ECONOMIA
Lojas faturam alto com os centavos não devolvidos
Em dezembro, devido às compras de Natal, a rotatividade dos produtos é intensa nas lojas e o volume de centavos acumulados aumenta na compra à vista.
Publicado em 06/12/2009 às 9:54
Jean Gregório
Do Jornal da Paraíba
Sem moeda de um centavo suficiente nos caixas, as lojas de departamento continuam faturando nos produtos com preços quebrados na compra à vista e em espécie. As redes de magazine e de supermercados, campeões em número de itens quebrados pela diversidade de produtos oferecidos, não costumam revelar o quanto de dinheiro extra, diariamente, sobra nos milhares de caixas espalhados pelo país. Em dezembro, devido às compras de Natal, a rotatividade dos produtos é intensa nas lojas e o volume de centavos acumulados aumenta na compra à vista.
A forma mais eficiente de pagar o preço devido, ‘facilitar o troco’ do lojista e evitar aborrecimento aos consumidores, continua sendo o uso do cartão de crédito ou débito, que vem crescendo nos últimos anos. Contudo, o volume de compras a dinheiro ainda representa um percentual importante na maioria dessas lojas de departamento, principalmente devido à alta rotatividade de produtos passando pelos caixas. De acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas de João Pessoa (CDL-JP), a compra à vista no comércio é, em média, de 20% do total.
Além de render mais, as sobras que ficam no caixa em centavos não são tributados, pois sobre esse valor que é tido como troco dos consumidores, não incide qualquer taxa ou imposto, ou seja, é dinheiro livre e extra. O marketing visual do quebrado, que causa ainda do efeito psicológico nos consumidores que está pagando menos, foi disseminado de forma mais abundante nos primeiros anos do plano de estabilização da economia do país (Plano Real) com as lojas de importados do R$ 0,99 e depois do R$ 1,99, mas ainda é bem praticado devido à concorrência. “O som dos quebrados soa melhor e é mais atrativo no ouvido dos consumidores os preços”, confessa em voz baixa uma gerente de loja de calçados em João Pessoa, que não quis se identificar.
Apesar de estar anunciado o preço quebrado, a cobrança costuma ser arredondada sempre para cima. Muitas vezes o troco de valor superior a quatro centavos na falta de moeda no caixa se transforma em mais consumo como balas e chicletes. Não é à toa que perto dos caixas, as empresas costumam concentrar uma infinidade de produtos mais em conta.
“Essas grandes redes a cada final de ano deveriam utilizar essas sobras como marketing positivo, doando às instituições que cuidam de crianças, idosos e até mesmo hospitais filantrópicos esses centavos”, sugere o consultor de empresas Maurício Timótheo, ao contar que logo no início do plano de estabilização um dos seus irmãos juntou as dezenas de caixas de fósforos que recebeu ao longo de um ano de uma rede de supermercados em João Pessoa.
“De forma provocativa e irônica, ele chegou ao mesmo supermercado com as dezenas de caixas de fósforo e pediu a devolução do seu dinheiro. Ele fez isso mais como demonstração de quanto de troco deixou de receber daquela loja”, frisou Maurício, um defensor árduo de compras no cartão de crédito. "Além de quebrar com as sobras de centavos nessas lojas, é uma compra prática e segura”, define. Uma das justificativas mais comuns dos caixas é a falta de moeda. O assessor do Departamento do Meio Circulante do Banco Central Cláudio Medeiros disse que no país está “circulando” mais de R$ 3 bilhões em moedas de um centavo.
“A moeda de um centavo não está sendo mais fabricada pela Casa da Moeda porque entendemos que o volume produzido é suficiente para abastecer o mercado, porém, sabemos que muitas delas ficam paradas ou em cofrinhos e até mesmo menosprezadas pela população em suas casas e isso atrapalha o troco”, comentou o assessor, que confessou que o custo para fabricá-la é bem mais que o seu valor monetário. O Banco Central estima que, de cada 100 moedas fabricadas no país, 50 estão guardadas ou paradas em algum cantinho, o que representa R$ 1,5 bilhão fora de circulação.
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