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VIDA URBANA

Mais de 120 mil pessoas vivem sem banheiro em casa na Paraíba

Terceira matéria da série "Saneamento: é básico!" trata das condições sanitárias no Estado

Publicado em 18/02/2016 às 8:00

Na casa de Antônio Barbosa, de 41 anos, nem o adjetivo “precário” dá conta da situação em que vive com a família em uma residência de dois cômodos, sem banheiro. Na porta de casa, o tapete dá lugar a um esgoto a céu aberto. As condições sanitárias em que Antônio e muitos dos seus vizinhos, moradores da Comunidade do S (Róger), em João Pessoa, vivem é assunto da terceira reportagem da série integrada “Saneamento: é básico!”, realizada pela Rede Paraíba de Comunicação até amanhã.

Na Paraíba, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 40 mil residências não possuem banheiro em casa, o que atinge aproximadamente 122 mil pessoas em todo o Estado. Os dados foram coletados na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2014. Na Comunidade do S, quem não tem banheiro em casa ou uma fossa no quintal, improvisa - e este improviso, muitas vezes, está associado a meios primitivos de despejo dos dejetos humanos, como o uso de sacolas plásticas, que depois são descartadas no meio ambiente.

O resultado dessas condições sanitárias precárias pode ser encontrado no sistema de saúde. Em João Pessoa, 25% das internações por doenças infecciosas e parasitárias de 2015 estão ligadas a doenças relacionadas a deficiências no saneamento básico, como hepatite A, esquistossomose, teníase e diarreias. O grupo mais vulnerável é formado por crianças, já que 78% dessas internações são de pacientes de 0 a 9 anos. Ainda em 2015, 12 mil pessoas procuraram os serviços de saúde da prefeitura com quadro de diarreia aguda.

O sanitarista da Vigilância Epidemiológica de João Pessoa Daniel Batista esclarece que nem todos os atendimentos e internações de doenças associadas a deficiência no saneamento estão ligadas a esta causa, já que há casos não se enquadram neste perfil. “Um determinado alimento pode simplesmente não cair bem em um paciente, por exemplo, e ele procurar o sistema de saúde. O que não diminui o problema do saneamento - uma cadeia muito complexa, que vai além do fornecimento da água e da sua descarga. Esse esgoto também precisa de tratamento, de um destino adequado. Sem essas duas condições, a situação se agrava”, pontuou.

A complexidade do tema, como destacou o sanitarista, é tão grande, que até a intermitência no abastecimento de água pode gerar graves problemas para a saúde pública. Explica-se: dependendo da condição estrutural da tubulação de água - e frente à intermitência no abastecimento - é possível que através de uma fossa séptica mal instalada ou mal estruturada, por exemplo, haja a contaminação do lençol freático e em caso de fissuras na tubulação, chegue à rede de abastecimento de água.

As fossas, inclusive, ainda são uma realidade comum em várias residências do Estado, inclusive na capital. O vigilante Sérgio Soares, da Comunidade do S, conta que esse é o meio utilizado por seu irmão, que também vive na comunidade, para despejar os dejetos. Na ausência de um banheiro, o banho, ele conta, é feito de balde. “Aqui a água só chega à noite. Então muita gente armazena em baldes e é assim mesmo que tomam banho”, contou. O vizinho de Sérgio, Antônio Barbosa, citado no início da reportagem, lamenta as condições precárias em que vive. “Todo ser humano merece coisa melhor do que isso aqui. Entra e sai prefeito e ninguém resolve o nosso problema”, lamentou.

Investimentos de efeito

Estudos apontam que investimentos em saneamento resultam na economia direta de serviços de saúde. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada R$ 1 investido em saneamento, R$ 4 são economizados em sistemas de saúde. O sanitarista Daniel Batista, da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de João Pessoa, ressalta que a partir do momento em que o cidadão tem um sistema de distribuição de água em quantidade e qualidade ideais, as doenças de veiculação hídrica, como diarreia e esquistossomose, por exemplo, vão diminuir.

“Não se pode negar os investimentos feitos em saneamento nos últimos tempos. Pode não ser ainda o ideal, mas já surte efeito. Embora eu não tenha esses dados agora para apresentar, posso garantir que o número de óbitos e internações por doenças infecciosas parasitárias caiu nos últimos 10 anos. É um impacto importante na gestão da saúde”, disse Batista.

O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos relativo a 2014, divulgado na última terça pelo Ministério das Cidades, apresentou uma elevação na cobertura de esgotamento sanitário na Paraíba em relação a 2013. A presença de coleta de esgoto saltou de 24,34% dos municípios para 32,96%, mas ainda ficou abaixo da média nacional (49,84%).

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Jornal da Paraíba

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