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VIDA URBANA

Dia Mundial de Combate às Drogas: histórias de quem viveu e superou o vício

Para marcar a data, trazemos relatos de um ex-viciado, ainda em tratamento, e uma mãe que perdeu o filho, assassinado aos 22 anos.

Publicado em 26/06/2015 às 18:00

“A pessoa que usa drogas não vive, vegeta”. Usuário de drogas há mais de 20 anos, João Evangelista de Araújo, de 39 anos, reflete e relata que nunca viveu bem. "Tenho apenas lembranças ruins. A pior é a da mãe chorando quando eu estava em crise". Ao todo, foram 21 anos de 'vegetação', como ele próprio faz questão de descrever.

Nesse meio tempo usou maconha, cocaína, crack, além do cigarro e do álcool. Foi traficante, além de consumidor, chegou a ser preso e quase foi morto por dívida de droga.

João conta que ficou curioso pra saber o gosto da maconha e, no auge da juventude, aos 18, fumou o primeiro ‘baseado’. “Agora eu vou ter que carregar essa doença até o resto da minha vida”, afirma ele, que está a um mês do término de seu tratamento, e há oito meses 'limpo'.

Até entender que não conseguia mais parar de usar drogas, assim como dizia a mãe, quando o aconselhava a não sair nas noites em que ela sabia que o filho ia à procura de sustentar o vício, João chegou ao 'fundo do poço'.

A sensação de liberdade que sentia com os efeitos da droga o fez prisioneiro, literalmente. Ele conta que tinha dias que não podia sair de casa porque estava devendo aos traficantes e tinha medo de pagar com a vida, já que estava sob ameaças.

Por não conseguir passar mais de 15 dias sem usar drogas, ele roubava os objetos de dentro de casa, furtava o dinheiro da mãe e ia alimentar a 'curiosidade' que o tornou dependente químico.

João está em tratamento no Instituto Manassés há 8 meses, quer começar do zero e conquistar tudo o que perdeu. (Foto: Francisco França)

Pai de uma adolescente de 16 anos e de um rapaz de 14, cujo crescimento ele não acompanhou por causa do vício, João conta que foi justamente por não querer mais ver os familiares, principalmente a mãe, sofrerem, que ele pediu socorro e procurou ajuda em uma instituição de tratamento a dependentes químicos.

Foi assim que chegou ao centro terapêutico Instituto Manassés, que, conforme a direção da instituição, oferece tratamento baseado apenas na fé, sem uso de medicamentos, e com permanência gratuita.

“Quando cheguei eu achava que não ia conseguir, que não ia passar nem seis meses e ia voltar”, confessa João, que com orgulho replica: “agora, livre das drogas, eu só penso em recuperar o tempo perdido. Reconquistar a confiança da minha mãe. Assumir meu papel de pai e até ser exemplo para outras pessoas que estão no mundo das drogas”.

“Transformei meu luto em luta”
A professora Graça Maurício, de 50 anos, mesmo com todas as tentativas de tirar o filho das drogas, o viu assassinado. Depois disso, para não ver a história se repetir, resolveu ajudar famílias que vivem a mesma situação.

“Apesar do sofrimento de ver um filho assassinado, pra mim, seria pior se ele fosse o assassino do filho de outra mãe”. A frase de Graça expõe os possíveis caminhos que o filho, Halyson Maurício, morto aos 22 anos, pôde seguir, desde que se tornou usuário de droga, aos 12 anos.

Até ver o desfecho mais temido por todas as mães, como classifica ela, a professora conta como foi esse período em que foi 'codependente das drogas'. Ela descobriu desde o começo que o filho estava envolvido com substâncias químicas, e então passou a acompanhá-lo, aconselhá-lo e fazer tudo o que podia para que ele não se autodestruísse. Com isso, achou que ele tinha parado, mas percebeu que nada havia mudado quando os objetos de dentro de casa começaram a sumir.

Com 15 anos, Halison tornou-se viciado em crack. “Ele dizia: mãe, me ajuda! E isso era angustiante, uma mãe ver o filho naquele estado e não poder fazer nada”, desabafa, mesmo ressaltando ter procurado ajuda nos centros de tratamentos a dependentes químicos de João Pessoa.

“Eu tentei autorização para o internato compulsório (contra a vontade) dele, mas, quando ele veio se aprofundar mesmo, já era maior de idade e o promotor não autorizou. O internato tinha que ser voluntário”, explica. “A gente sofre por eles. Sofre pelas consequências. Por não poder fazer quase nada.”.

No dia em que ele foi morto, ela disse que teve um pressentimento e que chegou ver a cena. Aflita, pediu pra que ele não saísse de casa naquele dia. Ele concordou, mas no início da noite ele contou que ia na casa de um amigo e que voltava logo. E não voltou.

“Por volta de 1h da madrugada, o segurança bateu na minha porta e disse: você tem um filho que usa drogas. Eu disse que sim. Ele disse: você vai ter que ser forte. Aí eu já sabia o que ele ia dizer. Meu filho tinha morrido”, lembra Graça.

Até hoje, ela diz que não se sabe ao certo o motivo do assassinato, apesar dos suspeitos estarem presos, mas sente que o crime foi associado ao vício. “As drogas tiraram a vida do meu filho desde quando ele era criança”, destaca.

Mesmo com o sofrimento e a ferida ainda aberta, ela teve forças para tentar transformar a vida de outras pessoas. Apó se unir ao padre da comunidade em que mora, em Santa Rita, Graça iniciou atividades de apoio às famílias dos dependentes químicos da cidade, com a Pastoral da Sobriedade, que, reúne, segundo ela, em sua maioria codependentes de drogas mas raramente os próprios dependentes.

Do experimento à dependência química
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência química é definida pela 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância. Esse consumo pode ser de uma substância psicoativa específica ou de um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.

As histórias de João e Halyson por si só já poderiam explicar quais são as consequências do uso exagerado e contínuo das drogas. Mas, conforme a OMS, é importante ressaltar que os efeitos delas alteram em grande escala o organismo do dependente, além de agir no sistema nervoso, mudando o comportamento e o estado mental.

Identificar-se como dependente químico não é difícil, segundo a psicóloga Marisa de Abreu. É só o usuário de algum componente químico reconhecer que não consegue mais ter controle sobre o consumo. E isso, de acordo com ela, é o mais difícil. “Geralmente eles acham que não precisam de ajuda, que quando quiser pode deixar de usar, mas aí o estado clínico deles só piora”, explica.

Dependência química é considerada doença pela Organização Mundial da Saúde. (Foto: Francisco França)

Dia Mundial de Combate às Drogas: a luta e o tratamento
De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas de 2014, o uso de drogas em todo o mundo permanece estável. Cerca de 243 milhões de pessoas, ou 5% da população global entre 15 e 64 anos de idade, usaram drogas ilícitas em 2012. Pessoas que apresentaram problemas graves como vício, por outro lado, chegaram a atingir cerca de 27 milhões, 0,6% da população adulta mundial - ou 1 a cada 200 pessoas.

Com o objetivo de chamar a atenção para a questão, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o dia 26 de junho como o Dia Internacional da Luta contra o Uso e o Tráfico de Drogas. No Brasil, os índices mostram que o país já é o quinto maior em números de mortes por causa das drogas, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social.

Há 30 anos envolvido no combate às drogas, o psicólogo especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa Deusimar Wanderley afirma que o maior vilão da luta é o tráfico. Segundo ele, a comercialização proibida das substâncias geram muitos lucros e a falta de integração dos poderes públicos facilitam esse comércio.

“Os poderes agem pouco e de forma desintegrada, se, se unissem em prol do combate poderiamos ter uma diminuição no tráfico e, consequentemente, no número de usuários”, opina. “Ampliação do efetivo policial nas fronteiras, por exemplo, seria uma medida eficaz”, acrescenta.

Atualmente, Deusimar preside a Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e à frente da pasta, realiza palestras, fóruns, eventos, tentando fazer a integração entre os órgãos.

A problemática, conforme o psicólogo, também envolve o descobrimento tardio da família em relação ao usuário de drogas. Ele estima que apenas três anos depois do início do uso é que a família descobre e tenta intervir. Por isso, alerta para os sinais da dependência dentro de casa.

Brasil é o quinto país em usuários de drogas, diz levantamento da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. (Foto: Francisco França)

Tratamento Gratuito
Na Paraiba, um tratamento gratuito é oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (CAPSAD 24 horas) para atender a dependentes químicos. De acordo com a diretora do Caps, Marileide Martins, não são todos os usuários que precisam de internação. Alguns vão à unidade e passam apenas pelo processo de desintoxicação.

No entanto, caso haja transtorno comportamental, a internação, que varia em cada caso, é necessária, conforme ela. Para ter acesso a essa internação, o usuário que mora na capital precisa ter em mãos um encaminhamento no Pronto Atendimento de Saúde Mental. Já quem mora em outros municípios deve ir direto para o Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, onde existe uma área específico para realizar o tratamento.

O CAPSAD, ainda de acordo com a diretora, atualmente, tem 600 internos, sendo o único pólo de tratamento do governo na Paraíba com uso de medicamentos e assistência com psiquiatras e psicólogos.

No Estado, pacientes podem procurar o CAPSAD, que funciona 24 horas e oferece atendimento a dependentes químicos. (Foto: Francisco França)

Centros de Recuperação
. Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira:Av. Dom Pedro II, 1826 – Torre, João Pessoa
. CAPS AD Estadual: Av. Sinésio Guimarães, 163 - Torre, João Pessoa
. Instituo Manassés: Av. Piauí, 176 – Estados, João Pessoa
. Fazenda Esperança: Escritório: Igreja Santa Júlia – Av. Júlia Freire – Torre – João Pessoa.
. Fundação Cidade Viva: R. Luzia Simões Bertoline, 100 - Aeroclube, João Pessoa
. Casa de Saúde São Pedro: Av. Pres. Epitácio Pessoa, 1312 - Centro, João Pessoa

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Jornal da Paraíba

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