CULTURA
O livro sonoro de Augusto dos Anjos
Em homenagem ao centenário do 'paraibano do século', concerto 'Eu, Augusto', irá musicalizar poemas de Augusto dos Anjos.
Publicado em 18/08/2012 às 6:00
Transformar um lugar em uma espécie de ‘livro sonoro’. Esta é a proposta do maestro paraibano Eli-Eri Moura sobre o concerto de homenagem ao centenário de publicação do livro Eu, de Augusto dos Anjos (1884-1914).
Batizado de Eu, Augusto, a apresentação gratuita será neste sábado e domingo, sempre às 17h, no auditório da Estação Cabo Branco, no Altiplano, em João Pessoa.
A concepção do espetáculo é, no mínimo, arrojada: são cerca de 60 pessoas na performance para musicalizar os poemas do ‘paraibano do século’, quebrando o tradicionalismo dos concertos no que remete não só às posições dos músicos e do público, como também agregar elementos contemporâneos como a música eletrônica. “É algo bastante comum em espetáculos pelo mundo, mas acho que nunca foi feito por aqui”, pensa o maestro Eli-Eri. “A ideia surgiu na música eletro-acústica, mas não é nova. (Giovanni) Gabrieli (1555-1612) já fazia isso colocando os músicos e o coral de um lado e do outro da igreja. Nós aqui estamos exagerando.”
De acordo com o idealizador, a música vai passear pelo recinto.
Os instrumentistas da Orquestra de Câmara da cidade de João Pessoa serão espalhados pelo auditório e também sentados na plateia estrategicamente para criar uma ‘espacialização’ do som.
“Geralmente, o espectador tem uma perspectiva do som vindo em uma única direção”, esclarece o regente. “O desafio de cada compositor é fazer os poemas de Augusto dos Anjos se ‘espalharem’ e ‘andarem’ pela sala, carregando os seus pedaços, fazendo círculos pelo público e se perdendo pelos caminhos.”
Eu, Augusto é uma obra coletiva produzida por dez compositores oriundos da linha erudita e popular, residentes em João Pessoa. A maioria são membros do Laboratório de Composição Musical (Compomus) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB): Arimateia de Melo, Didier Guigue, Escurinho, Esmeraldo Marques, J. Orlando Alves, Marcílio Onofre, Rogério Borges, Valério Fiel e Wilson Guerreiro, além do próprio Eli-Eri.
Além da orquestra, os músicos convidados, Escurinho, Esmeraldo Marques e Didier Guigue, vão unir forças para o espetáculo inédito em terras paraibanas junto com o Coro Sonantis, grupo pertencente ao Compomus-UFPB.
'ELECTRO MUSIC'
A transformação sonora será em cima dos versos de obras como ‘O Morcego’, ‘Caixão Fantástico’, ‘Poema Negro’, ‘Idealização da Humanidade Futura’, ‘Solitário’, ‘Vozes da Morte’, ‘A ideia’, ‘Idealismo’, ‘Debaixo do Tamarindo’, ‘A Árvore da Serra’, ‘Noite no Cairo’, ‘Insônia’, ‘Barcarola’, ‘Budismo Moderno’, ‘Sobre o Vento’ e ‘Os Doentes’.
Eli-Eri Moura revela que essas novas visões de Augusto dos Anjos não carregarão o tom lúgubre e melancólico, presentes nos seus escritos. “Seria muito clichê se fosse pesado ou ‘dark’ se fôssemos por esse caminho", afirma. "A poesia de Augusto – com todo seu lado metafísico e transcendental – cai como uma luva na proposta da linguagem musical que estamos utilizando.
Se fosse uma poesia mais linear e convencional seria mais complicado executá-la."
Sob a direção cênica de Jorge Bweres, haverá também a presença de dois atores, que tomarão tanto o palco principal como o palco atrás, nas últimas fileiras de poltronas do auditório.
O casal André Morais e Cely Farias tanto declamarão como encenarão (e, por vezes, os dois juntos) as passagens idealizadas pelo poeta paraibano, segundo o maestro.
Por ser um espetáculo que não se centra em nenhum lugar específico, o espectador vai procurar as ações na execução de Eu, Augusto.
Somando ao som acústico proveniente da Orquestra de Câmara, a música eletrônica será manipulada em tempo real pelos compositores Marcílio Onofre e Valério Fiel, e os sintetizadores do Esmeraldo Rodrigues (Chico Corrêa & Eletronic Band). Assim como os músicos da orquestra, as caixas de som também serão espalhadas pelo local. Tudo em combinação com um trabalho especial de iluminação assinado também por Jorge Bweres.
O concerto-homenagem aos 100 anos do Eu é uma realização da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), com apoio da UFPB.
Serviço
• EU, AUGUSTO. No Auditório da Estação Ciência (Av. João Cirillo da Silva, s/n, Altiplano Cabo Branco, João Pessoa), neste sábado e domingo, sempre às 17h. Gratuito.
Comentários