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ECONOMIA

Apresentamos Manoel Dantas Vilar Filho, o homem dos queijos de cabra

De espírito proseador e, Manelito, como é conhecido, fala sobre o início da produção dos laticínios Grupiara.

Publicado em 12/04/2015 às 11:10

A poucos quilômetros de Taperoá, na estrada asfaltada, uma propriedade vistosa se anuncia. A placa fincada na mureta de pedras confirma: “Fazenda Carnaúba”. É nosso destino. Entre cantos de pássaros, cheiro de mato e uma aragem preguiçosa, converso com Manoel Dantas Vilar Filho sob um alpendre acolhedor.

De espírito proseador e piada na ponta da língua, o patriarca da família, conhecido como Manelito, conta-me sobre o início da produção dos laticínios Grupiara, marca que tem conquistado apreciadores em vários estados do Brasil com seus queijos de cabra.

Trocar o plantio pela caprinocultura foi ideia do “primo-irmão” Ariano Suassuna. Ele mesmo, o aclamado romancista. “Fomos criados num ambiente de hostilidade às cabras, que tinha a ver com a defesa desses malditos roçados. Mas a produção de milho e feijão, básica na agricultura do Nordeste, é responsável pela pobreza do nordestino e pela manutenção dessa pobreza”, disse, indignado com o insistente cultivo de grãos no semiárido. “É uma doidice que só acontece aqui. As outras zonas secas do mundo não se metem a fazer isso”.

A criação de cabras para ordenha no começo da década de 1970 desembocou na produção de queijos. “A única maneira de fazer chegar o leite de cabra no consumo das grandes cidades é empacotando sob a forma de queijo”, explicou Manelito.

Para entrar no mercado queijeiro, a família investiu em estrutura e capacitações. No calor do entusiasmo inicial, Ariano e Manoel compraram 200 cabras. O dinheiro usado veio de um prêmio que o escritor recebeu pela obra A Pedra do Reino. Em seguida, construíram uma modesta queijaria, e um sobrinho foi estudar no tradicional Instituto de Laticínios Cândido Tostes, que fica em Juiz de Fora (MG) e é considerado o melhor da América Latina.

Anos depois, Ariano declarou em um texto que a década de 1970-1980 marcou sua vida com três acontecimentos especiais: o lançamento do romance A Pedra do Reino, o do Movimento Armorial, e o começo da criação de cabras que "perdoem a imodéstia da constatação", disse ele, "exerceu papel importante na mudança da opinião injusta e negativa que se tinha até então do rebanho brasileiro de caprinos”. Hoje, os Dantas Vilar têm 2.500 caprinos e ovinos, além de 800 cabeças de boi.

Embora a França seja referência como produtor de queijo de cabras no mundo, Manoel garante que a Paraíba também tem vantagem a contar nesse setor. “Com as cabras saanen, que são as cabras francesas, são necessários doze litros de leite para um quilo de queijo. Das nativas nordestinas, que passaram por um melhoramento pra função leiteira feito aqui, bastam seis”. Segundo ele, isso se explica pelo alto teor de sólidos presentes no leite do seu rebanho.

As raças criadas na Fazenda Carnaúba são essencialmente nativas, como moxotó, canindé, marota e graúna. Respeito às raízes é sagrado na propriedade. Prova disso é a batalha que a família vem travando para renovar o registro dos queijos. No ano passado, a Secretaria de Agropecuária e Pesca não aceitou que arupiara, cariri e borborema fossem cadastrados como tipos de queijos. Sugeriu que fosse usada uma denominação já existente, como camembert ou boursin. A peleja continua, já que Manoel e seus filhos não admitem o afrancesamento.

Mesmo quando a família decidiu fabricar versões mais sofisticadas do produto, foi mantido o pé do Nordeste. No lugar de ervas de Provence, o queijo recebeu temperos locais, como aroeira, alfazema de periquito, cumaru e marmeleiro.

Depois que acertou a mão na produção, a fazenda passou a ser reconhecida pelos mais exigentes paladares. Atualmente, além da Paraíba, fornece para empórios, padarias e restaurantes de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os mais criteriosos especialistas também se renderam aos encantos do Grupiara. O produto foi destaque na primeira edição do Prêmio Queijo Brasil, realizado em São Paulo. Levou uma medalha de ouro, quatro de prata, duas de bronze e mais uma pela votação popular. Com o resultado, a marca se consagrou no grupo dos oito melhores queijos brasileiros.

Antes disso, já havia arrebatado o título de Melhor Queijo de Cabra no Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados. "No Enel, em 2013, estava o povo do Cândido Tostes. Eu queria que você visse, eles fecharam em cima de mim. Foi um sucesso", recorda-se.

Além de conquistar pelo sabor, a marca tem uma embalagem que não é pra qualquer um. O rótulo foi criado por ninguém menos que Ariano, inspirado em desenhos rupestres e com tipologia armorial. O resultado ficou tão distinto que a caixa foi selecionada para a Bienal Iberoamericana de Diseño, que aconteceu no ano passado em Madri, e ainda figurou entre os vencedores do Grandes Cases de Embalagem, em São Paulo.

Aos 78 anos, Manelito hoje deixa o protagonismo dos laticínios nas mãos de dois dos seus cinco filhos: Inês e Joaquim. Engenheiro civil, com currículo admirável - que inclui trajetórias na Sudene e na Cagepa -, ele segue inspirando com suas histórias ricas em detalhes e suas opiniões bem embasadas. Entre um cigarro e outro, ensina herdeiros, amigos e visitantes que nenhuma nação é mais digna de admiração do que aquela onde demos o primeiro berro.

Leia mais na coluna Valor do JORNAL DA PARAÍBA

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Jornal da Paraíba

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