CULTURA
'Sai do Sereno', de Abdias dos Oito Baixos, faz 50 anos ignorado pela crítica
A faixa que batiza a obra, composição do pernambucano Onildo Almeida, chegou a fazer parte do repertório de shows de Gilberto Gil.
Publicado em 09/09/2015 às 9:00
“Quando fazem uma lista com os 100 melhores discos, só pensam em rock, MPB e pop”, alerta o pesquisador e crítico musical José Teles. “Não tem Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e nem o sertanejo de verdade”, lamenta.
Recentemente, no seu blog Toques, o jornalista paraibano radicado em Pernambuco chama a atenção para um álbum que está completando 50 anos e que jamais vai entrar numa lista dos maiores discos de todos os tempos de publicações, como a versão nacional da revista Rolling Stones: Sai do Sereno (1965, CBS), de Abdias dos Oito Baixos (1933-1991), sanfoneiro natural de Taperoá, no Cariri paraibano.
A faixa que batiza a obra, composição do pernambucano Onildo Almeida (o mesmo da clássica ‘A feira de Caruaru’ na voz de Gonzagão), chegou a fazer parte do repertório de shows de Gilberto Gil no exílio londrino e foi incluída no primeiro disco que o músico baiano gravou depois que voltou ao Brasil, Expresso 2222 (1972), música que contou com a participação de Gal Costa.
“O disco não tem xote, nem baião. Só arrasta-pé. Era usado para se tocar em festas, sem uma letra bonita. O ‘Quadrilha em Cabugá’ (de Reginaldo Alves, o Mestre Camarão) tocou muito em quadrilhas juninas tradicionais”, aponta Teles.
Outra faixa de grande repercussão vinda de Sai do Sereno foi ‘Pra não morrer de tristeza’ (assinada por João Silva e K-Boclinho), popularizando ainda mais na região Nordeste dos anos 1960 o chamado ‘samba de latada’ ou ‘samba de matuto’, adaptação do forró para a sanfona, o triângulo, a zabumba, os violões, banjo e instrumentos de sopro, de acordo com o pesquisador paraibano.
“Vários nomes importantes enveredaram por ele, como os paraenses Ary Lobo e Osvaldo Oliveira, e Jacinto Silva. O estilo hoje é a marca do forrozeiro pernambucano Josildo Sá”, afirma.
VINTAGE
Após o sucesso na região, ‘Pra não morrer de tristeza’ se tornou nacionalmente conhecida quando entrou no álbum Bandido (1976), de Ney Matogrosso. “Quando bombou no Brasil todo, Ney viu que o forró dava pé e gravou outras músicas como ‘Por debaixo dos panos’ e ‘Homem com H’ (ambas, composição dos paraibanos Cecéu e Antônio Barros)”.
Para Teles, o disco cinquentão merecia uma reedição caprichada, como um dos clássicos do gênero. “Sai do Sereno, meio século depois, tem uma sonoridade vintage, como antigos discos de country blues”, analisa o crítico musical.
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