SILVIO OSIAS
Verissimo foi um escritor popular num país que lê pouco e mal
Escritor morreu no sábado (30/09) aos 88 anos.
Publicado em 01/09/2025 às 7:22

Nas redes sociais, Mônica Salmaso, essa grande cantora brasileira, confessou que era (é) fã de carteirinha de Luis Fernando Verissimo e trouxe a lembrança de que ele gostava muito de Senhorinha, que ela gravou - e também Nana Caymmi.
Senhorinha tem melodia de Guinga e letra de Paulo César Pinheiro e está em Voadeira, álbum do final dos anos 1990, do início da carreira de Mônica Salmaso.
A menção de Mônica Salmaso à imensa beleza que Luis Fernando Verissimo enxergava em Senhorinha faz a conexão dele com o mundo da música. Antes de ser escritor, Luis Fernando Verissimo quis ser músico.
Luis Fernando Verissimo morou nos Estados Unidos, tocava sax e era um apaixonado pelo jazz. Mais do que isso, teve o privilégio de ver ao vivo gigantes do jazz, músicos do porte de um Charlie Parker ou de um Dizzy Gillespie, nos lembra Eduardo Bueno.
Luis Fernando Verissimo quis ser um refinado músico de jazz, tocando seu sax, e acabou sendo um escritor muito popular num país como o Brasil, que lê pouco e mal.
E, aí, me permitam uma digressão. Quando falo de escritores populares, penso logo em Jorge Amado e posso dizer que, já me aproximando dos 70 anos, tenho quilometragem suficiente para afirmar que "sou do tempo" em que Jorge Amado era pouco respeitado.
É incrível, mas é verdade. Um autor extraordinário como Jorge Amado era criticado por romances que se tornaram muito populares, como Gabriela Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tieta do Agreste.
Muitos dos seus críticos não aceitavam o fato de que Jorge Amado, ainda muito cedo, trocara a militância no Partido Comunista e as histórias de cunho mais engajado por livros que faziam sucesso. No fundo, invejavam o êxito comercial de Jorge Amado.
Também "sou do tempo" - década de 1970 - em que Vinícius de Moraes era considerado um poeta menor. Sim, porque trocara a poesia canônica pela letra de música popular. Não reconheciam que Vinícius de Moraes era grande nas duas praias que frequentava.
Luis Fernando Verissimo não parece ter sido alvo das críticas que, em algum momento, atingiram tanto Jorge Amado quanto Vinícius de Moraes. Luis Fernando Verissimo era popular, vendia milhares e milhares de livros, e assim foi assimilado e respeitado.
Um dos grandes desafios que Luis Fernando Verissimo enfrentou - e venceu - foi ser um grande escritor já sendo filho de outro grande escritor. Erico Verissimo, seu pai, é um dos maiores escritores do Brasil em todos os tempos e talvez o maior do Rio Grande do Sul.
Erico Verissimo foi um escritor muito popular, mas a leitura da sua obra é bem mais difícil do que a leitura da obra de Luis Fernando Veríssimo, que carrega consigo a leveza e o humor desse encontro nele tão feliz e bem sucedido entre o conto e a crônica.
Não faz muito tempo, foi Affonso Romano de Sant'Anna. Outro dia foi Jaguar. Agora, Luis Fernando Verissimo, que, às vésperas de fazer 89 anos, estava muito doente e afastado das suas atividades literárias. "Descansou", como disse seu amigo Eduardo Bueno.
Luis Fernando Verissimo é de uma geração de grandes brasileiros que a gente está vendo ir embora. O "descansou" não foi o único clichê que Eduardo Bueno usou para reverenciar Verissimo em sua morte, O outro foi "Verissimo é imortal". Sim, porque fica a obra.
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