POLÍTICA
Sessão conjunta faz homenagem ao senador Humberto Lucena nesta sexta
Político que se projetou nacionalmente tinha índole combativa e espírito conciliador.
Publicado em 13/04/2018 às 7:00 | Atualizado em 13/04/2018 às 15:09
Os 20 anos de morte do senador Humberto Lucena vão ser lembrados por uma sessão conjunta entre a Câmara Municipal de João Pessoa e a Assembleia Legislativa nesta sexta-feira (13). A solenidade acontece no Plenário Senador Humberto Lucena, na sede do Legislativo Municipal, às 9h30. O evento pretende fazer uma homenagem à família do Senador.
Ao longo de mais de 45 anos de vida pública, Humberto Lucena exerceu por dois mandatos consecutivos o cargo de deputado estadual, foi por quatro mandatos deputado federal e por três vezes senador da República. No Senado Federal, ele foi o primeiro paraibano a assumir o cargo de Presidente do Senado e, portanto, presidente do Congresso Nacional.
Desde o seu nascimento, Humberto Lucena esteve envolto da política. O historiador José Octávio de Arruda Mello recorda que o avô de Humberto Lucena, Solon de Barbosa Lucena foi governador da Paraíba de 1920 a 1924. Seu pai, Severino de Albuquerque Lucena era primo do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, e também exerceu um mandato de deputado estadual. Sua mãe, Maria Hylda Neves Coutinho de Lucena era a presidente da ala feminina do Partido Social Democrático (PSD).
José Octávio conta que Humberto Lucena começou a participar ativamente da política ainda na adolescência, quando estudava no Lyceu Paraibano. “Ele formou junto com inúmeros colegas a ala moça do PSD, que mantinha inclusive um programa na rádio Tabajara ‘Alô Mocidade’ e na rádio ele teve o seu primeiro emprego”, lembra.
‘Homem do Legislativo’
Aos 22 anos, Humberto participou da primeira disputa por um cargo eletivo. Em 1950, segundo o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, ele concorreu ao cargo de deputado estadual pela Coligação Democrática Cristã, formada pelos partidos PSD e PS. Na ocasião, ele obteve 2.356 votos, ficando na segunda suplência por uma cadeira na Assembléia Legislativa da Paraíba.
O destino, no entanto, se encarregou de fazê-lo assumir o seu primeiro mandato. José Octávio esclarece que dois fatos ocorreram para que ele assumisse como deputado, um desses fatos foi a morte de Pedro de Almeida, vítima de um acidente fatal e outro foi o convite que Pedro Gondim recebeu de José Américo de Almeida, então governador da Paraíba, para assumir a Secretaria de Agricultura do Estado.
Daquele momento em diante, Humberto Lucena construiu uma carreira política ascendente. Em 1954, foi reeleito como o deputado estadual mais votado da Paraíba. Quatro anos depois, em 1958, foi eleito deputado federal, ficando no cargo até 1970, quando disputa pela primeira vez o cargo de senador. Não obtendo êxito na eleição, retoma a Câmara dos Deputados em 1974. Na eleição seguinte, em 1978, com o apoio das sublegendas do MDB, é eleito senador da República.
Em 1987, ao assumir para o seu segundo mandato como senador, lhe foi incumbida uma nova missão: presidir o Congresso Nacional no momento em que se instalava, também, a Assembléia Constituinte. Em seu discurso de posse no cargo ele ressalta o que significava para ele chegar ao auge na carreira de qualquer legislador.
“A minha vida de homem público foi construída nas casas legislativas e em todas elas tive a honra de exercer a liderança de meu partido, inclusive em momentos difíceis e graves de nossa recente história política. Desnecessário se torna, portanto, insistir no quanto significa para mim - homem do Legislativo - assumir a Presidência do Senado, principalmente no momento em que instalamos também a Assembléia Nacional Constituinte”.
Homem de Partido
Em toda a sua trajetória política, Humberto Lucena sempre fez parte de um mesmo grupo político. Iniciou a carreira no extinto PSD, com a ditadura militar filiou-se ao MDB e com a redemocratização seguiu filiado ao PMDB. O historiador José Octávio relembra que Humberto Lucena apenas assumiu a presidência do MDB com a morte de Rui Carneiro. “Rui Carneiro morreu em 1978, deixando na presidência do partido, na Paraíba, Humberto Lucena. Mas, muito antes disso, Humberto já liderava o partido”, diz.
O jornalista Nonato Guedes lembra que brincava com Humberto Lucena, chamando-o de “algodão de cristais” por sua habilidade de contornar as situações mais complicadas dentro do partido. “Ele [Humberto Lucena] era muito articulador, o partido pegando fogo aqui na Paraíba, quando ele chegava dizia que estava tudo bem, porque sabia que conseguiria contornar a situação”, recorda.
Da sua relação com o partido, sua filha, Iraê Heusi Lucena, relembra que ele era uma pessoa muito partidária e que muitas vezes precisou abrir mão de seus sonhos em favor do que era melhor para o partido. “Ele era muito partidário, para ele o partido estava acima de tudo. O que fez ele abrir mão do grande sonho de governar o Estado dele. Por duas vezes ele teve a oportunidade, mas para garantir a unidade e a concisão do partido, morreu sem realizar o seu grande sonho”, afirma.
Para a Iraê Lucena, um dos momentos que representa a ligação de seu pai com o partido se deu quando ele teve o mandato cassado pelo uso da gráfica do Senado para imprimir calendários. Na época, diversos políticos do PMDB e até de outros partidos atuaram em seu favor. A filha dele lembra do memorável discurso que Antônio Mariz fez no Senado em defesa do Humberto. “Graças a Deus tudo foi resolvido, meu pai chegou a ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas o Congresso deu a anistia a ele. A gente acredita até que isso acelerou a morte dele, devido à decepção que foi o fato para ele”, relembra.
Homem de Família
Foi no exercício de seu primeiro mandato como deputado estadual que Humberto Lucena viria a conhecer a sua companheira por toda a vida, Ruth Maria Heusi. O casamento dos dois aconteceu em 22 de dezembro de 1953, na Igreja de São Pedro Apóstolono Rio de Janeiro. Do casamento nasceram quatro filhos: Lisle, os gêmeos Humberto Júnior e Iraê, e a caçula Thaís.
A filha caçula Thaís Lucena diz que além dos ensinamentos políticos, Humberto Lucena, ensinou aos quatro filhos valores que eles buscam reproduzir. “Ele era um pai muito amoroso. Nos deixou valiosos ensinamentos de honestidade, de lealdade e de retidão na nossa vida”.
Dos quatro filhos, apenas Iraê decidiu seguir os passos do pai e seguir a carreira política. “Ele sempre foi resistente a eu entrar na política, dizia que não gostava de fazer política em família. Mas ele viu o meu trabalho, viu que eu gostava e ficou orgulhoso, mas ele não conseguiu me ver eleita, ele morreu em abril de 1998 e me elegi em outubro”, lamenta.
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