SILVIO OSIAS
Luiz Gonzaga morreu há 35 anos
O Rei do Baião botou o Nordeste no mapa da música popular brasileira.
Publicado em 02/08/2024 às 6:05
Era uma quarta-feira, dois de agosto de 1989. Amanhecemos com a notícia triste: Luiz Gonzaga morreu no Hospital Santa Joana, no Recife.
O Rei do Baião tinha 76 anos e estava hospitalizado por causa de um câncer de próstata e um quadro muito severo de osteoporose.
Nesta sexta-feira, dois de agosto de 2024, faz 35 anos da morte de Luiz Gonzaga, e é importante que seu legado não caia no esquecimento.
Luiz Gonzaga ainda fez a temporada junina de 1988. Cantava sentado por causa das dores que sentia. Em João Pessoa, se apresentou na Praça do Povo, do Espaço Cultural. Quem cantou antes dele foi Gonzaguinha.
Em 1989, seus shows chegaram a ser anunciados para as festas juninas de várias cidades do Nordeste, mas tiveram que ser cancelados por causa do seu estado de saúde.
Luiz Gonzaga foi velado na Assembleia Legislativa de Pernambuco, no centro do Recife, e, em seguida, levado para o sepultamento em Exu.
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em Exu, Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 1912. Seu maior feito foi botar o Nordeste no mapa da música popular brasileira.
O Rei do Baião se projetou na segunda metade dos anos 1940. Entre o final daquela década e pelo menos a primeira metade da de 1950, viveu o auge da sua carreira.
Seu parceiro mais importante foi o advogado cearense Humberto Teixeira. Com ele, Gonzaga inventou o baião e compôs alguns dos seus maiores sucessos. Inclusive Asa Branca, o maior de todos, adaptação de um tema popular do Nordeste.
Mas houve outro grande parceiro: o médico pernambucano Zé Dantas. Se alguém juntar as músicas desses dois parceiros, Teixeira e Dantas, terá, com toda certeza, a mais rica e completa síntese do trabalho de Luiz Gonzaga.
A bossa nova e a jovem guarda puseram Luiz Gonzaga no ostracismo. O tropicalismo o resgatou. Uma guitarra elétrica e a sanfona do jovem Dominguinhos estavam ao seu lado no show Luiz Gonzaga Volta Pra Curtir, que, em 1972, marcou a sua reentrada.
Mais na frente, houve o encontro com o filho Gonzaguinha na turnê A Vida do Viajante e um punhado de sucessos ao longo da década de 1980.
Uma vez, fui chamado a enumerar as músicas que prefiro no extenso repertório de Luiz Gonzaga. A seresta nordestina Légua Tirana é uma delas. Estrada de Canindé e A Morte do Vaqueiro também estão entre as prediletas.
Adoro Noites Brasileiras e Olha pro Céu, uma marchinha junina comovente. O Xote das Meninas é uma delícia. Da parceria com Zé Dantas. Tema universal tratado com olhar regional. Vozes da Seca é precursora da canção de protesto. Assum Preto é Asa Branca em tom menor. A lista não tem fim.
Na segunda metade dos anos 1970, fui à Assembleia Legislativa ver Luiz Gonzaga receber o título de cidadão paraibano. O discurso de tom excessivamente regionalista me pareceu ingênuo diante da universalidade das coisas.
Mas Gonzaga merecia todos os aplausos e reverências, a despeito das críticas que lhe eram feitas (a defesa da ditadura, a não autoria das canções). Ele era (e permanece sendo) muito maior do que o que se podia dizer de negativo a seu respeito.
Um dos gigantes da música popular brasileira, artista autêntico e verdadeiro na sua simplicidade e força intuitiva, Luiz Gonzaga inseriu dezenas de músicas na memória afetiva dos nordestinos, rurais ou urbanos. Seus grandes sucessos e as nossas festas populares do mês de junho seguem inseparáveis.
Com sua voz, sua sanfona e as músicas belas e impregnadas de melancolia, O Rei do Baião vem de áreas profundas do ser do Nordeste. Preservar a memória dele e festejar o seu cancioneiro deveriam ser compromissos permanentes do povo da região.
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