icon search
icon search
home icon Home > cotidiano > vida urbana
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

VIDA URBANA

Fanatismo faz portadores do vírus HIV abandonarem tratamento

Ao mesmo tempo em que a religião interfere de forma positiva no tratamento dos portadores do vírus HIV, uma visão equivocada pode ocasionar situações dramáticas.

Publicado em 27/06/2010 às 8:53

Jacqueline Santos
Do Jornal da Paraíba

Na ótica científica, a Aids não tem cura. No entanto, existem vertentes que acreditam que é possível alcançar a recuperação total da doença. Nesse momento, entra em cena a fé. Mas, ao mesmo tempo em que a religião interfere de forma positiva no tratamento dos portadores do vírus HIV, uma visão equivocada pode ocasionar situações dramáticas. Representantes de órgãos que cuidam desses pacientes afirmam que muitos deles acabam sendo prejudicados com o fanatismo e alguns chegam à morte, por abandonar o tratamento acreditando estarem curados, mesmo sem comprovação clínica.

O diretor do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids (CTA), da Secretaria de Saúde de João Pessoa, Roberto Maia, informa que são inúmeros os relatos de familiares e mesmo dos próprios pacientes acompanhados pelo serviço que se queixam do abandono do tratamento por conta da religião. “Eles creem na palavra do sacerdote mais do que na opinião do médico. Esse é o motivo por que alguns deixam de ir às consultas e param de tomar os medicamentos. Infelizmente sabemos de casos de pessoas que chegaram a óbito”, explica o diretor, acrescentando que as informações desse tipo sempre circulam pelos corredores dos hospitais.

Somente no ano passado, estima-se que tenham ocorrido pelo menos quatro mortes de portadores do vírus após terem largado o tratamento devido a questões religiosas. Os números, embora não integrem um boletim epidemiológico, são reais e fazem parte do cotidiano de profissionais de saúde que trabalham no setor. Geralmente, os pacientes tratados no sistema público de saúde começam a mudar o comportamento quando aderem a alguma religião, conforme ressaltou Roberto Maia.

Embora ele reconheça que dogmas da igreja católica interfiram na prevenção da Aids e até mesmo no tratamento dos pacientes, os casos são registrados com mais intensidade na religião evangélica, de acordo com médicos. A infectologista Adriana Cavalcanti disse que identificou, nos últimos anos, o abandono de pelo menos três pessoas que estavam sendo acompanhadas pela especialista graças a religiosidade e, segundo ela, todos estavam ligados a denominações evangélicas.

“Isso é uma realidade. Eu acompanho pacientes no ambulatório e nas enfermarias e vejo pessoas que deixaram por causa dos conselhos que recebem. Elas dizem: Deus vai me curar e eu não vou mais tomar os medicamentos. Três, pelo que me lembro, estavam sendo acompanhados comigo e disseram não mais continuar. Ficam irredutíveis e confiantes, mas a gente sabe que não estão curados”, informou a médica, ressaltando que também é evangélica, entretanto ressalta que a fé precisa ser praticada de maneira racional.

Os casos têm crescido gradativamente, mesmo que sejam sub-registrados. Na verdade, não há como comprovar que o motivo do abandono tenha sido a religião, embora familiares e portadores cheguem a comentar que essa teria sido a causa. Para Roberto Maia, o aumento do grau de fanatismo diminui o censo de racionalidade, fazendo com que as pessoas ajam por impulso.

No momento de desespero, ao saber do diagnóstico, a primeira sensação é de rejeição e os portadores tomam atitudes drásticas para se “livrarem” imediatamente da patologia. “Não tem como fazer de conta que não tem (a doença). É isso que alguns pacientes fazem. Querem se livrar da doença de uma hora para outra e, para tanto, tomam atitudes impulsivas, que acabam sendo um entrave na recuperação”, opina.

A justificativa encontrada pelos próprios pacientes para interromper o processo de cuidados médicos, conforme o diretor do CTA, está na visão errônea, instituída por muitos religiosos, de que a Aids está vinculada ao pecado. “Nesse sentido, a doença passa a ser uma questão moral e a gente sabe que a maioria dos infectados, atualmente, é composta por donas de casa, que são casadas e mantêm relação sexual apenas com o marido, e que acabam contraindo o vírus porque são traídas e não usam camisinha”, salienta.

O descontrole no tratamento pode gerar consequências desastrosas. Caso o portador interrompa a medicação, o vírus ganha corpo e o grau de vulnerabilidade de contrair doenças oportunistas (pneumonia e tuberculose, por exemplo) aumenta consideralmente, o que pode levar o paciente à morte.

“Se uma pessoa toma 20 tipos de medicamentos antirretrovirais e para de usá-los, ao retornar, precisa-se administrar um outro esquema de antirretrovirais. Existem apenas três esquemas e a cada vez que ela abandona, o organismo fica mais resistente. Vai chegar um momento em que não haverá mais resposta ao tratamento medicamentoso”, detalhou Maia, ao explicar a vulnerabilidade dos portadores.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp