CULTURA
Lou Reed e Metallica juntos
Em Lulu (Universal Music, R$ 47,00, em média), que acaba de chegar às lojas, o roqueiro novaiorquino se une a uma das mais poderosas bandas de thrash metal do mundo
Publicado em 06/11/2011 às 6:30
Em março do ano que vem, Lou Reed completa 70 anos.
Lendário roqueiro que ajudou a forjar o seminal Velvet Underground embarcou em um projeto que tem feito bastante barulho, em todos os sentidos. Em Lulu (Universal Music, R$ 47,00, em média), que acaba de chegar às lojas, o roqueiro novaiorquino se une a uma das mais poderosas bandas de thrash metal do mundo, o Metallica, e o resultado é uma obra-prima do rock pesado.
O flerte começou em 2009, quando o Metallica de James Hetfield (voz/guitarra), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Rob Trujillo (baixo) dividiu o palco dos 25 anos do Rock and Roll Hall Of Fame com Lou Reed e, juntos, executaram alguns clássicos do Velvet, como ‘Sweet Jane’ e ‘White Light / White Heat’.
Depois disso, Reed veio com a ideia de agregar a sonoridade do Metallica a uma série de canções que ele havia escrito para a peça Lulu Plays, do grupo de teatro alemão Berliner Ensemble, sob a direção do americano Robert Wilson. As músicas tinham inspiração nas peças Earth Spirit e Pandora’s Box, ambas do expressionista alemão Frank Wedekind.
Lulu é, muito provavelmente, mais próximo do Velvet Underground do que qualquer outro disco solo de Reed. As 10 faixas do álbum, distribuídas em dois CDs devido à longa duração das canções (que chegam a 20 minutos) são dominadas pela voz de Reed, ora cantada, ora recitada, acompanhada com uma destreza descomunal pelo Metallica, tocando mais instigado que nunca.
O peso dá o tom nos arranjos, mas há espaço para violinos, que introduzem ‘Pumping blood’, uma das faixas mais loucas do CD, com seu final arrasa-quarteirão, ou uma orquestração apocalíptica que encerra a épica ‘Junior Dad’.
‘Iced honey’, que vai ganhar clipe dirigido por Darren Aronofsky (Cisne Negro), é a mais pop do disco. Canção para tocar em rádio e contrastar com a ferocidade de ‘Mistress dread’, uma paulada de 7 minutos quase uivada sobre uma base supersônica em que Reed incorpora uma garota sádica (“Eu sou uma amante secreta / Eu sou sua garotinha / Por favor, cuspa na minha boca”, diz a letra).
‘Frustration’, que abre o CD 2, é a mais próxima do universo de ‘Heroin’, do Velvet Underground, com sua camada psicodélica sobre a pauleira do Metallica. Já 'Little dog' é praticamente um poema acústico.
Mas é preciso, antes de tudo, conhecer o histórico de Lou Reed, sobretudo junto ao Velvet Underground, para reconhecer o valor de Lulu e suas composições épicas, pesadas e experimentais, repleta de climas e guitarras barulhentas.
Surgido em 1964, o Velvet conquistou seu lugar ao sol com um rock dilacerante e o flerte com a literatura e as artes plásticas, a partir das letras de Reed e a produção de Andy Warhol. Em sua essência, o Velvet Underground era transgressor e ousado.
Lou Reed volta a ser transgressor e ousado neste projeto e o Metallica deu espaço para isso, se dobrando ao autor do clássico ‘Heroin’. O casamento com o quarteto californiano produziu canções líricas que não são bem da esfera do thrash metal agressivo e ligeiro que se conhece por aí – por isso, os fãs de metal têm torcido o nariz para o disco.
Mas talvez só com o tempo se vá reconhecer o quanto Lulu é pesado em som e letra.
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