VIDA URBANA
Rotinas agitadas com bastantes atividades caracterizam vida dos jovens
De olho no futuro, adolescentes encaixam na agenda estudos, cursos e esportes, sem abrir mão do lazer e dos amigos.
Publicado em 01/03/2015 às 8:00 | Atualizado em 21/02/2024 às 12:33
Ir ao colégio, estudar piano, ter aulas de caratê, se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ainda encontrar tempo para tirar dúvidas dos amigos sobre assuntos vistos em sala de aula, se divertir e frequentar a igreja.
A agenda da estudante Dayana de Medeiros, de 15 anos, é cheia, mas ela parece não ver problemas em ter muitas atividades durante a semana, nem em se dedicar quase que integralmente para ingressar na universidade, mesmo ainda cursando o 2º ano do ensino médio.
“Eu penso em fazer Engenharia da Computação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e estudar é o máximo que eu posso fazer, principalmente as matérias em que eu mais tenho deficiência, para poder tirar uma excelente nota”, contou, acrescentando que, quando bate o cansaço, procura lembrar do que os professores falam em relação aos esforços necessários para se conquistar os objetivos. “É o seu futuro que você está construindo e esses discursos me dão a motivação que preciso”.
Entre os compromissos, o que Dayana mais gosta é o caratê, que acontece às terças, quintas e sextas. “Faço há seis meses e amo. Desde criança sempre tive vontade de fazer. Além disso, é importante que um adolescente faça atividades físicas por causa da saúde, e o caratê treina muito a mente, a resistência e o condicionamento da pessoa. Quem vai às aulas, aprende não só a arte marcial, mas a história, os nomes dos ataques em japonês. Aprende a cultura mesmo”, explicou.
Em casa, a estudante conta com o apoio da família, que apesar de se preocupar com o excesso de afazeres da jovem, entende os interesses e vontades dela. “Eu digo que minha filha é um presente de Deus. Ela é muito responsável e, para mim, as atividades são enriquecedoras. São coisas que eu queria aprender, mas que, por falta de tempo, não tive condições. Eu me realizo nela, mas ela também se realiza, até porque ela tem personalidade forte e, quando quer alguma coisa, tem opinião própria”, comentou a dona de casa Eliane Medeiros, frisando que a adolescente faz questão de reservar algumas horas nos fins de semana para o lazer. “Ela lê bastante e sai com os amigos”.
Psicólogo alerta para os exageros
De acordo com o psicólogo e doutor em psicologia social Flávio Lima, é preciso entender que, por ser uma fase da vida caracterizada por muitas experiências e pela construção da autoimagem, a adolescência costuma trazer rotinas agitadas e obrigações, coisas que não são necessariamente prejudiciais.
“Psicologicamente, não há danos previsíveis no que se refere ao excesso de atividades produtivas. Muito pelo contrário; isso pode favorecer a sociabilidade e a construção da identidade”, analisou o especialista, complementando, contudo, que exageros podem acarretar danos físicos como fadiga e exigências de maiores demandas corporais como sono e alimentação.
Para Flávio, é primordial que a família tenha um relacionamento pautado pela conversa para que o jovem não se sinta imposto a buscar a perfeição.
“O equilíbrio entre responsabilidades e lazer também perpassa essa dimensão do diálogo, do contato. Uma vez conhecendo os filhos de perto, com um diálogo genuíno eles certamente saberão das reais necessidades e das grandes dificuldades deles”, opinou.
Já sobre a concepção de uma rotina ideal, o psicólogo expõe que não existe um padrão, uma vez que cada indivíduo tem necessidades e histórias diferentes.
“O que podemos observar é o que se aconselha fisiologicamente para termos saúde, ou seja, observância de oito horas de sono e boa alimentação. As atividades vão depender de cada sujeito e do contexto em que foi educado”, finalizou.
Estudo até nos fins de semana
Assim como Dayana de Medeiros, o estudante do 3º ano do ensino médio Lucas Pedrosa, de 16 anos, se diz uma pessoa focada e disciplinada. E não é para menos. Fora as aulas no colégio pela manhã, que algumas vezes se estendem para a tarde, ele faz cursinhos pré-vestibulares voltados para as matérias de física e matemática, além de cursos de redação e inglês.
O jovem ainda enxerga os sábados e domingos como ótimas oportunidades para rever todo o conteúdo estudado durante a semana. Tudo isso com o objetivo de conseguir a tão sonhada vaga em Medicina na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
“Faço por mim mesmo, porque quero passar e porque o curso é bastante concorrido. Nada vem fácil e eu sei que se eu bobear, não vou conseguir”, ressaltou, mencionando que os pais se sentem satisfeitos com o empenho.
“Eles ficam felizes porque é o sonho deles que eu passe para esse curso na federal. Em alguns momentos, quando eles veem que eu fico muito tempo estudando e sem sair, eles se preocupam e me advertem, mas é tranquilo. Uma vez por mês vou ao cinema com meus amigos ou ao shopping”.
O pai de Lucas, o administrador Ricardo Pedrosa, insiste que o filho estude cada vez mais, mas sem pressões nem imposições.
“O único legado que um pai pode deixar é a educação. Sempre tive uma parceria com ele de escolher onde ele ia estudar, com horários compatíveis. Como eu tenho formação de professor, o coloquei em lugares onde ele teria um bom embasamento, claro, lembrando que hoje em dia os colégios não têm essa estrutura toda para fazer o aluno passar no Enem”, sublinhou, sem esconder a torcida para que Lucas realize o sonho.
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