CULTURA
Ariano, 90 anos: um gênio da cultura nascido em berço político na Paraíba
Se ainda fosse vivo, Ariano Suassuna completaria 90 anos nesta sexta-feira.
Publicado em 16/06/2017 às 9:08
Apaixonadamente professor, poeta, romancista, dramaturgo e artista plástico, Ariano Vilar Suassuna, se fosse vivo, faria 90 anos nesta sexta-feira (16). Ele nasceu em 1927 na capital da Parahyba, quando seu pai João Suassuna era o presidente do Estado (o cargo que corresponde ao governador) e viveu no Palácio da Redenção os seus primeiros anos de vida.
Autor que se consagrou como um dos principais escritores da língua portuguesa, Ariano escreveu peças de teatro que continuam fazendo sucesso, a exemplo do “Auto da Compadecida”, inclusive transportada para o cinema e a televisão, além de romances como “A Pedra do Reino”, igualmente transformada em minissérie produzida pela Rede Globo.
Obra tão vasta que nos brinda com ineditismo. Seu último romance, “Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores”, concluído pouco tempo antes de sua morte, que levou 30 anos para ser escrito, será lançado ainda este ano pela editora Nova Fronteira, que também programa publicar “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, em nova edição definitiva, revisada por Ariano.
Toda sua obra está centrada na vivência do Sertão, com sua gente e seus costumes, sonhos e busca de identidade. Foi um intransigente defensor da cultura que tem raízes fincadas no Nordeste.
A ausência do pai assassinado três anos depois marcou profundamente sua vida. Dele recordava pequenas passagens, que as mantinha vivas como lenitivo e suporte. As recordações guardadas do pai, poucas e distantes, alimentaram seu viver, fazendo aprofundar seu olhar às artes, único caminho de acalento à sofreguidão da distância paterna.
Homem de profundo sentimento ao Nordeste, ele retirou da terra inóspita e devastada o conteúdo de sua obra, fazendo brotar as mais admiráveis páginas literárias de amor e apego a esta região, cuja beleza transformou universal.
Ariano converteu e influenciou muita gente ao olhar o Brasil de modo diferente, a aceitar sua complexidade e diversidade cultural. Por meio de sua obra, muitos avançaram pelo Sertão poético buscando decifrar os encantos desta região, bela e misteriosa. Região de dias quentes e noites friorentas, com ventania cortante, uma vindo do Cariri, vento áspero e impetuoso e, o outro, procedendo das Espinharas, abrasador, incendiando as tardes.
Genial e inimitável, sua vida se completou no apogeu da glória literária, deixando um conjunto de obra que retrata a vida do povo brasileiro e, de modo especial, do Nordeste.
Foi no esturricado Sertão onde presenciou acontecimentos decisivos que marcaram sua vida de poeta, dramaturgo e romancista. Tudo o que observou, nos contatos e nas conversas que ouvia, ele utilizou na criação literária.
Será sempre o escritor que mais defendeu o Sertão do Nordeste. Mesmo que existam outros sertões, nunca serão iguais ao Sertão que recolheu em sua obra de artista. Sempre se declarou enamorado da terra sertaneja.
Quando chegou à glória da imortalidade das letras, tomando posse na Academia Brasileira de Letras, fez uma declaração de amor ao Sertão, que chamou de terra luminosa do sol, extremamente boa e que tem o sol como coroa radiante, enchendo as nossas horas de alegria e fartura, confessou sua nostalgia quando dela estava distante.
Se a arte é necessária, mais ainda se torna quando debulhamos seus textos, seja em prosa ou versos, que está num alto grau criação de beleza e estética.
Ariano conseguiu o píncaro da criação artística através da escrita, o que poucos atingem, com raríssimas exceções. Quase uma unanimidade.
Seus livros dão leveza à alma somente proporcionada com a música clássica, porque contém uma sonoridade que nos leva a uma viagem de enorme prazer.
Deu nobreza a arte de escrever, devolveu ao escritor a verdadeira posição de lutar na defesa da identidade da nação. Foi um otimista. Diante da dilapidação de nossas raízes culturais, empunhou a bandeira contra o desaparecimento da identidade nacional.
Nunca desistiu de suas convicções, suplantando possíveis erros com a grandeza de ser o escritor e o professor que sempre desejou ser, firme e decidido naquilo que abraçou e defendeu. Renovou, a cada dia, o compromisso de fidelidade ao oficio de escritor, de artista e a defesa da arte.
Um escritor glorioso e venerável. Ainda bem que ele, o Cavaleiro da Pedra do Reino, nasceu na Paraíba.
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