SILVIO OSIAS
Não foi o TOC de Roberto Carlos que tirou o "ruim" da letra de Chove Chuva
Especial de número 51 teve Sophie Charlotte cantando duas músicas com o Rei.
Publicado em 24/12/2025 às 6:48 | Atualizado em 24/12/2025 às 8:09

O especial de número 50 de Roberto Carlos na TV Globo foi ao ar em 2024. Disseram que seria o último. Não era. Gravado em Gramado, o programa de número 51 foi exibido nesta terça-feira, 23 de dezembro de 2025.
Durante décadas, o disco de final de ano de Roberto Carlos foi uma tradição no Natal dos brasileiros. O próprio artista quebrou a tradição. Não há mais disco de final de ano desde antes da consolidação do streaming. Mas o especial da Globo resiste.
O programa de 2025 teve uma cena inicial - Roberto dirigindo seu Cadillac 1960 pelas ruas de Gramado - e seguiu com um show que durou pouco mais de 70 minutos.
Foi um especial enxuto. Sem firulas. Creio que o melhor dos últimos anos. Roberto Carlos, os clássicos do seu repertório e seus convidados, de Jorge Benjor e João Gomes.
Li numa grande revista que o transtorno obsessivo compulsivo levou Roberto Carlos a tirar a palavra "ruim" da expressão "chuva ruim" da letra de Chove Chuva.
Chove Chuva é um dos grandes sucessos de Jorge Benjor. Lançada em 1963 no álbum Samba Esquema Novo, é do tempo em que Benjor não era Benjor, apenas Ben.
"Por favor chuva ruim/Não molhe mais o meu amor assim" - diz a letra original. Ao longo dos anos, Jorge Benjor andando mexendo nas suas letras. Fez isso com País Tropical, com Fio Maravilha, com Que Maravilha e também com Chove Chuva.
Benjor fez isso com suas músicas antes que Roberto Carlos fizesse com as dele, aí sim, motivado pelo TOC. Mas a revista está desinformada, o que é comum no jornalismo que se faz hoje em dia. Quem tirou o "ruim" de Chove Chuva foi Benjor. E faz tempo.
Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben, Tim Maia - todos eram da turma da Tijuca no início dos anos 1960, antes da fama. Roberto, 84 anos, e Benjor, 86, são compadres. É bonito vê-los juntos no palco fazendo Eu Sou Terrível e Chove Chuva.
No momento em que dialogou com o rock, Roberto Carlos teve Supla como convidado. Fizeram um medley de clássicos do repertório de Elvis num encontro tão inusitado quanto o do Rei com João Gomes, que entrou na cota do artista em evidência.
Mas ambos - Supla e João Gomes - se saíram bem. Distantes em praias e idades, o paulista do rock e o pernambucano que se projetou no piseiro curtiram o momento e exibiram o respeito e a reverência que todos devem a Roberto Carlos.
Fafá de Belém não precisa exibir reverência. Com sua bela voz, está na MPB desde os anos 1970. Diferente de Sophie Charlotte. Mesmo participando pela terceira vez de um especial de Roberto Carlos, ela ainda parece incrédula, como se estivesse sonhando.
Mas Charlotte merece. Se consolidou como ótima atriz e gosta de cantar. Fez Gal Costa no cinema e usou a própria voz nos números musicais de Meu Nome é Gal.
Sophie Charlotte chamou a atenção de Roberto Carlos quando cantou Sua Estupidez no remake de O Rebu, em 2014. No mesmo ano, já estava no especial do Rei.
Agora em 2025, Charlotte é Gerluce em As Três Graças. Proposta é o tema de Gerluce e Paulinho. A Globo queria que Roberto Carlos regravasse a música, originalmente lançada em 1973. Ele topou, mas quis que fosse em dueto com Sophie Charlotte.
No especial, Roberto e Sophie fizeram Proposta e As Canções que Você Fez Pra Mim, de 1968. Desde que foi gravada por Maria Bethânia, As Canções que Você Fez Pra Mim deixou de ser uma balada soul para se transformar num blues.
Em 2025, o especial de Roberto Carlos teve várias de suas canções de inspiração religiosa: Fé, Luz Divina, Nossa Senhora, Meu Menino Jesus e Jesus Cristo.
E, no final, teve o maior clássico do repertório natalino - Noite Feliz. O nome da canção deu título ao programa. Que tenha sido uma noite feliz para quem ama o Rei.

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