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VIDA URBANA

Medula óssea: número de doadores aumenta 740% na Paraíba

Número de doadores cadastrados no Hemocentro passou de 2,5 mil no início de 2009 para quase 21 mil em junho deste ano.

Publicado em 27/06/2010 às 8:48

Valéria Sinésio
Especial para o JP

Só quem precisa de um transplante de medula óssea pode traduzir fielmente a dor da espera na longa fila que costuma durar meses e até anos, sem contar as vezes que chega tarde demais. Os pacientes enfrentam um grande desafio para continuar vivendo. A maioria das pessoas até pode ter boa vontade de doar, mas o problema está na compatibilidade entre doador e paciente. A boa notícia é que o número de doadores cadastrados no Hemocentro passou de 2,5 mil no início de 2009 para quase 21 mil em junho deste ano. Isso significa que em um ano e quatro meses, o aumento foi de 740%.

Porém, esse número ainda é insuficiente, pois segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a chance de encontrar uma medula compatível é, em média, uma em cada cem mil. O Inca não soube informar a quantidade de paraibanos que aguardam o transplante, pois não há separação de dados por Estado. Em todo o país são quase 1.300 em busca da cura pelo transplante. É importante salientar que um paciente que foi cadastrado depois pode conseguir o transplante antes de alguém que já aguardava há mais tempo, pois tudo vai depender da compatibilidade.

Isso significa que, quanto mais doadores, mais possibilidades de cura vão existir para os pacientes que aguardam com esperança o transplante, que é um tratamento indicado para pessoas com leucemias, linfomas e alguns tipos de anemias. Para o doador, será apenas um incômodo passageiro; para o paciente, a ponte entre a vida e a morte. Acima de qualquer outra definição, ser doador de medula óssea é um ato nobre de solidariedade e amor ao próximo.

A médica Andréa Gadelha, especialista em câncer infantil, reforça que a pessoa que doa não terá prejuízo algum. “Não é tirado nenhum pedaço de nenhum órgão”, explica. Segundo a médica, para fazer o transplante o paciente deve estar com a doença controlada, porém esse controle não vai durar muito tempo se não for feita a quimioterapia em doses muito altas.

“O paciente recebe o sangue rico em células progenitoras como se fosse uma doação de sangue”, afirma. Na doação, se as células conseguirem se implantar, o transplante será um sucesso; caso contrário, o paciente pode morrer. Por isso, lembra Andréa, é preciso ter uma indicação muito precisa do transplante. “O doador, por sua vez, não tem prejuízo algum, porque suas células continuam se reproduzindo muito bem. O risco é realmente para o paciente que recebe o transplante”, destaca.

Outro ponto que não deve ser esquecido é que o doador de hoje também pode necessitar de um transplante amanhã e, certamente, vai torcer que alguém se disponha a ajudá-lo. Foi esse o pensamento que tocou o coração do agricultor Severino Alves de Araújo, quando saiu de Mari para o Hemocentro de João Pessoa, há dois anos, com o intuito de se cadastrar como doador de medula. A única informação que tinha era que poderia salvar uma vida.

“Quando fui ao posto de saúde na minha cidade, a médica que me atendeu estava falando sobre transplante de medula para outras pessoas, achei interessante e perguntei o que era aquilo... A gente fica pensando que amanhã pode precisar também”, contou. Ele é mais uma das pessoas que se dispuseram a ser doadores de medula óssea, caso haja compatibilidade com algum paciente.

O funcionário público Ramos Nery também se sensibilizou quando soube que seu professor estava com leucemia e precisava do transplante. “É uma situação lamentável, fiquei muito triste porque ele sempre foi uma pessoa alegre e querida por todos e, hoje, está em cima de uma cama, abatido, morrendo aos poucos pela doença e não consegue encontrar um doador”, desabafou. O professor recebeu o diagnóstico de leucemia no mês passado. A notícia causou uma reviravolta em sua vida, que teve de ser totalmente adaptada devido ao tratamento que precisou ser feito no Hospital Napoleão Laureano, na capital.

A médica Andréa Gadelha convive diariamente com casos assim e contou dois deles ao JORNAL DA PARAÍBA. “Lido com uma doença muito forte e injusta”, diz. Ela conta a história de dois garotos que tinham leucemia. “Um de família simples, porém muito presente, que dava muita força. O adolescente era muito feliz, apesar das internações próprias do tratamento; vivia sorridente e cativava o carinho de todos; concluiu o tratamento e foi para o transplante de medula cuja doadora foi a única irmã”, comenta. Hoje o adolescente está bem e fora de perigo.

O outro, apesar de todo o apoio familiar, vivia triste, “muito triste” e quase não conseguia ter alta do hospital durante a quimioterapia. “Este garoto, apesar de todos os esforços, foi piorando cada vez mais. Sua medula não se recuperou e apareceram as infecções...seu desespero e sua tristeza foi se tornando cada vez mais profunda”, conta a médica. A infecção aliada a falta de resposta da imunidade culminaram com a morte do paciente.

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Jornal da Paraíba

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