eram os temas instrumentais e um experimentalismo radical.

Pedro queria ficar. Queria organizar o movimento com os pés fincados no seu lugar. Tinha o Jaguaribe Carne, tinha a comunidade reunida em torno do Fala Jaguaribe. Tinha as performances de poesia feitas no meio da rua.

Fazer música não era suficiente. Para Paulo Ró, o importante era a música. Para Pedro, era a guerrilha cultural, o ativismo, o desejo de reunir os colegas, um sentimento que fazia dele um cara muito agregador.

A música paraibana dos últimos 40, 40 e poucos anos, deve muito a Pedro Osmar. À sua criação e ao seu espírito inquieto. Esse Chico César que o Brasil conhece é o que é porque, um dia, passou pelo Jaguaribe Carne.

Quem, como eu, conheceu Pedro fazendo canções, sentiu falta quando elas foram abandonadas pelo autor. Um dia desses, Pedro resolveu retomá-las num disco duplo chamado Quem Vem Lá?.

É uma bela fotografia de Pedro. Ou um autorretrato. É interessante porque as canções estão positivamente contaminadas pelas ousadias do compositor. Não aparecem do jeito que as conhecemos com Elba, Amelinha ou Lenine.

Baile de Máscaras e Nó Cego com Pedro não são como com Elba. Beijo, Morte Beijo com Pedro não é como com Amelinha. O Mote do Navio com Pedro não é como com Lenine. Elas ganham algo que só ao autor pertence.

Depois de muitos anos, Pedro resolveu encarar um festival. Inscreveu Vem no Vento no Forrofest e saiu vencedor. Seu baião era mais moderno e vigoroso do que todas as músicas que estavam na disputa.

Pedro Osmar Gomes Coutinho. Pedro Osmar. Pedro. Artista multifacetado. Guerrilheiro cultural em permanente e necessário ativismo. 70 anos neste sábado, 29 de junho de 2024.

"Lá vem a barca chamando o povo/Pra liberdade que se conquista". O refrão do Mote do Navio diz muito de Pedro, do que ele nunca abriu mão. Viva o Jaguaribe Carne. Viva Pedro Osmar.

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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