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CULTURA

Um músico além do samba

Biografia revela o outro lado do trapalhão Mussum: o músico que gostava de jazz, bolero e forró e ajudou a lançar Zeca Pagodinho

Publicado em 27/07/2014 às 13:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 11:18

Na próxima terça-feira completará duas décadas que Antônio Carlos Bernardes Gomes – mais conhecido como Mussum, como Grande Otelo o apelidara – deixou órfã toda uma geração que acompanhava seu popular e escrachado vocabulário cheio de ‘is’ na telinha da TV. Ele morreu duas semanas depois de realizar um transplante de coração.

Engana-se quem acha que sua carreira artística se restringia apenas às ‘gags’ dos quadros televisivos. “Mussum tem um papel importante na MPB”, conta Juliano Barreto, autor de Mussum Forévis - Samba, Mé e Trapalhões. “Ele ajudou a revelar o Zeca Pagodinho, gravando uma composição dele, ‘Chiclete de hortelã’”.

Dentre as figuras do cenário musical brasileiro, o autor falou com nomes como Alcione, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Martinho da Vila, os membros do Trio Mocotó e até Jair Rodrigues (que morreu em maio deste ano), que era muito amigo do músico e comediante.

Tocando tamborim e reco-reco, Mussum integrou grupos como Os Sete Modernos do Samba e Os Originais do Samba. Mas engana-se novamente quem achou que o artista só tinha ouvidos para as batucadas e rodas de samba da Mangueira, sua escola de coração. “Ele era um cara apaixonado pela música. Música mesmo. Ouvia jazz, forró, bolero e escola de samba. Mussum tinha um gosto muito amplo”.

A sua discografia reúne um total de 15 LPs, sendo três deles Disco de Ouro com os Originais do Samba e três álbuns solo. O comediante não abandonou a música nos seus tempos de TV e cinema. Chegou a ser diretor de harmonia da ala das baianas da ‘Verde-e-Rosa’, instrutor da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã e ainda assinou a trilha sonora de alguns dos filmes dos Trapalhões.

FAMA NA 'INTERNETIS'
Atualmente, o quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias ficou conhecido pelas novas gerações através de programas televisivos gravados em fitas VHS e lançados em canais de vídeo na internet como o YouTube.

Outro fenômeno atribuído especificamente a Mussum é o seu peculiar vocabulário que é multiplicado virtualmente em memes espalhados pelas timelines das redes sociais.

Dentre as centenas de exemplos, os mais famosos com a fisionomia do trapalhão vão desde ele encarnado o Leonardo DiCaprio em ‘Titanics’, passando pelo ‘Zé Pequenis’ em Cidade de Deus, até a campanha à presidência dos EUA, onde o rosto de Barack Obama foi substituído pelo de ‘Obamis’.

“Mussum Forévis não acaba com a morte dele”, aponta Juliano Barreto. “Uso o último capítulo para falar da cultura dos memes. É fácil de mexer, fazer e passar pra frente”.

Além do posterior sucesso binário da figura do bêbado malandro de fala popular, o biógrafo também centra páginas nos dramas pessoais vividos por Antônio Carlos.

Filho de uma empregada doméstica analfabeta, Barreto conta que o garoto Mussum, no alto dos seus 9 anos, ajudou a sua mãe a aprender o ‘bê-a-bá’. Família, o artista cobrava dos filhos o dever de casa e o pedido de bênção. “No livro, existe momentos para rir e momentos para chorar”.

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Jornal da Paraíba

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