SILVIO OSIAS
Hugo Motta não é do território de Ulysses Guimarães
O "ódio e nojo à ditadura" do Sr. Diretas não cabe no discurso do presidente da Câmara.
Publicado em 10/12/2025 às 11:57

Tenho 66 anos e acompanho a cena política desde que eu era menino. A estadual, a nacional e a internacional. Minha preferência sempre foi pela nacional.
No discurso de posse como presidente da Câmara, o deputado federal paraibano Hugo Motta citou o histórico "ódio e nojo à ditadura" de Ulysses Guimarães.
"Ódio e nojo à ditadura" - retrato da coragem e do compromisso de Ulysses Guimarães com a democracia. Foi na promulgação da Constituição, em outubro de 1988.
Comentei com um jornalista da área política: "Os caminhos que levaram Hugo Motta à presidência da Câmara não o credenciam a citar Ulysses Guimarães".
O colega discordou. Disse que Motta estava marcando território. Mas segui com a opinião de que o deputado paraibano estava pronunciando o nome do Sr. Diretas em vão.
Não foi difícil comprovar. Falas e atitudes de Hugo Motta logo demonstraram. Na melhor das hipóteses, as falas, se boas, não combinavam com as atitudes.
Um dia desses, não faz muito tempo, deputados da extrema direita ocuparam a mesa diretora da casa. O momento em que Hugo Motta voltou a sentar na sua cadeira gerou imagens que puseram em cheque a sua autoridade para comandar a Câmara.
Nesta terça-feira, nove de dezembro de 2025, o deputado do PSOL Glauber Braga, às vésperas de uma muito provável cassação, ocupou a cadeira de Hugo Motta.
Os deputados da extrema direita que ocuparam a mesa da casa não foram punidos exemplarmente como deveriam, imediatamente, ter sido.
Com Glauber Braga, foi bem diferente. A imprensa foi retirada das galerias, o sinal da TV Câmara foi cortado, e o deputado foi arrastado com truculência pela polícia legislativa.
Os deputados da extrema direita não poderiam ter ocupado a mesa diretora da Câmara. O deputado Glauber Braga não poderia ter ocupado a cadeira da presidência.
Estão todos errados. Os da direita e o da esquerda. Mas o tratamento dispensado aos da direita não foi igual ao tratamento dispensado ao da esquerda.
É aí que fica fácil constatar que o "ódio e nojo à ditadura" não cabe no discurso de Hugo Motta. O deputado Hugo Motta não pertence ao mesmo território do imenso Dr. Ulysses.

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