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VIDA URBANA

Enchentes atingiram 50 cidades em 5 anos

Dados divulgados pelo IBGE mostram que 50 cidades da PB foram atingidas por enchentes ou inundações graduais entre 2008-2012.

Publicado em 01/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:27

“Foi de repente. A água invadiu a casa e acabou com vários móveis. Tentamos salvar algumas coisas, mas não teve jeito, perdemos tudo”, declarou a dona de casa Maria Aparecida, 41 anos, que mora na comunidade do Porto do Capim, no bairro do Varadouro, em João Pessoa, ao lembrar da enchente ocorrida em 2011. De acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Paraíba, 50 cidades foram atingidas por enchentes ou inundações graduais entre 2008-2012.

O Perfil dos Municípios Brasileiros 2013 (Munic 2013) lançado pelo IBGE indica que as enchentes graduais, um total de 142 ocorrências, deixaram o rastro de destruição em 6.370 edificações e em 41 municípios paraibanos 21.273 pessoas ficaram desalojadas (temporariamente sem moradia) ou desabrigadas (definitivamente sem casa) em decorrência das enchentes. O ano de 2011 foi o período que registrou o maior número de edificações atingidas pelas enchentes e inundações, seguido pelos anos de 2008 e 2009.

O estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística aponta ainda que 20 cidades paraibanas sofreram com enchentes bruscas e 62 com alagamentos. Além das perdas materiais, foram registrados no Estado dez óbitos em decorrência de inundações graduais ocorridas em áreas urbanas.

“As características físicas dos municípios, como clima e padrão de distribuição das chuvas (…), são algumas das condições que, aliadas aos padrões de ocupação e ao planejamento territorial, interferem nos resultados das respostas (…)” diz a pesquisa.

“Outros fatores determinantes são a interferência direta na permeabilidade da água no solo, tais como as grandes áreas com ruas asfaltadas e superfícies cimentadas, ou impedimentos ao escoamento superficial da água, como sistemas de drenagem deficientes. Esses fatores, somados às chuvas, podem ocasionar alagamentos com acúmulos de água localizados, que geram grandes transtornos para o dia a dia de uma cidade”.

O estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística aponta que “as enchentes, alagamentos e processos erosivos, embora possam ser classificados como ameaças naturais, fazem parte de um complexo maior, pois estão envolvidos fatores socioeconômicos e culturais, como ocupação irregular de encostas, margens de rios, desmatamentos etc., que elevam o grau de vulnerabilidade da sociedade. Esses fatores correspondem a uma inadequada relação homem-natureza que está relacionada com o processo de degradação ambiental ou de intervenção humana sobre os ecossistemas”. Os casos de desastres em áreas com ocupações irregulares chegam a 18.

PLANO DIRETOR

O Perfil dos Municípios Brasileiros 2013 apontou ainda que das 223 cidades paraibanas, 134 não contam com Plano Diretor, o documento que estabelece as diretrizes para o desenvolvimento da cidade de forma planejada. A Paraíba é o segundo Estado do Nordeste em municípios sem Plano Diretor.

Os dados revelam também que entre os que ainda não têm o plano, apenas 35 estão trabalhando na elaboração do documento. Mostra que em apenas 19 cidades o Plano Diretor contempla a prevenção de enchentes ou inundações e 39 prefeituras têm algum instrumento de gerenciamento de riscos de desastres.

SEM ESTRUTURA

Entre os 223 municípios paraibanos, 114 contam com uma coordenação municipal de Defesa Civil e 101 não têm nenhum tipo de estrutura para este fim. (Colaborou Luzia Santos)

MUNICÍPIOS PRECISAM TER DEFESA CIVIL

O gerente executivo estadual de Defesa Civil, coronel Cícero Hermínio, explicou que a lei Nº 12.608, de 10 de abril de 2012, estabelece que as cidades precisam ter uma coordenadoria municipal de defesa civil.

“A Defesa Civil Estadual trabalha na coordenação dos serviços, mas quem atende às ocorrências são as defesas civis dos municípios. As equipes estaduais oferecem capacitações para os gestores criarem, inclusive, o plano diretor” pontuou.

Ele acrescentou que os municípios da região do Litoral, Agreste e Brejo são quem concentra a maior incidência de inundações e enchentes no Estado, ao contrário das áreas do Sertão, onde as chuvas ficaram abaixo da média nos últimos dois anos.

O coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, Francisco Noé Estrela, explicou que a capital possui 31 comunidades em áreas de risco e o trabalho preventivo é intensificado no período do inverno. As ações envolvem várias secretarias, entre elas a de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) e a de Infraestrutura (Seinfra) além da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur).

“Mapeamos as áreas de risco e até o ano passado fazíamos um trabalho voltado para estas áreas. Este ano, estamos expandindo as ações para toda a cidade porque sabemos que em casos de alagamento toda a população é prejudicada. Entre as ações estão a limpeza de galerias e de rios que cortam a cidade, poda de árvores, entre outras”, ressaltou Noé Estrela.

Já em Campina Grande, apesar de não haver registros recentes de maiores transtornos causados por chuvas ou enchentes, ainda existem 23 pontos vulneráveis a alagamentos monitorados pela Defesa Civil do município.

Dentre eles áreas do Rosa Mística (Canal das Piabas), Bodocongó, Mutirão e Novo Horizonte. Neste último bairro moram as donas de casa Cícera da Silva e Marluce Teixeira que, embora nunca tenham ficado desalojadas, sofrem há quase 20 anos com os problemas já esperados, a cada mudança climática, pelos moradores da rua Augusto Severino. “Sempre que chove, a rua fica tomada pela lama”, relatou Marluce.

Já o coordenador da Defesa Civil, Ruiter Sansão, ressaltou que a equipe investe em trabalho preventivo, monitorando as áreas mais vulneráveis e promovendo ações de limpeza e desentupimento de bueiros.

“A gente foca nessa questão e temos tido bons resultados. Tanto é que não tivemos problemas mais graves e o último óbito ocorreu no ano de 2011, no bairro do Mutirão”, pontuou. (Déborah Souza)

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Jornal da Paraíba

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