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SILVIO OSIAS

Estavam fazendo falta as cenas de sexo que a gente vê em Motel Destino

Nu e cru, o filme do diretor cearense Karim Ainouz tem algo do noir.

Publicado em 05/09/2024 às 6:37 | Atualizado em 05/09/2024 às 21:49


				
					Estavam fazendo falta as cenas de sexo que a gente vê em Motel Destino
Foto/Divulgação.

Vejo Motel Destino e penso que, nos últimos anos, a renovação do cinema brasileiro passou por Pernambuco e passa também pelo Ceará.

Um pouco de história: ao tomar posse, em março de 1990, o presidente Fernando Collor fechou a Embrafilme e dizimou a produção nacional.

Para executar a tarefa, Collor levou com ele o cineasta paraibano Ipojuca Pontes. Collor foi derrubado por um impeachment, e depois veio a retomada do cinema brasileiro.

Walter Salles (Central do Brasil, 1998), Fernando Meirelles (Cidade de Deus, 2002) e José Padilha (Tropa de Elite, 2007) se destacaram nesse renascimento.

Kleber Mendonça Filho, filmando em Pernambuco, e Karim Ainouz, vindo do Ceará, se projetaram como dois expressivos representantes do melhor cinema que o Brasil tem oferecido ao mundo.

Karim Ainouz nasceu em Fortaleza e está com 58 anos. Seu primeiro longa, Madame Satã, é de 2002. O road movie O Céu de Suely é de 2006. Praia do Futuro é de 2011. A Vida Invisível é de 2019 e tem soberba atuação de Fernanda Montenegro.

Exibido em Cannes, Motel Destino é o novo filme de Karim Ainouz. Apesar da luz solar do litoral cearense, tem algo dos filmes noir, sobretudo no triângulo formado por Iago Xavier, Nataly Rocha e Fábio Assunção, personagens centrais da trama.

Não há qualquer dúvida de que Motel Destino é filme que busca o sucesso comercial, mas sem abrir mão de uma pegada meio de - vou chamar assim - cinema marginal. Essa pegada não é defeito, mas mérito do filme de Ainouz.

O triângulo amoroso formado por Iago, Nathaly e Fábio é como os triângulos amorosos de O Destino Bate à Sua Porta (o de 1946 e o de 1981) e Pacto de Sangue (1944), um dos grandes filmes de Billy Wilder. Também como o de Corpos Ardentes (1981).

Quem passa pelo corredor que fica por trás dos quartos do motel ouve nitidamente os gritos e os gemidos dos clientes fazendo sexo. O som do sexo é, portanto, um tipo de som que percorre e até domina a narrativa e a trilha sonora de Motel Destino.

Nos últimos anos, se pensarmos em cenas de sexo, o cinema ficou muito moralista. As cenas de sexo foram limadas dos filmes, estrangeiros ou brasileiros. Isso tem a ver com a onda de denúncias de assédio sexual que atingiu o mundo do cinema.

Motel Destino vai em outra direção. Tem muito sexo filmado e mostrado de modo nu e cru. É o oposto do que a gente tem visto em novelas e séries de televisão e também na tela grande dos cinemas.

Estavam fazendo falta cenas de sexo como essas de Motel Destino. Não é apelativo. É verdadeiro e sem glamourização. Valoriza o filme de Karim Ainouz.

Foto/Divulgação

Silvio Osias

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