Show de Bethânia sob as bênçãos de Nossa Senhora das Neves

“Quem é a padroeira, ou padroeiro, de João Pessoa?”, quis saber Maria Bethânia, ontem. “Nossa Senhora das Neves”, responde o repórter do JORNAL DA PARAÍBA. “Você sabia que tem uma igreja linda ao fundo da Baía de Todos os Santos e que eu, quando tinha barco, na Bahia, cansei de ir lá. Ela fica numa penha muito bonita, uma capelinha branca... Nossa Senhora das Neves... eu tenho fé nela!”.
Bethânia está na Filipéia de Nossa Senhora das Neves, como era chamada a capital da Paraíba, desde quinta-feira para abraçar e agradecer seus 50 anos de carreira, o que o faz com elogiado show logo mais, às 21 horas, no recém-inaugurado Teatro Pedra do Reino. Os ingressos estão esgotados há mais de um mês.
No show, com quase duas horas de duração, ela abraça e agradece os compositores que fornecem o precioso repertório que forma uma das maiores cantoras do Brasil. Estão lá o mano Caetano, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Roberto e Erasmo, Gonzaguinha, Dominguinhos e o paraibano Chico César, a quem ela chama carinhosamente de “meu caboclinho”.
O repertório, conta ela, foge da obviedade dos grandes sucessos. “Eu não pensei em fazer uma retrospectiva. Preferia passar a impressão do que eu sou hoje, o que eu penso, o que eu sinto agora…”, comenta Bethânia.
Ela diz que não foi fácil montar o roteiro, afinal foi o primeiro show que ela fez sem a ajuda do diretor Fauzi Arap, morto em 2013. “Pra mim foi muita coisa nova”, sintetiza. “Foi uma das maneiras de eu me dizer ‘Eu preciso andar. Não pare! Não comemore estacionando, comemore andando'".
De acordo com o roteiro divulgado pela assessoria da artista, o show abre com ‘Eterno em mim’, de Caetano. Segue por ‘Dona do dom’, de seu caboclinho Chico César, e chega a ‘Gita’, de Raul Seixas e Paulo Coelho.
Dividido em dois atos, o primeiro deles é reservado aos grandes clássicos da MPB. Entre textos de Clarice Lispector, Bethânia canta, na companhia de um septeto comandado pelo contrabaixista Jorge Helder, ‘A tua presença morena’, ‘Você não sabe’, ‘Tatuagem’ e 'Rosa dos ventos’, música que dá nome a um dos seus shows mais emblemáticos.
É nessa primeira parte que ela canta ‘Gostoso demais’, parceria de Dominguinhos com Nando Cordel, uma das canções pelas quais gosta de ser lembrada. “Por que?”, quis saber a reportagem. “Porque sim!", responde de pronta. "Pelo compositor, uma homenagem a ele e a gratidão dele por ter me entregue essa música tão bonita”.
O segundo ato comporta a fase mais recente de Bethânia, incluindo músicas do recente Meus Quintais (2014). Integra o roteiro músicas de Roque Ferreira e inéditas de Paulo César Pinheiro com Dori Caymmi, entre textos de Waly Salomão e Fernando Pessoa, além de novamente Chico César. Aqui ela canta ‘Estado de poesia’, segundo ela, “uma das músicas mais bonitas do nosso cancioneiro”.
Abraçar e Agradecer é apontado como o show mais arrojado da carreira de Bethânia. Tem direção, cenografia e criação de luz de Bia Lessa (que a acompanha como diretora em seus últimos espetáculos, como Carta de Amor e Dentro do Mar tem Rio) e direção musical de Guto Graça Mello (produtor responsável por álbuns marcantes na carreira dela, como Ciclo e As Canções que você fez pra mim).
Ao final do papo, o repórter vibra: "Será um grande show!". "Com as bençãos de Nossa Senhora das Neves", responde Bethânia.