CULTURA
Memórias do velho safado
Conhecido pelas críticas ácidas aos aos EUA e às instituições, quadrinista norte-americano Robert Crumb, chega aos 70.
Publicado em 28/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:21
Quem for passear pelo Sul da França e se deparar com um senhor norte-americano que completa 70 anos nesta sexta-feira não saberá que ele pode ser o Robert Crumb, o ‘pai’ dos quadrinhos underground.
Franzino, extremamente tímido, usando óculos fundo de garrafa e se vestindo como se estivesse nos anos 1950 com chapéu preto, Crumb foi considerado o ‘Pieter Brueghel do século 20’ pela revista Time.
A comparação com ‘O Velho’ holandês, considerado um dos maiores pintores flamengos do século 16, restringe-se apenas no que remete ao seu traço. Um apanhado dos temas ácidos e polêmicos da contracultura que o quadrinista sempre defendeu nos anos 1960 – como fetiches sexuais, perversões, crítica aos EUA e às instituições – estão reunidos em A Mente Suja de Robert Crumb (Veneta, 232 páginas, capa dura, R$ 59,90).
A coletânea apresenta HQs como Joe Blow, onde o artista destila seu veneno sobre os estereótipos da família norte-americana, promovendo vários incestos entre os parentes de primeiríssimo grau. Proibida de ser comercializada no Estado de Nova York na época (final dos anos 1960), essa história trouxe uma grande dor de cabeça para os vendedores de quadrinhos, onde dois comerciantes foram processados.
Espécie de ‘inventário’ organizado pelo editor da Veneta, Rogério de Campos, a antologia é um panorama das histórias produzidas durante o período mais radical de censura a temas como sexo e violência nos quadrinhos nos EUA.
Em outra história, um rapaz é perseguido por meninas indecentes devido a sua anatomia nasal parecida com o órgão sexual masculino. Já Snoid é uma espécie de anão que teima viver em certos orifícios excretores do ser humano.
A Mente Suja de Robert Crumb ainda tem espaço para todos os fetiches que o quadrinista possui, a exemplo da representação das mulheres com os seus dotes físicos avantajados e exagerados.
FUGA NO BRASIL
Em 2010, junto com outro veterano da HQ underground norte-americano, Gilbert Shelton (autor da série Freak Brothers), Robert Crumb visitou o Brasil durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro.
No mesmo período, em uma livraria em São Paulo, Crumb subiu em sua cadeira, escalou um corrimão e se dirigiu ao banheiro antes do encerramento oficial da sessão dizendo para todos: “Acabaram os autógrafos!”
Essa foi uma das facetas mostradas por aqui de um dos maiores do seu tempo como ‘O Velho’ holandês Brueghel, que tem direito até de ganhar uma grande exposição no prestigiado Museu de Arte Moderna de Paris, no ano passado.
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