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VIDA URBANA

São 390 pretendentes habilitados e 58 crianças disponíveis. Por que a conta não fecha?

Tudo se explica por conta do perfil que os pretendentes escolhem para o futuro filho que desejam ter. Muitos optam pelos mais novos ou bebês.

Publicado em 15/11/2015 às 7:00

Se tivermos acesso aos números do Cadastro Nacional de Adoção e formos conferir a realidade da Paraíba, à primeira vista, a conta causa uma certa confusão: acontece que, de acordo com o cadastro, há um total de 390 pretendentes habilitados a adotar uma criança, enquanto que, na outra ponta, há somente 58 crianças disponíveis à adoção. Se o número de pretendentes é maior que o de crianças, por que, então, há, ainda, tantas crianças nas casas de acolhimento? Essa, infelizmente, é uma conta que não fecha: tudo se explica por conta do perfil que os pretendentes escolhem para o futuro filho que desejam ter.

Dos 390 pretentendes, apenas 61 deles aceitam crianças que tenham mais de seis anos de idade, ou seja, um total de 329 pretendentes optam por crianças que tenham até, no máximo 5 anos. Do outro lado da conta, no entanto, o maior número de crianças já passou dos cinco anos. De acordo com os dados do mesmo cadastro, apenas 11 crianças possuem esse perfil - todas as outras já passaram dessa idade.

Dois outros detalhes, ainda, complicam a mesma conta: trata-se da questão da raça e o fato das crianças terem ou não terem irmãos. De acordo com o juiz Adhailton Lacet Porto, titular da 1ª Vara da Infância e Juventude da Capital, a preferência dos casais é, na maioria das vezes, por crianças da raça branca. Segundo consta nos dados do CNA, no entanto, das 58 crianças que estão disponíveis para adoção, somente 16 são da raça branca, sendo 7 da raça negra e outras 35 da raça parda. Além disso, das 58, 50 possuem irmãos, enquanto que oito não possuem. A dificuldade em relação ao ter ou não ter irmãos se dá por haver a preferência, pelo juizado, de que os irmãos sejam adotados pelos mesmos pais ou, ainda, por casais que tenham alguma proximidade, para que não se percam os laços de fraternidade. Nem sempre, no entanto, os casais estão dispostos a adotarem mais de uma criança.

Quem já passou pela experiência da adoção necessária, no entanto, não se arrepende. Antes chamada de adoção tardia, seu nome foi alterado tendo em vista que nunca é tarde demais para adotar; por outro lado, para uma criança, sempre é necessário que se tenha um lar, uma família. A professora Ivanilza Lopes, por exemplo, mãe de Bianca, garante: até hoje, não houve presente melhor em sua vida.

"Eu pedi muito a Deus. Tinha muita vontade de ter uma criança, uma menina. Era um sonho que eu tinha e Deus, ainda bem, realizou", conta. "Depois que eu a vi pela primeira vez, me apaixonei. Quando eu voltava do trabalho, já tarde da noite, ficava com vontade de ir lá (na casa de acolhimento) para vê-la. Estava apaixonada. Juro. É algo sem explicação", desabafa.

Sua opção, a princípio, por uma criança de 0 a 2 anos, se deu por conta da mesma ideia que muitas vezes paira sobre as cabeças daqueles que desejam adotar. Achava que um bebê seria melhor por ser uma criança que ainda não teria um "passado", uma história. Bianca, no entanto, surpreendeu todas as expectativas - não só de Nilza, mas de toda a família. "É natural que a gente sinta um pouco de insegurança no início, mas é incrível como rapidamente nós percebemos que a experiência estava sendo bem melhor do que a gente podia imaginar", relata um dos irmãos de Bianca, Fabiano de Farias.

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Jornal da Paraíba

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