Cidadão do samba na PB

“Nunca tirei um pé daí. Um pé aí e o outro rodando o mundo...”, assim pensa o cantor e compositor Zé Katimba, que, após uma ‘ausência’ de 70 anos, está voltando às suas origens, deixando o Rio de Janeiro para desembarcar nesta quarta-feira, revendo a sua terra natal pela primeira vez: Guarabira, no Brejo paraibano.

“Tenho orgulho muito grande de ser nordestino e nascer paraibano”, conta por telefone ao JORNAL DA PARAÍBA. “Saí muito menino, com 10 anos. Guarabira ainda era um lugarejo, que depois virou uma vila e agora é uma cidade”.

No alto de seus 80 anos, o artista paraibano desembarca com os títulos de Cidadão do Samba e o Estandarte de Ouro para cumprir uma agenda de eventos como uma apresentação no projeto Sabadinho Bom (que ainda se encontra em negociação até o fechamento da matéria), em João Pessoa, e uma roda de samba no centro de Guarabira com o secretário de Cultura do Estado Chico César.

Zé Katimba ainda receberá homenagens da Câmara Municipal e da prefeitura guarabirense, além de bater um papo com os jovens da rede escolar.

“Tenho minha obra no mundo inteiro, sem maldade ou ter que passar o cotovelo em ninguém”, conta, relembrando que “foi picado pela mosca azul do samba” desde quando chegou ao Rio de Janeiro.

No final dos anos 1950, Katimba foi um dos fundadores da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense e passou por todas as etapas oferecendo sangue, suor e samba, puxando corda, empurrando carro alegórico, sendo presidente de ala, vice e chegando à presidência da escola que já ganhou 10 Carnavais. “Agora só me falta ser enredo”, frisa na sua trajetória.

Toda sua experiência de vida, Zé Katimba quer dividir com os paraibanos durante sua passagem por aqui. “Voltar nessa situação e poder dizer que, na vida, temos que resistir para investir. Estou feliz e meio lesado”, confessa. “As coisas todas que passei guardei para falar com meus conterrâneos”.

CAJU, FARINHA E SAL
Quando Martinho da Vila fez seu show no dia 18 de janeiro no Ponto de Cem Réis, em João Pessoa, prestou uma homenagem ao seu “parceiro permanente” cantando a música ‘Vai ou não vai’, onde fala de um retorno imaginário à capital para “Dar um cheiro na paraibinha / Feminina sim sinhô”, como diz sua letra.

Com mais de 800 composições – dentre elas composta a quatro mãos com Martinho como ‘Minha e tua’ (e Alceu Maia), ‘Recriando a criação’, ‘Me faz um dengo’, ‘Café com leite’, entre outras –, suas músicas ganharam voz de nomes como Zeca Pagodinho, João Nogueira, Agepê, Julio Iglesias, Alcione, Demônios da Garoa, Leci Brandão, Elza Soares e Jorge Aragão.

Atualmente a parceria com Martinho continua, como a música ‘Na minha Veia’, que foi gravada pelo parceiro e por Simone (que batizou o nome de seu disco), e ‘Lara’, em homenagem a Dona Ivone.

Nas reminiscências de um passado remoto quando era “uma criança inocente”, Katimba relembra da fazenda do avô, da Praia do Poço quando ainda tinha pescadores e muito caju colhido nas fundações de um Hotel Tambaú em construção.

“Quando não tinha pesca nem caju, pegava uma cuia de queijo do reino e ficava batendo de porta em porta para pegar farinha e comer com sal”, puxa pela memória. “Quando você sofre muito, ou se entrega e não vira nada, ou você sai correndo atrás de seus sonhos”.

Ansioso para a volta, o sambista lembra de Gonzagão e o seu ‘Pau-de-Arara’: “A malota era um saco e o cadeado era um nó”. Uma ‘malota’ de vida que ele vai desatar pela primeira vez por aqui.