SILVIO OSIAS
Sérgio Cabral morreu. Alzheimer o livrou do sofrimento com a prisão do filho
O jornalista, escritor e produtor musical estava com 87 anos.
Publicado em 14/07/2024 às 20:23
O cenário do show era um bar. Os músicos tocavam sentados às mesas enquanto bebiam.
O cantor era um sambista por excelência, andando de um lado para o outro do palco e apresentando seu repertório.
E havia um garçom com roupa típica de garçom. Servia bebida aos músicos e, entre uma música e outra, ia ao microfone e contava histórias.
O ano era 1978, e estávamos no Projeto Pixinguinha. O cantor era João Nogueira. O garçom era Sérgio Cabral.
João Nogueira tinha 37 anos. Sérgio Cabral tinha 41. Sérgio Cabral morreu neste domingo, 14 de julho de 2024, aos 87 anos.
Ele tinha Mal de Alzheimer há muitos anos. A doença o livrou do sofrimento com a prisão do filho, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
Sérgio Cabral, o pai, era jornalista desde a década de 1950. Trabalhou no Jornal do Brasil, no Globo e na Folha de S. Paulo.
No final dos anos 1960, integrava a equipe do Pasquim. A ditadura perseguiu e censurou o jornal, e botou os jornalistas, inclusive Cabral, na cadeia.
Como escritor, publicou várias biografias. Entre elas, as de Tom Jobim, Pixinguinha, Nara Leão e Elizeth Cardoso.
Assinou a produção musical de discos e shows e foi também compositor. Os Meninos da Mangueira é parceria sua com Rildo Hora.
Sérgio Cabral era um estudioso da música popular brasileira. Sobretudo a música popular produzida no Rio de Janeiro. Especialmente, o samba.
Era portelense, mas amava profundamente a Mangueira. E era torcedor apaixonado do Vasco da Gama, em cuja sede será velado.
O destino quis que Sérgio Cabral terminasse seus dias privado da memória. Mas sua contribuição à memória da música brasileira é inestimável.
O Rio de Janeiro deve muito a Sérgio Cabral. Melhor: o Brasil e a história de sua grande música popular devem muito a Sérgio Cabral.
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