Tancredo Neves foi eleito há 40 anos

Terça-feira, 15 de janeiro de 1985. Em Brasília, o Colégio Eleitoral, pela via indireta e pela última vez, se reúne para escolher o próximo presidente da República. São 40 anos nesta quarta-feira, 15 de janeiro de 2025.

Tancredo de Almeida Neves disputou com Paulo Salim Maluf. Candidato de oposição ao regime militar, Tancredo teve 480 votos contra 180 de Maluf, candidato do governo.

Nos quesitos habilidade e capacidade de conciliação, havia poucos como Tancredo Neves. Foi o que o credenciou a fazer a transição da ditadura para a democracia plena.

Paulo Maluf era o candidato do presidente João Figueiredo, o último do ciclo militar, mas Figueiredo nunca pareceu totalmente à vontade com a candidatura de Maluf.

Mineiro, tipicamente mineiro, Tancredo Neves vinha de longe. Foi tudo na política. Deputado, senador, governador de Minas Gerais. Até primeiro-ministro, quando, em 1961, a adoção de uma emenda parlamentarista assegurou a posse de João Goulart.

Discreto na oposição à ditadura militar, sempre se posicionou contra a ditadura militar. Isso era um diferencial importante na biografia de Tancredo Neves.

No dia 15 de março de 1983, empossado governador, falou para a multidão: "Liberdade é o outro nome de Minas". Estava entrando no jogo da sucessão presidencial.

Ainda em 1983, veio a campanhas das Diretas Já pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições diretas para presidente.

Foi uma campanha belíssima, de grande engajamento popular, mas, no dia 25 de abril de 1984, o Congresso Nacional frustrou a Nação e rejeitou a emenda.

No PMDB, Ulysses Guimarães era o plano A para o caso da eleição ser pela via direta. Tancredo Neves era o plano B se a eleição fosse indireta, através do Colégio Eleitoral.

Foi o que vimos. Derrotada a emenda das diretas, começou a campanha de Tancredo como o candidato que, eleito pela via indireta, devolveria o país à democracia.

Dissidentes do PDS, o partido do governo, se juntaram ao PMDB, o maior partido da oposição, para viabilizar a candidatura e a campanha de Tancredo. José Sarney, aliado do regime militar, rompeu com o governo e foi escolhido vice de Tancredo.

Esses dissidentes do PDS depois formaram o PFL. Juntos, PMDB e PFL compuseram o que à época se chamou de Aliança Democrática. Nova República era como Tancredo Neves queria batizar o governo que tomaria posse em 15 de março de 1985.

1984 - um ano memorável. Começamos sonhando com a volta das diretas. Terminamos sonhando com a eleição de Tancredo, que era o que tínhamos naquele momento.

O Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves no dia 15 de janeiro de 1985. O povo celebrou o fim do ciclo militar e o início de uma transição para a democracia plena.

Naquele janeiro de 1985, acontecia a primeira edição do Rock in Rio. Horas depois da vitória de Tancredo, Cazuza, à frente do Barão Vermelho, cantou Pro Dia Nascer Feliz, saudando a rapaziada esperta da sua geração e os novos tempos que se avizinhavam.

"O mundo inteiro acordar/E a gente dormir, dormir/Pro dia nascer feliz". O rock do Barão se fez símbolo de um momento histórico e do sonho de milhões de brasileiros.

Tancredo Neves não tomou posse. Doente, foi hospitalizado na noite de 14 de março. Na manhã de 15 de março, a posse do vice José Sarney confirmou o fim do regime militar. Tancredo morreu no dia 21 de abril. Sua morte é uma tragédia brasileira.