POLÍTICA
Sobrevivente da chacina é decisivo para derrubar contradições
Justiça faz esquema especial para ouvir Prisciano, de 15 anos, no julgamento da Chacina do Rangel marcado para esta quinta (16). Acusados divergem quanto à autoria das 5 mortes.
Publicado em 15/09/2010 às 15:00
Karoline Zilah
O 1º Tribunal do Júri prepara um esquema especial para ouvir um dos sobreviventes da Chacina do Rangel, o menino Prisciano Soares, de 15 anos, durante o julgamento dos acusados, que acontece na quinta-feira (16), no Fórum Criminal, em João Pessoa. Por se tratar de um menor de idade e, principalmente, de uma criança ainda traumatizada pela morte dos pais e dos irmãos, a privacidade do menino deve ser protegida.
O juiz titular do 1º Tribunal do Júri, Marcos William, explicou ao Paraíba1 que Prisciano será ouvido em um local reservado na presença das pessoas que lhe deram assistência nestes 14 meses que se passaram desde o dia da morte de cinco parentes seus. O público que acompanhará a sessão de julgamento não terá acesso ao depoimento.
Poderão acompanhar o relato: um parente do menino, um psicólogo ou assistente social, o juiz, os sete integrantes do júri popular, o promotor e os representantes dos réus (advogado e defensor público). As crianças sobreviventes também são acompanhadas por uma conselheira tutelar.
Prisciano e o irmão, Rian (que na época tinha seis anos), foram os únicos sobreviventes de um crime ocorrido na madrugada do dia 9 de julho de 2009, no bairro do Rangel, em João Pessoa.
Cinco pessoas morreram: os pais Moisés Soares dos Santos e Divanise Lima dos Santos, e os irmãos Rayssa, Ray e Cinthia, que na época tinham dois, quatro e dez anos de idade, respectivamente. Além deles, Divanise estava grávida de gêmeos.
Prisciano ainda saiu ileso, sem marcas físicas, porque conseguiu se esconder embaixo de uma cama. Já Rian sofreu um golpe de facão no rosto, mas foi socorrido a tempo. Ele ainda ficou uma cicatriz.
Testemunho decisivo
O depoimento de Prisciano poderá ser decisivo para o julgamento. Isto porque, como testemunha ocular da chacina, ele poderá esclarecer as contradições que foram afirmadas pelos acusados desde que foram presos. Os réus são Carlos José Soares de Lima e Edileuza de Oliveira dos Santos, que na época eram vizinhos da família.
Segundo consta na denúncia elaborada pelo Ministério Público Estadual, com base no inquérito policial, na mesma noite do crime os vizinhos ouviram os pedidos de socorro e chamaram a Polícia Militar. Carlos e Edileuza foram presos ainda em flagrante com o facão utilizado para matar as cinco pessoas. Na delegacia, Carlos assumiu toda a responsabilidade pelas cinco mortes.
Porém, menos de uma semana depois, um dos sobreviventes afirmou que Edileuza teria sido a responsável por assassinar as crianças, enquanto o marido se encarregava dos pais da família.
A versão foi mantida até a primeira oitiva realizada pelo Tribunal do Júri em novembro. No depoimento, Carlos confirmou que matou as cinco pessoas enquanto sua esposa estava em casa dormindo, e que ela não havia presenciado nada. Porém, neste ano, um novo advogado assumiu sua defesa e então o acusado mudou o discurso. Disse que assassinou apenas Moisés, e que Edileuza teria executado Divanise e as três crianças.
Os acusados respondem por homicídio triplamente qualificado, caracterizado por assassinato de motivo fútil, de maneira cruel e sem chances das vítimas se defenderem. Além disso, eles serão julgados pela tentativa de homicídio, visto que houve dois sobreviventes.
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