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SILVIO OSIAS

O Agente Secreto é tudo de bom!

Filme de Kleber Mendonça Filho estreia nesta quinta-feira, seis de novembro de 2025.

Publicado em 06/11/2025 às 7:24


				
					O Agente Secreto é tudo de bom!
Foto/Divulgação.

Se Antônio Barreto Neto, o melhor crítico de cinema que a Paraíba teve, estivesse vivo, ele diria assim: "Kleber Mendonça Filho não sabe fazer filme ruim".

Antônio Barreto Neto e suas frases cheias de humor. Esta, ele usava como resposta a quem perguntava se um filme de um grande diretor era realmente bom.

A frase de Barreto Neto se encaixa neste cara que fazia crítica no Jornal do Commercio, no Recife, e, de lá, migrou com absoluto êxito para a realização de filmes.

Kleber Mendonça Filho, recifense, 56 anos, não sabe fazer filme ruim. Mas eu mexeria na frase: ele só sabe fazer grandes filmes. Tem sido assim desde O Som ao Redor.

O Som ao Redor, 2012. Aquarius, 2016. Bacurau, 2019. Retratos Fantasmas, 2023. E, agora em 2025, O Agente Secreto, que está sendo lançado nesta quinta-feira (06).


				
					O Agente Secreto é tudo de bom!
Foto/Divulgação.

No começo, uma série de fotos em preto e branco ocupa a tela do cinema. Os Trapalhões, A Escrava Isaura, Chacrinha e Zezé Motta, Caetano Veloso e Maria Bethânia, Clara Nunes, Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia, Tarcísio Meira e Glória Menezes.

As fotos remetem o espectador à década de 1970. O filme se passa em 1977. No meio, a foto de Capiba evoca o Recife, a cidade/personagem de O Agente Secreto.

Segue-se uma rápida sequência de abertura, num posto de gasolina de beira de estrada, que apresenta ao público Marcelo/Armando, o personagem central do filme.

A sequência tem começo, meio e fim e revela duas coisas que vão acompanhar toda a narrativa de 2 horas e 40 minutos: o elevado nível de tensão e também o humor.

A manutenção desse nível de tensão faz parte da assinatura de Kleber Mendonça Filho. É assim desde O Som ao Redor. Uma tensão que cresce e mantém o espectador ligado.

Kleber Mendonça Filho não gosta de ser comparado a Quentin Tarantino, mas não vou deixar de dizer que há, nos filmes dos dois, uma grande devoção ao cinema.

No fundo, os filmes de Kleber, como os de Tarantino, são sobre cinema. Gêneros revistos, reciclados, reinventados. E Kleber Mendonça é tão bom quanto Quentin Tarantino.

Mas Kleber Mendonça Filho é Kleber Mendonça Filho. Com sua assinatura muito peculiar, roteirista e diretor, um mestre absoluto da grande tradição do cinema de autor.

2024 foi o ano de Ainda Estou Aqui. O filme de Walter Salles lotou os cinemas durante meses e acabou trazendo para o Brasil o Oscar de Melhor Filme Internacional.

Ainda Estou Aqui é, explicitamente, um filme sobre a ditadura militar. É um grande filme, importantíssimo, mas é esteticamente convencional, como é o cinema de Walter Salles.

O Agente Secreto é um filme que fala sobre a ditadura militar sem ser sobre a ditadura militar - se é que me faço entender. E não é esteticamente convencional.

O cinema de Kleber Mendonça Filho não é esteticamente convencional. Nunca foi. É isso que proporciona um grande prazer estético ao cinéfilo que vê seus filmes.

Kleber cresceu vendo cinema, depois, formado jornalista, foi escrever sobre cinema, cobriu grandes festivais internacionais e, mais tarde, como Truffaut, resolveu fazer filmes.

O cinema está dentro de Kleber. Isso é explícito em seus filmes. O manuseio dos gêneros, a maestria na condução das tramas, as armadilhas que surpreendem o espectador, o domínio completo da narrativa e a sua entrega ao ofício que o projetou mundialmente.

O Agente Secreto tem 2 horas e 40 minutos. É um filme muito longo. Mas não há um minuto de monotonia. Nada se perde. Tudo se encaixa até o final inesperado.

O elenco é brilhante. Wagner Moura está soberbo como Marcelo/Armando, em torno de quem a trama é construída a partir de sua chegada ao Recife, no carnaval de 1977.

A Tânia Maria, como Dona Sebastiana, estão reservados os melhores momentos de humor do filme. Ela vem de uma diminuta participação em Bacurau.

Tem Maria Fernanda Cândido e Gabriel Leone, consagrados na televisão. Bem como Hermila Guedes, Alice Carvalho e Thomás Aquino, todos já muito conhecidos.

Buda Lira e Suzy Lopes estão entre os muitos paraibanos do elenco. Todos marcam, mesmo os que fazem pequenos papéis - é característica do cinema de Kleber.

O uso de trilhas pré existentes faz parte do cinema de Kleber Mendonça Filho. Não é diferente em O Agente Secreto. Temos de Nelson Ferreira a Ennio Morricone, de Waldick Soriano ao pouco lembrado Conjunto Concerto Viola, da Banda de Pífanos de Caruaru a Ângela Maria, de Lula Cortes e Zé Ramalho ao Chicago e a Donna Summer.

Lembro de Kleber Mendonça Filho, na sessão de lançamento de Bacurau em João Pessoa, em 2019, dizendo que seu novo filme era uma aventura brasileira.

O Agente Secreto é mais uma aventura brasileira. Uma bela aventura brasileira em busca da nossa memória, tema que Kleber herdou da mãe e persegue obsessivamente.

Os que viveram no Brasil de 1977 se verão no filme. Mais ainda, os que estiveram no Recife de 1977. Mas O Agente Secreto é universal. É "Pernambuco falando para o mundo", como o slogan que se ouvia na Rádio Jornal do Commercio.

A conexão daquele tempo - o retrato oficial do presidente Geisel está sempre na parede - com o tempo atual se dá sutilmente, o público pode demorar um pouco a perceber.

Quando começa, as velhas fitas cassete de áudio se misturam com o telefone celular que está sobre a mesa e as telas diante das quais duas moças trabalham.

Está tudo conectado em O Agente Secreto. O Brasil de ontem com o Brasil de hoje. A memória e o apagamento dela. A menina atropelada pelo ônibus na ficção a lembrar a tragédia, na vida real, do menino que caiu do alto de um edifício no Recife.

Os filmes de Kleber Mendonça Filho são sobre cinema e são também sobre o Brasil. Esse Brasil que segue desigual e em permanentes impasses políticos.

O cinema de Kleber Mendonça Filho é perturbador. Você vai ao cinema ver um filme dirigido por ele e passa dias pensando no que viu. Kleber Mendonça Filho faz filmes que não saem das nossas cabeças. O Agente Secreto também é assim.

*****

Após muitas sessões de pré-estreia, O Agente Secreto tem sua estreia brasileira, em grande circuito com centenas de salas, nesta quinta-feira, seis de novembro de 2025.

Foto/Divulgação

Silvio Osias

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