SILVIO OSIAS
35 anos sem Cazuza
O artista tinha 32 anos quando morreu no dia sete de julho de 1990.
Publicado em 08/07/2025 às 6:20

"Me vejo jovem em Herbert Vianna e vejo Caetano jovem em Cazuza". Ouvi isso de Gilberto Gil em meados dos anos 1980. Conversávamos sobre o rock brasileiro que despontou naquela década, e Gil era entusiasta do fenômeno.
Lembrei da fala de Gil nesta segunda-feira, sete de julho de 2025. 35 anos daquele sábado, sete de julho de 1990, em que Cazuza morreu aos 32 anos.
Quando morreu, Cazuza vinha de uma extenuante batalha para sobreviver ao HIV. Naquela época, ser portador do vírus era uma verdadeira sentença de morte.
Se estivesse vivo, Cazuza teria 67 anos. Seria um homem velho. Citando a letra de Ideologia, me pergunto como estaria aquele garoto que queria mudar o mundo. É natural que a gente imagine velhos os artistas que a morte só permitiu que víssemos jovens.
Em sua breve trajetória, tanto como frontline do Barão Vermelho quanto como artista solo, Cazuza sempre esteve identificado com o rock. Mas também manteve um vínculo muito salutar com a tradição da música popular brasileira e com a geração da MPB.
Fez sucesso com um rock como Pro Dia Nascer Feliz (ao lado do Barão Vermelho) e com uma bossa nova como Faz Parte do Meu Show (da carreira solo).
O negócio de Cazuza era letra de música. Ou, se quisermos, poesia. Nesse terreno, na sua geração, ao lado de parceiros como o guitarrista Roberto Frejat, foi o melhor de todos.
Em 1988, o samba Brasil, cantado por Gal Costa, era o tema de abertura da novela Vale Tudo, retrato do Brasil pré-Collor. Em 2025, Brasil voltou, outra vez com Gal, como tema de abertura da nova versão de Vale Tudo, que a Globo exibe atualmente.
Em 2025, a letra de Brasil é tão forte e atual quanto esses versos de O Tempo Não Pára: "Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro/Tansformam o país inteiro num puteiro/Pois assim se ganha mais dinheiro".
Estive com Cazuza uma única vez, quando ele cantou em João Pessoa no verão de 1989. Percorria o país com o show de O Tempo Não Pára, sua turnê derradeira.
Estava muito magro, todos sabiam que tinha uma doença grave, mas ainda não assumira publicamente que era portador do HIV.
Fui ao Hotel Tambaú entrevistá-lo para o programa A Palavra É Sua, que era exibido nos domingos pela manhã na TV Cabo Branco.
Cazuza estava na piscina (ao lado do amigo Ezequiel Neves, seu parceiro e produtor) e gravou comigo numa mesa próxima. De sunga, camiseta sem manga e boné.
Parceiros, rock’n’ roll, bossa nova, o êxito das suas canções, as diferenças entre poesia e letra de música, rock e MPB – estes foram os temas da nossa conversa.
Ele falou da influência que recebera de Caetano Veloso, cujo interesse pelo "passado da música popular" (usou essa expressão) lhe servira de parâmetro.
Fiquei triste no dia em que o entrevistei. Não era fácil ver um artista jovem e talentoso como Cazuza consumido por uma doença devastadora.
Poucos dias depois, em Nova York, Cazuza disse a um repórter da Folha que era portador do HIV. Sua agonia se estendeu até sete de julho de 1990. 35 anos atrás.
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