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VIDA URBANA

A resistência dos quilombos

Em João Pessoa, famílias mantém as tradições dos quilombolas, costumes trazidos ao Brasil pelos escravos, cincio séculos atrás.

Publicado em 29/04/2012 às 8:27


O dia ainda não amanheceu, mas dona Corina Ramos do Nascimento já está em pé. O corpo franzino e cansado pelos 74 anos de vida ainda tem forças para garantir o sustento da família.

Após fazer uma oração e tomar o café da manhã, ela levanta um cesto pesado de frutas e segue no caminho da lida.

Três vezes por semana, a idosa, de sorriso fácil e semblante calmo, sai da comunidade onde mora, no Valentina Figueiredo, em João Pessoa, para vender frutas na feira do Rangel, em outro extremo da cidade.

Mesmo enrugadas e calejadas, as mãos ainda sabem comercializar os produtos retirados da terra e repetem os mesmos gestos que foram ensinados ao povo de dona Corina, cinco séculos atrás.

De pele negra e cabelos brancos, dona Corina é uma das integrantes mais velhas da Comunidade Quilombola, existente há mais de 200 anos em Paratibe, no Valentina Figueiredo. Ao lado de outras 120 famílias que possuem a mesma raça, elas mantêm vivas as mesmas tradições trazidas pelos escravos para o Brasil, há mais de 510 anos.

PEQUENOS VILAREJOS
Os quilombos entraram para a história do país durante o período da escravidão. São pequenos vilarejos construídos por escravos que fugiram dos engenhos de cana de açúcar.

O tempo passou, mas ainda existem cerca de duas mil comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil, onde os descendentes dos negros conservam velhas tradições e lutam pelo direito de propriedade das terras.

Na casa simples onde dona Corina mora, as paredes já são de tijolos, mas o fogo à lenha e o acessórios artesanais usados para pescar - chamados de samburá e jererê - mostram que alguns costumes afrodescendentes ainda fazem parte da rotina da idosa.

“Nunca trabalhei em firma ou em qualquer canto assim. Sempre vivi do que tiro da terra. Aqui, eu planto, colho e pesco. Quando a maré tá boa, pego meu samburá e jererê e vou para o mangue.

Nunca tive preguiça de nada. Foi assim que meus pais me criaram e foi assim que meus avôs criaram meus pais”, conta, com orgulho.

Assim como dona Corina, outros integrantes da comunidade ainda conservam hábitos herdados pelos escravos e praticam a cultura de subsistência. Cleonice Ramos Nascimento tem 46 anos e vive em uma casa cercada por plantações de frutíferas e criação de aves e porcos. Ela também cozinha em fogão à lenha e aprendeu o costume com a mãe. “Nasci e me criei aqui.

Também foi aqui que conheci meu marido, me casei e tive três filhos. Eles também não querem ir embora. Para mim, não tem lugar melhor”, declara.

Quem decide trabalhar fora não consegue emprego formal.

Segundo a presidente da associação dos moradores do local, Joseane Pereira da Silva, a maioria dos jovens da comunidade exerce funções mal remuneradas e trabalha sem carteira assinada em casa de família ou como pedreiro.

Ela acrescenta que as 120 famílias herdaram as casas de seus antepassados. No entanto, alguns integrantes procuram esconder a própria origem. Além do preconceito racial, o motivo é a pobreza. Há cerca de dez anos, a maioria das moradias da comunidade era feita de taipa, mas muitas foram reconstruídas em tijolos através de programas habitacionais da Prefeitura de João Pessoa.

A comunidade também tem água encanada, luz elétrica e ônibus.

Há ainda uma escola pública e uma unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) que fica, porém, um pouco distante.

Apesar disso, a integrante da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes da Paraíba, Francimar Fernandes, observa que as políticas públicas ainda são escassas para os integrantes quilombolas. Segundo ela, existem na Paraíba 38 comunidades Quilombolas espalhadas em todas as regiões do Estado. Apesar de não haver dados precisos, estima-se que essas áreas abriguem quase 13 mil pessoas, divididas em quatro mil famílias.

Todos são descendentes dos escravos, possuem a mesma cor da pele e sofrem dos mesmos problemas. “As quilombolas são as mais pobres de todas as comunidades. Além da questão racial, que gera um preconceito muito forte contra os negros, as comunidades quilombolas sofrem a falta de políticas públicas e com a pobreza do meio rural”, lamenta Francimar.

“A questão da saúde, por exemplo, é difícil. Algumas têm unidades do PSF, mas não são todas que têm o médico, porque há casos que existe o posto de saúde, mas o médico não vai lá fazer o atendimento. As pessoas têm que se locomover aos postos mais próximos que ficam a dois ou três quilômetros de distância”, acrescenta.

“Na educação, tem mais problemas. Algumas comunidades têm escolas, mas a estrutura física é precária. Não há, sequer, o ensino quilombolas no currículo escolar e as crianças não estudam a própria história. No interior do Estado, os quilombolas ainda sofrem com péssimas estradas e falta de água.

Pouquíssimas comunidades têm água encanada. A maioria depende de cisternas que estão vazias por falta de chuva”, afirma Francimar.

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Jornal da Paraíba

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