COTIDIANO
Clonagem de cartão vira negócio fácil e "rastrear" gangues é desafio
Estimativas do setor financeiro são de que bandidos tenham faturado pelo menos de R$ 31 milhões com a clonagem dos equipamentos, em todo o Brasil.
Publicado em 27/09/2009 às 8:47
De João Paulo Medeiros do Jornal da Paraíba
A agilidade no momento de pagar ou comprar quaisquer tipos de produtos e a portabilidade têm provocado euforia entre os consumidores. Adquirir um eletrodoméstico, transferir altas quantias em dinheiro, comprar um presente ou fazer a feira em supermercados se tornaram atividades simples, que podem ser resolvidas com um único equipamento: o cartão de crédito ou de débito.
No entanto, atentas a essas facilidades e aos recursos financeiros movimentados com esses equipamentos, surgiram também quadrilhas especializadas em fraudes contra os usuários dessa ferramenta.
As estimativas de entidades ligadas ao setor financeiro são de que os bandidos tenham faturado pelo menos de R$ 31 milhões com a clonagem dos equipamentos, em todo o Brasil. Apenas em Campina Grande, esse tipo de crime já provocou prejuízos superiores a R$ 70 mil, considerando os seis primeiros meses de 2009.
Foram mais de 30 certidões de ocorrências registradas na Delegacia de Defraudações do município (DDF), dando conta desse tipo de delito. O montante, apesar de não ser tão expressivo, daria para comprar pelo menos três carros populares e com uma diferença: os bandidos agiram silenciosamente, sem correr risco, precisar utilizar armas ou da violência e nem serem incomodados.
De acordo com a polícia, grande parte dessas ações é praticada por quadrilhas interestaduais, formadas por integrantes que estão espalhados por cidades diferentes e às vezes mantêm contato através da internet. A clonagem é feita em um Estado, mas as compras realizadas em outra Unidade da Federação, para dificultar o trabalho e as investigações policiais.
Pessoas desconhecidas de Estados como o Ceará, Goiás, Maranhão e do Distrito Federal costumam atuar com frequência e atacar os proprietários de cartões campinenses. Apesar das dificuldades em ‘rastrear’ as ações dos criminosos, as polícias têm conseguido realizar prisões no município, com o apoio da população.
No mês de maio deste ano, por exemplo, dois cearenses da cidade do Crato foram detidos em flagrante no momento em que tentavam instalar aparelhos em um terminal de auto-atendimento de um banco, em um shopping da cidade.
Segundo a polícia, Rodrigo Diogo dos Santos, 25 anos, e o contador José Everton do Nascimento, 24 anos, iriam utilizar a mesma estratégia desenvolvida pelas quadrilhas especializadas nesse tipo de crime.
Depois de instalarem nos terminais aparelhos usados para ler as informações dos cartões, conhecidos popularmente como ‘chupa-cabras’, os dados dos correntistas são transferidos para computadores e depois empregados na confecção de novos cartões, dessa vez clonados com os mesmos números de série cujas dívidas contraídas vão desaguar nas contas dos proprietários dos equipamentos originais.
Foi o que aconteceu com a funcionária pública Isabele Alencar, 35 anos, que reside na cidade de São Sebastião de Lagoa de Roça, no Brejo paraibano. Depois de parar para abastecer o seu veículo na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, durante férias com a família, ela percebeu que estava impedida de fazer o pagamento.
“Quando o rapaz olhou meu saldo estava devedor, e aí eu não entendi por que, três dias antes eu tinha verificado e tinha dinheiro, e não havia comprado mais nada”, relatou. Conforme a vítima, pessoas desconhecidas realizaram, em seu nome, vários saques em municípios do Estado do Ceará utilizando dos dados de seu cartão de crédito.
“Esse tipo de coisa nos deixa bastante assustados, porque a gente já busca ter cartão para evitar andar com dinheiro em espécie e ser alvo de bandidos. Mas aí acontece uma coisa dessas”, lamentou.
Em outros casos, as vítimas só identificam que foram fraudadas ao terem os nomes inseridos em cadastros de ‘mau pagadores’, como o SPC e o Serasa. Os bancos, tanto privados como públicos, assim como empresas que trabalham com financiamento e cartões de cartões evitam tratar do assunto, mas de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Fenabran), anualmente são investidos cerca de R$ 1,5 bilhão em segurança eletrônica.
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