Município do Sertão está entre os mais afetados por descontos indevidos do INSS, afirma CGU

Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que o município de Aguiar, no sertão da Paraíba, está entre os mais afetados do país por descontos suspeitos aplicados a benefícios previdenciários do INSS.

A cidade aparece no topo de uma lista de 19 municípios brasileiros onde mais de 60% dos aposentados e pensionistas sofreram cortes mensais vinculados a associações — muitas vezes, sem autorização clara.

Segundo a CGU, 63,84% dos 1.427 beneficiários de Aguiar tiveram valores descontados em suas folhas de pagamento, número que chama atenção pela gravidade e pela proporção.

O padrão se repete em outros pequenos municípios do interior nordestino, todos com menos de 20 mil habitantes e localizados a mais de 100 km da capital do estado.

Confira os dados divulgados pela CGU

A investigação, que integra a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, aponta que os descontos indevidos podem ter causado um prejuízo de até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 em todo o país.

Os dados mais recentes são de março de 2024 e mostram que, nas cidades mais afetadas, a maioria das cobranças teve como destino associações como a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag). Em alguns municípios, como Vertente do Lério (PE) e Altamira do Maranhão (MA), a entidade concentrou mais de 80% das deduções identificadas.

População rural é a mais atingida

Apesar de a maioria dos benefícios concedidos no país ser destinada à população urbana (74%), o público rural tem sido o mais prejudicado pelos descontos questionáveis. Cerca de 67% dos benefícios com cobranças identificadas são de segurados rurais, grupo que representa apenas 26% do total de beneficiários.

Em cidades como Aguiar, o problema se agrava com a falta de acesso à internet e à infraestrutura pública. A dificuldade em consultar extratos, cancelar débitos ou buscar orientação junto ao INSS deixa muitos beneficiários vulneráveis e sem alternativas imediatas.

CGU alertou sobre o problema em 2023

Segundo reportagem do Jornal Nacional, veiculada no último sábado (26), o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, foi alertado sobre o aumento dessas ocorrências ainda em 2023, mas só tomou providências quase um ano depois. A demora reforça a sensação de abandono vivida por aposentados em cidades isoladas como Aguiar.

A CGU segue analisando se todos os descontos foram de fato realizados sem autorização expressa dos beneficiários. Mesmo assim, o volume e a recorrência dos casos levantam suspeitas e apontam para falhas graves nos mecanismos de controle e transparência do sistema previdenciário brasileiro.