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Análise: SAF do Botafogo-PB faz bom 1º "jogo" em dia de retórica, mas terá que oferecer além
SAF do Botafogo-PB foi oficializada nesta terça-feira com presença de investidor e do CEO Alexandre Gallo.
Publicado em 05/02/2025 às 7:51 | Atualizado em 05/02/2025 às 10:59
O Botafogo-PB oficializou, na prática, nesta terça-feira, na tradicional Maravilha do Contorno, a expectativa de uma modernização. Estiveram no centro de treinamento do clube um dos investidores da SAF, Lucas Franzato, e o novo CEO do clube, Alexandre Gallo. É o Belo SAF, enfim, depois de muitas incertezas e silêncios, colocando os pés dentro da instituição.
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Em um dia em que a retórica reinou — e nem teria como ser diferente em um dia em que o CEO da SAF é apresentado sob a presença e bênçãos do cara da grana —, mudanças foram bastante perceptíveis. Claro, na retórica. Que, se não é o principal, vale lembrar, tem também uma importância.
O ex-volante do Santos, ex-técnico de tantos clubes e ex-coordenador técnico das categorias de base da seleção brasileira fez acenos importante à torcida. Uma das missões mais duras da SAF vai ser repactuar a relação entre instituição e torcedor, tão relegada sistematicamente pelos dirigentes atualmente antigos do clube, do grupo capitaneado por Breno Morais.
Com as exceções dos anos em que o grupo conciliou e apoiou Nelson Lira como presidente, em 2013 e 2014, ou nas temporadas que contratou gestores do mercado, a exemplo de Giovane Martineli, em 2016, que viam a torcida não como um problema, mas como um ativo importante, historicamente o grupo teve uma relação de antipatia com a torcida. A recíproca foi ficando cada vez mais verdadeira, de modo que a demande existe, sempre existiu, mas precisa de um clube que procure mais movimentos de abraços do que de empurrões.
Mesmo sabendo que nada é mais afetuoso para uma diretoria entregar do que um time que esteja mais próximo da área dos adversários e marcando gols recorrentemente, a SAF parece entender que tem que repactuar a relação. E que precisa trabalhar por isso. Sob o futuro recai a dúvida se vai conseguir. Parece que pelo menos semeou a ideia nesta terça-feira.
Alexandre Gallo, como CEO de fato, mas ainda não de direito, visto que burocracias ainda não resolvidas não fazem do Belo oficialmente um clube com seu departamento de futebol vendido, entendeu bem que precisa fazer acenos. Ele lembrou, por exemplo, da sua última vinda ao Almeidão, com o Atlético-MG, na Copa do Brasil de 2018, e ressaltou que o estádio estava cheio e bonito, o que de fato aconteceu. Elogiou a presença da torcida, que acabou vendo o time da casa ser goleado.
Ele ainda pediu apoio para que a média de público do clube melhore, prometeu um time competitivo para a Série C e fez questão de defender que "ainda dá" para o Botafogo-PB no Campeonato Paraibano. Muita retórica. Mas invariavelmente é o que cabia nesta terça-feira. Acontece que nem isso mais estava ocorrendo no Alvinegro da Estrela Vermelha. Não havia mais vendedores de realidades nem de ilusões. O Belo vivia um limbo institucional.
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O dia competente da retórica foi completado com entrevistas informais do investidor paranaense Lucas Franzato. Um dos homens da grana, ele parece ser mesmo quem vai ser o cara do dinheiro mais próximo do clube. Ex-presidente do Cianorte, entende onde está se metendo. Sabe calcular bem discursos, ao que parece.
Após meses de silêncio, nenhuma conversa com a imprensa paraibana, duas ou três aparições em João Pessoa no ano passado, Franzato apareceu na Maravilha do Contorno com aquela idiossincrasia de quem chega num clube novo. Fino trato, muita atenção e escuta, boas palavras com imprensa e torcida e até uma foto com a camisa da Torcida Jovem do Botafogo (TJB), uma das Organizadas do clube. Que por sinal vive um momento de estranhamento e confusões com outra Organizada, a Fúria, o que pode vir a ser uma demanda da gestão, visto que pode ferir interesses do clube.
No dia da retórica, mais outras aspas para empolgar o torcedor. Franzato quer o Botafogo-PB na Série B já no ano que vem, mesmo tendo um cronograma de investimento de 15 anos no acordo com o clube. Espera fazer do Belo um dos principais 30 times do Brasil nos próximos anos. Rasgou elogios para o clube, para cidade e para o estado. Falou até mais de um Botafogo da Paraíba do que de um Botafogo de João Pessoa, dando sinais de que quer ainda mais estadualizar a marca, para virar um clubes dos paraibanos, com mais torcedores no interior.
Em um cenário de afastamento entre clube e torcida, de um time frágil dentro de campo que perde para também frágeis adversários, a SAF real chegou antes mesmo da SAF oficial. E num dia de retórica fez bem a sua estreia, o seu primeiro jogo com a camisa alvinegra. Não sei se vai servir para um aumento substancial da média de público do clube na temporada já na grande decisão contra o Campinense, no domingo, mas os novos dirigentes botafoguenses mediram bem as palavras e fizeram suas partes. Por hoje...
Curto prazo
O Botafogo-PB, agora sob nova direção, tem um curto prazo complicadíssimo. Com a bola que está jogando, sem densidade defensiva, ofensiva ou de criação, com um jogo ainda sem identidade, o time de João Burse tem real perigo de fazer uma campanha vexatória e não passar de fase.
Sem um jogador diferente, que resolva em momentos de dificuldade, está mais difícil ainda vislumbrar um Belo na final do estadual com esse elenco. O Sousa tem um conjunto melhor, já o Treze tem Dione, o tal jogador diferente para um Paraibano do nível atual. Campinense, Serra Branca e Botafogo-PB, todos com muitos problemas técnicos, lutam por duas vagas para avançar à semifinal.
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De modo que o Botafogo-PB tem uma decisão neste sábado contra o Campinense. Um provável mata-mata. Quem perder vai seguir com chances matemáticas de passar, mas se complica bastante para alcançar esse objetivo.
Alexandre Gallo ressaltou a importância desta partida. Ele já tem a dimensão de que o Belo joga a vida domingo no Clássico Emoção. Mas a nova gestão não tem muita margem de manobra para oferecer uma estrutura diferente para João Burse para o confronto. O comandante terá os mesmos atletas. Talvez um pouco mais dispostos a vencer a partida depois de uma conversa com o novo CEO. Veremos.
Médio prazo
A entrevista de Alexandre Gallo, por incrível que pareça, teve mais menções à Série C do Campeonato Brasileiro do que ao Campeonato Paraibano. Confesso que isso me surpreendeu. Por mais que há anos e, ao que parece agora também, a Série C seja tratada como prioridade dentro do clube em relação ao Paraibano, os estaduais do Nordeste têm a característica de dar acesso a um bom dinheiro com as classificações através deles para a Copa do Brasil e para a Copa do Nordeste. No caso do regional, vale lembrar que a CBF vetou que as federações condicionassem vagas do Nordestão de 2026 à classificação do estadual deste ano, o que vinha acontecendo desde 2013.
De todo modo, a Série C é também o grande foco da SAF. Não ela em si. Mas sair dela. Chegar à Série B é o plano da SAF já para 2025, mais precisamente para o segundo semestre da temporada.
Longo prazo
O longo prazo, no futebol, inevitavelmente parece sempre um discurso dito por quem fala e entendido por quem ouve abstrato. O contrato de investimento da SAF do Botafogo-PB é de 15 anos.
Nele envolve compromissos com a melhora da Maravilha do Contorno, investimentos anuais no departamento de futebol e em todo um ecossistema dentro do clube que promete ser mais moderno e profissionais nas mais diversas áreas da instituição.
Gallo projetou para 2026 a construção de mais campos na Maravilha. Mas quer em 2025 já o início de construções no CT. Franzato ressaltou que quer que o Botafogo-PB esteja entre os 30 clubes mais importantes do país e seja uma das referências do Nordeste. Sonhos que são mais fáceis de falar do que de realizar. Mas que custa tentar.
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