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CULTURA

Repressão que não está no gibi

Maior onda de produção dos quadrinhos paraibanos surgiu no período da ditadura militar, explica quadrinista Henrique Magalhães.

Publicado em 01/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 15:19

Quando estourou a Ditadura Militar no Brasil, há 50 anos, os quadrinhos paraibanos estavam apenas começando com o surgimento da revista As Aventuras do Flama, criação radiofônica de Deodato Borges que migrou para o papel um ano antes do golpe.

“Contudo, foi durante o período de exceção que surgiu a maior onda de produção de nossos quadrinhos, a partir do início da década de 1970 com o lançamento dos suplementos dominicais O Norte em Quadrinhos, do jornal O Norte, e O Pirralho, de A União”, explica o quadrinista e editor Henrique Magalhães. “Estes dois suplementos abriram as portas aos jovens quadrinistas amadores, que se aventuravam a publicar suas recentes criações. Dentre esses quadrinhos havia personagens infantis e de aventuras, super-heróis e tiras humorísticas”.

Magalhães conta que, não obstante a situação política repressora vigente no país na época, não havia nenhum impedimento aos quadrinhos produzidos no Estado porque se tratava de obras que expressavam bastante ingenuidade em sua maioria.

A maior criação do quadrinista, a contestadora e militante Maria, foi criada em 1975, no auge dos ‘anos de chumbo’. “Desde o início, a personagem tinha teor crítico aguçado, que se ampliou com minha entrada na universidade (UFPB), em 1976”, relembra. “A partir daí, a conotação política da personagem prevaleceu sobre seu lado intimista, questionando dos desmandos do poder”.

De acordo com Henrique Magalhães, havia vigilância cerrada às publicações, que tinham que ter o aval da censura, conduzida pela Polícia Federal. “A revista Maria, para ser liberada, teve que passar pelo ritual de intimidação da polícia, mas foi liberada sem problema”.

Henrique aponta que a publicação das suas tiras diárias no jornal O Norte não tiveram nenhum impedimento quanto às críticas políticas e sociais. O paraibano afirma que era interessante aos jornais ter certo tom de contestação e sua personagem cumpria esse papel em paralelo às charges.

“No jornal A União, onde a personagem também foi publicada em tiras diárias, não houve problema enquanto se questionava a política nacional, mas foi censurada quando passou a abordar temas locais”.

Um exemplo que Henrique recorda é uma capa de O Pirralho, onde mostra uma criança enclausurada em casa, vendo pelas janelas com grades as outras crianças brincando livremente. A palavra ‘anistia’ foi limada do contexto.

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Jornal da Paraíba

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