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VIDA URBANA

Carlos e Moisés: vizinhos e amigos

Carlos e Moisés tinham algumas coisas em comum, entre elas o sobrenome e a infância pobre.

Publicado em 06/07/2014 às 7:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 11:23

Carlos e Moisés tinham algumas coisas em comum, entre elas o sobrenome e a infância pobre. A amizade começou cedo. Na rua Oswaldo Lemos, no bairro do Rangel, em João Pessoa, se tornaram vizinhos. Chegaram a trabalhar juntos em uma fábrica de gesso, onde mais tarde foram dispensados por desentendimentos banais.

Na vizinhança, Carlos José Soares de Lima, ajudante de pedreiro, era considerado um homem tranquilo e trabalhador. “Vivia de casa para o trabalho”, conforme afirma uma vizinha. A mesma coisa não se dizia de Edileuza Oliveira, companheira de Carlos. “Ela era ranzinza, vivia brigando com os meninos”, comenta outra vizinha que não quis se identificar. Carlos era tido como uma pessoa maravilhosa, segundo o vizinho Milton Silva, que foi chamado para depor a seu favor, mas recusou.

Carlos e Edileuza moravam na casa de número 70 da rua Oswaldo Lemos. A poucos metros ficava a residência de número 100, onde Moisés Soares Forte e Divanise Lima viviam com os cinco filhos. A relação entre as famílias começou a ficar conturbada por conta de apelidos que surgiram entre eles, conforme consta na denúncia feita pelo Ministério Público da Paraíba, quando pediu que o casal fosse a júri popular, onde são julgados os crimes considerados hediondos.

O filho mais velho das vítimas, Priciano, costumava chamar Carlos de 'cego', em referência à sua deficiência visual. “Fato que o incomodava bastante”, segundo o MP. Por outro lado, o garoto reclamava dos apelidos que recebia de Carlos: 'macaco' e 'negro safado'. O desaparecimento de uma galinha do quintal de Edileuza também pode ter motivado os crimes, segundo apurou a polícia na época.

De acordo com o MP, Carlos já tinha agredido fisicamente Priciano com um cascudo. O menino, por sua vez, um mês antes do fato, teria agredido um filho menor dos acusados, ao que parece, o que motivou a decisão de praticarem os delitos. A Justiça entendeu que o casal agiu de forma premeditada.

Carlos e Edileuza eram pais de um bebê de três meses; ela tinha um menino de outra relação, que Carlos considerava seu filho.

Quando a polícia chegou à casa dos acusados, eles já estavam deitados, demonstrando tranquilidade e frieza. De acordo com o MP, eles já haviam tomado banho e lavado o facão, que estava guardado no quintal da casa. Na casa ao lado, o cenário foi comparado a filme de terror, conforme relatos de policiais e jornalistas, que afirmaram que o cheiro de sangue no local era insuportável.

Carlos foi condenado pelo Tribunal do Júri a 116 anos de reclusão em regime fechado por cinco homicídios e duas tentativas de homicídios. Edileuza, por sua vez, foi condenada a 120 anos e 10 meses de reclusão em regime fechado. A pena imposta a ela foi maior porque Carlos confessou os crimes, o que reduziu em seis meses as penas de cada uma das mortes e tentativas. O julgamento do casal aconteceu em setembro de 2010, e foi um dos mais disputados da história da Justiça da Paraíba.

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Jornal da Paraíba

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