CULTURA
Amy Winehouse faz 1º show no Brasil em clima de 'ano novo, vida nova'
De branco, assim como sua banda, ela se mostrou sorridente e saudável. Show da performática Janelle Monáe roubou a cena em Florianópolis.
Publicado em 09/01/2011 às 11:32
Do G1
Ela avisou que era encrenqueira, mas os produtores musicais brasileiros não fizeram muita questão de escutá-la. Ainda bem. No primeiro show de sua turnê brasileira que passará por mais três capitais nos próximos dias, Amy Winehouse não teve nada da Amy Winehouse dos últimos anos, mas sim da Amy Winehouse pós “Frank”(2003) e pré “Back to black” (2006).
Pontual, sorridente e saudável, a cantora britânica fez neste sábado (8), em Florianópolis (SC), uma apresentação correta, que não teve muito da energia que marcou os shows de abertura das revelações soul Mayer Hawthorne e Janelle Monáe, mas deu ao público muita emoção. Cada gole que a artista dava em uma garrafa de água mineral, por exemplo, era comemorado como um gol pelos fãs (torcedores?) que lotaram a casa noturna Pacha.
Amy cantou muito e mostrou que, sim, está em recuperação. Mas quem roubou a cena e o título de show da noite foi uma certa Janelle: com seus sapatos bicolores, topete que desafia as leis da física e muito suingue, a cantora silenciou aqueles que minutos antes satirizavam seu nome. Foi um cartão de boas-vindas daqueles para quem nunca tinha escutado seu som.
Geek-chic
O primeiro show do Summer Soul Festival coube ao jovem Mayer Hawthorne. Com um visual geek-chic, de gravata borboleta dourada, terno cinza claro e óculos de acetato, ele fez o público mexer os quadris assim que as batidas de “Easy lovin” começaram pontualmente às 22h10.
“Quem não quiser dançar e celebrar a vida que vá lá para o fundo”, avisou, antes de emendar com as também dançantes “Make her mine” e “Maybe so, maybe no”.
Esperto, Hawthorne soube usar de seu carisma para conquistar o público – muitas pessoas que não o conheciam chegaram a ignorar a pista ao céu aberto para ver um DJ se apresentar dentro da balada. O repertório? Remixes de hits de rádio, como “Use somebody” (Kings of Leon) e “Viva la vida” (Coldplay)...
Se deu bem quem decidiu passar calor do lado de fora. O cantor interagiu o tempo todo com o público (em “I wish it would rain” estimulou uma curiosa coreografia feita apenas com as mãos) e contou causos, como o da ex-namorada que lhe inspirou a escrever a triste “Just ain’t gonna work out” e o de sua divertida chegada ao aeroporto brasileiro: um funcionário lhe pediu um autógrafo, acreditando que ele fosse o ator Tobey Maguire.
Também cantou rapidamente duas covers de Snoop Dogg (“Gangsta luv” e “Beautiful”) e mostrou uma inédita, “No strings”. Quem era fã de seu trabalho estranhou a ausência da balada “Strange arrengement”, nome de seu primeiro e único álbum de trabalho – cujo vinil, em formato de coração, foi arremessado para a plateia ao fim da apresentação.
Furacão Janelle
Às 23h30 foi a vez de Janelle Monáe se revelar ao público catarinense. Se não fosse pela figura excêntrica e até andrógina da crooner, sua animada big band de apoio poderia muito bem se passar pela de Hawthorne – o figurino era igual: camisa branca com gravata preta fininha.
Com a música de sugestivo nome “Dance or die” (dance ou morra), a cantora precisou de 5 minutos para ter a plateia na mão. A elegante Janelle literalmente deu show: exibiu seus dotes vocais em todos os ritmos possíveis, mostrou que sabe ser performática no palco (usa máscaras, capas, tem incrível expressão corporal e chega a pintar um quadro!) e, comprovando a fama de pé de valsa, sapateou muito e até moonwalk fez.
"Smile”, belíssima versão guitarra/voz para o clássico de Charles Chaplin, serviu para acalmar o ânimo da plateia, ainda desconcertada pela sequência inicial “Faster” e “Locke inside”. Dos três artistas da noite, ela foi a única a utilizar um telão ao fundo como apoio. Ele exibia de cenas de dança de salão (“Wondaland”) a curtas futuristas gravados com a artista, cujo último CD é inspirado no filme “Metrópolis”.
Janelle cantou menos de 10 músicas e nem precisava de mais. O final com “Cold war” emendado a “Tightrope” foi apoteótico e nem seu intocável topete conseguiu ficar parado. Curiosidade: ela não trocou mais que cinco palavras com o público, que fez questão de ovacioná-la ao final do show de 1 hora.
‘Oi, Floripa: this is Miss Amy Winehouse’
À 0h50 não tinha mais ninguém dentro da balada: todos estavam apertados, suando em frente ao palco para ver ela, a grande estrela da noite. “Oi, Floripa! This is Miss Amy Winehouse”, anunciou um dos backing vocals da cantora que, assim como a banda, usou um figurino claro, quase todo branco.
Com esse visual “ano novo, vida nova”, Amy elencou três hits de “Back to black” logo de cara: “Just friends”, “Back to black” e “Tears dry on their own” – essa última cantada em uníssono. Já o disco “Frank” foi totalmente ignorado.
Amy sorriu durante diversos momentos e se mostrou moleca, algo condizente com o tamanhico que tem. Parecia uma criança que vive em um mundo à parte: às vezes cantava para o chão, noutras fitava o horizonte. Quando passou o microfone para seu backing vocal Zalon se apresentar (“Everybody here wants you” e “What’s a man going to do”), sentou-se perto da bateria e ficou balançando as sapatilhas de bailarina no ar.
E para quem achava que sua voz jamais seria a mesma após tantos anos de abusos, Amy deu uma bela resposta. O timbre rasgado ela não perdeu, pelo contrário, ficou ainda melhor, principalmente nos momentos em que seu repertório cai mais para o blues e o jazz (vide “Some unholy war” e “Love is a loosing game”).
Mesmo assim é um pouco triste notar que ela precisa de uma cola para lembrar as letras (caso da nova “Boulevard of broken dreams”, em que errou a introdução) e da ajuda dos competentes vocalistas de apoio, que fazer o coro ao mesmo tempo que a resgatam quando ela esquece alguma parte.
Em dois momentos Amy também saiu rapidamente do palco, o que fez sua banda improvisar uma jam session. Para alívio geral ela retornava saltitante, fazendo gargarejo com água (cena que se repetiu inúmeras vezes).
Esses erros são perdoáveis quando se depara com uma artista como Amy. Ela claramente nasceu pra cantar. Pedir palminhas, realizar coreografias, isso não é com ela. Ela é tímida no palco, parece não se sentir à vontade ali, mas quando abre a boca... Seu instrumento é a voz e basta. Foi assim que ela criou um som original que atraiu até Florianópolis de jovens a senhores de idade (do Brasil e de outros países).
Para finalizar o show de 1h10, Amy escolheu “Rehab”, “I’m no good”, “Me and Mr. Jones”, “You’re wondering now” e “Valerie”. Assim, no auge da apresentação, despediu-se e foi embora, deixando a sensação de que o show deste sábado foi um simples aquecimento do que virá por aí.
Torcida para que isso aconteça ela tem de sobra.
Comentários