VIDA URBANA
Fim do lixão gera medo em Campina Grande
Maioria da população do bairro do Mutirão vive de reciclagem. Iminência do fim do lixão cria incertezas sobre futuro.
Publicado em 18/12/2011 às 8:00
O bairro do Mutirão, em Campina Grande, está localizado entre o presídio do Serrotão e o lixão da Alça Sudoeste. A área até parece ter sido 'contaminada' pelos graves problemas sociais apresentados por esses dois ambientes.
Na localidade, a maioria da população sobrevive da reciclagem. Não por acaso, apesar de admitirem as dificuldades inerentes à profissão, ao falarem sobre o lixão, os moradores expressam um sentimento semelhante ao do sertanejo quando fala de chuva. Por isso, a iminência do fim do lixão da Alça Sudoeste cria muitas incertezas em relação ao futuro.
“A gente dá graças a Deus pelo lixão. É de lá que eu tiro o sustento da minha família. Não quero que meus filhos tenham o mesmo destino que o meu, mas tenho é que agradecer por ter essa renda”, conta o reciclador Jailton Pedro da Silva, de 34 anos.
Ele cresceu em um barraco localizado dentro do lixão e há alguns anos se mudou para o Mutirão do Serrotão. Vivendo com a mulher e três filhos, ele disse que consegue cerca de R$ 150 por semana com a reciclagem e está com medo de perder o trabalho, depois que o lixão for fechado, no próximo dia 2 de janeiro.
A pouca escolaridade dos moradores, que aprenderam desde muito cedo a enxergar no lixo o “pão nosso de cada dia”, como classifica a catadora Maria das Dores Vieira, de 31 anos, junto com as dificuldades enfrentadas levaram os moradores a indagar o que acontecerá com as famílias depois que o lixão acabar.
“Hoje em dia, a gente faz nosso próprio trabalho. Sai de casa cedo pra catar recicláveis, com a certeza de que vamos ter dinheiro no final de semana para fazer a feira. Será que sem o lixão ainda vai ser desse jeito?”, indaga o reciclador Antônio Vieira Neto, de 39 anos.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) está realizando um cadastro para saber a quantidade de catadores que existe no local, que concentra quase todos os profissionais que trabalham no lixão, mas admite que essa quantidade supera os 300.
Já os moradores falam em algo em torno de 500 catadores, que viveriam diretamente ligados à coleta dos resíduos sólidos. O órgão não dispõe de dados oficiais sobre quantas famílias dependem do lixão para sobreviver.
A Semas disse que está estudando uma forma de garantir que os recicladores continuem trabalhando. Enquanto se define de que forma os catadores terão acesso ao lixo, antes de ele começar a ser levado para o aterro sanitário de Puxinanã, pelo menos uma cesta básica está garantida para as famílias que dependem da reciclagem.
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