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CULTURA

Um filho do concretismo

Obra do poeta mineiro Mácio Sampaio pode ser conferida a partir desta quinta-feira (26)  na Usina Cultural Energisa, na capital.

Publicado em 26/04/2012 às 6:30


“Ele é filho da poesia concreta”, define o curador Dyógenes Chaves acerca da figura do artista mineiro Márcio Sampaio, lembrando também do Poema/Processo, movimento nordestino do final dos anos 1960, que também partiu do concretismo. “Ele pega as coisas do cotidiano e dá uma outra função, como Duchamps (1887-1968).”

Contemplado com o Prêmio Energisa de Artes Visuais, a poesia experimental de Sampaio poderá ser conferida em retrospectiva a partir desta quinta-feira, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. “É uma rememoração dos movimentos mais intensos da minha vida”, destaca o artista ao JORNAL DA PARAÍBA. “São momentos pontuais com as inquietações da minha época.”
A mostra intitulada de Poesia Além do Verso estará aberta ao público para ver, tocar e interagir até o dia 27 de maio.

O mineiro de 71 anos, 45 deles dedicados ao experimentalismo de sua poesia, observa que as suas obras não refletem apenas no âmbito pessoal, mas também no político e social. Dossiê da Estupidez, por exemplo, interage com a imagem da Guernica, uma das pinturas mais famosas de Picasso (1881-1973).

“Estamos vivenciando a violência permanente do mundo.”

A PERDIÇÃO DOS 'BOYS'
O tempo também é um dos “pontos fortes” do trabalho de Márcio Sampaio. Em Efemérides, o lirismo se encontra em uma série de palitos de fósforo usados herdados do seu genitor. Segundo o artista, no final dos anos 1950, em uma conversa com o seu pai, que estava impressionado com seus sonetos e colagens, mostrou uma caixa de fósforos e disse: “Uma dessas eu iluminei a lamparina do seu quarto quando você nasceu.”

A partir daquela conversa, Sampaio colecionava palitos de fósforo que faziam parte de momentos importantes da sua vida, desde acender as velas de seu aniversário ou do altar no seu casamento, até um cigarro para tragar corriqueiramente.

Outra peça do Poesia Além do Verso se chama Ex-Cultura, que consiste em um esquife contendo os restos de uma imagem de madeira carcomida por cupins. “Existem leituras além da materialidade da obra”, aponta acerca do trabalho reduzido a pó, que pode ser interpretado como uma alusão da própria cultura.

Sampaio aponta como uma das “sensações” da sua retrospectiva Constelação: uma mesa azul com porções dos famosos macarrões da sopinha de letras. O público poderá interagir com a exposição deixando frases produzidas pelo alfabeto feito de massa crua.

Criado nos anos 1970, o mineiro conta que certa vez, em Belo Horizonte, um guarda o parou contando que precisava tirar a mesa e os macarrões porque era “a perdição dos office-boys”, que deixavam recados e declarações de amor. “É como escrever com canivete em árvores”, interpreta. “Teve até garotos que colocavam códigos daquele seriado, o Lost.”

Apesar de não ter o domínio das novas tecnologia, Márcio Sampaio observa com bons olhos a utilização do meio. “Isso nos permite transitar em um nível planetário”, exclama. “Era o que nós queríamos que nossos trabalhos atingissem nos anos 1960.”

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Jornal da Paraíba

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