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POLÍTICA

Bastidores do golpe militar de 1964 e suas marcas 52 anos depois

Tomada de poder resultou em um Pedro relutante, Abelardo em fuga e Ronaldo cassado.

Publicado em 31/03/2016 às 8:16

Os bastidores do golpe militar de 1964, na Paraíba, não serão devidamente percebidos sem a leitura do que escreveu e do que declarou, em entrevistas diversas, o ex-deputado Joacil de Brito Pereira. Partícipe direto desses acontecimentos, ele foi uma espécie de líder da facção civil capitaneada pelos grandes proprietários de terras e disposta ao enfrentamento armado se isso se fizesse necessário à anulação do presidente João Goulart e à de seus seguidores, a exemplo do governador de Pernambuco Miguel Arraes.

É de Joacil – falecido em 2012, perto dos 90 anos de idade – uma das melhores narrativas sobre a indecisão do paraibano Pedro Gondim, que teve origem no PSD. Eleito para o comando do Estado pelo PDC com o apoio maciço das classes trabalhadoras, nisso incluído o voto da zona rural, Pedro relutava entre o apego às hostes que o levaram ao Palácio da Redenção (desorganizadas e sem condições para a resistência) e as forças conservadoras já com baionetas e tanques nas ruas, naquele 31 de março.

Pois bem, com o golpe em marcha, o Palácio funcionou por quase toda a madrugada de 1º de abril. Reunido com os auxiliares para discutir a situação, o governador sucumbiria às pressões da maioria. Além do mais, recebera a visita nada amigável dos coronéis Ednardo d’Ávilla e Plínio Pitaluga que dele exigiram uma definição.

Segundo Joacil, Ednardo evitou que o colega de farda prendesse Pedro, ali mesmo, no instante em que ambos o perceberam evasivo e relutante. Porém, raiado o sol, a Rádio Tabajara punha no ar a mensagem governamental vazada nesses termos: “Não posso e não devo, neste instante de tanta inquietação nacional, deixar de definir minha posição, na qualidade de governador dos paraibanos. Reafirmo, preliminarmente, todos os pronunciamentos que expendi em favor das reformas essenciais, por saber que elas constituem instrumentos legais de adequação aos novos problemas do povo. E neste sentido nunca faltei com o meu estímulo e apreço ao Governo Central”.

E mais: “Os últimos acontecimentos, verificados no Estado da Guanabara, envolvendo marinheiros e fuzileiros navais, denunciaram, porém, inequívoca e grave ruptura na disciplina em destacado setor das classes armadas, com desprezo às linhas hierárquicas e completa alienação às prerrogativas da autoridade, sustentáculo autêntico da segurança nacional. O movimento que eclodiu nestas últimas horas em Minas Gerais, com repercussão em outros Estados, não é mais nem menos do que a projeção de acontecimentos anteriores, numa tentativa de recolocar o país no suporte de sua estrutura legal, propiciando clima de tranquilidade – indispensável ao processo desenvolvimentista que vivemos”.

E, por fim: “ O pensamento político de Minas Gerais hoje, como em 1930, identificou-se com a vocação histórica do povo paraibano que deseja, neste episódio e, sobretudo, o cumprimento das liberdades públicas, consubstanciadas na defesa intransigente do regime democrático”. Pedro somente seria cassado, com fama de comunista quando ocupava o cargo de deputado federal após a promulgação do Ato Institucional nº 5.

De resto, também sofreriam cassações o deputado federal Antonio Vital do Rego e o suplente Osmar de Araújo Aquino. Na Assembleia Legislativa o regime teve desocupadas, por banimento político, as cadeiras dos deputados José Maranhão, Ronald Queiroz, Robson Espínola, Romeu Gonçalves de Abrantes, Francisco Souto Neto e Mário Silveira. Também, o suplente Sílvio Pélico Porto.

CASSAÇÕES


Em 1969, a ditadura também afastava da vida política, por dez anos, o então prefeito de Campina Grande Ronaldo Cunha Lima. Conhecido por sua verve, ele assim explicou, certa vez, o motivo de sua cassação: “Não estou bem certo, mas suponho que tenha decorrido de críticas que fiz a um regabofe dos militares, no Grupamento de Engenharia, à base de dezenas de perus. Comentei que, pelo menos na Paraíba, ninguém poderia dizer que a Revolução fora feita sem sangue”.

Logo que chegaram ao poder os militares também trataram de destituir reitores de universidades públicas. Um deles, o paraibano Mário Moacyr Porto, também dono de uma verve impressionante, comentou, assim, a sua demissão.

ABELARDO

Um paraibano de Itabaiana, Abelardo Jurema, ministro da Justiça de João Goulart, esteve, por conta disso, no olho do furacão. Desencadeado o golpe, foi procurado pelo brigadeiro Moreira Alves interessado em obter de Jango a ordem para jogar 50 aviões da Força Aérea brasileira contra as tropas de Mourão Filho que desciam de Minas Gerais. “Por esse preço não quero ficar no poder”, respondeu o presidente. Fugido do país, Abelardo estabeleceu-se em Lima, a capital do Peru. Um dia acordou, às 10 da noite, com batidas à porta. Atendeu, temeroso, ao chamamento, para quase morrer de susto. Era Jânio Quadros, por cuja renúncia Jango fora feito Presidente da República: “Vim visitar um ministro do meu país que, para sobreviver, vende charutos”, disse o visitante. E, de pronto, perguntou ao dono da casa: “Já tens dinheiro para uísque?”. Abelardo só tinha para pisco, uma bebida local. E Jânio, sem se fazer de rogado: “Serve. Traz uma bem gelada”.

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Jornal da Paraíba

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