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CULTURA

Confira entrevista com Seu Jorge que lança álbum inspirado em churrasco

Jornal da Paraíba entrevistou o músico Seu Jorge que lança Músicas para Churrasco Vol. 1. Projeto é o primeiro de três volumes que compõem uma opereta com personagens de sua formação social.

Publicado em 22/07/2011 às 8:44

Audaci Junior
Do Jornal da Paraíba

A famosa abertura de um dos melhores filmes nacionais da década, Cidade de Deus (2002), mostra uma tradicional ‘churrascada’ com os amigos na comunidade, com direito a batucada, suingueira e galinha de cabidela feita na hora, no embalo dos ritmos.Além da galinha fujona do começo, o filme de Fernando Meirelles também apresentava para o país o talento dramático alojado na voz grave de Seu Jorge, que também tinha ‘galinha’ na alcunha do personagem, que provavelmente participava dessas ‘festas na laje’.

Com o talento para a música descortinado desde a banda Farofa Carioca, no final da década de 1990, também é plausível imaginar o cantor Seu Jorge se formando no gogo em cima das bases de cimento armado na comunidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro

É nesse cenário tipicamente carioca que o cantor está lançando o disco Músicas para Churrasco Vol. 1 (Universal Music). “A ideia surgiu da necessidade de fazer um disco popular já que em 2008 eu ainda estava fazendo uma turnê do América Brasil, que também é um disco popular, pro público de maneira geral, pra massa”, conta o músico.

“Na Europa eu percebi que tinha essa necessidade, uma demanda reprimida muito grande pra ouvir músicas do mesmo gênero que consistia o América Brasil”, continua. “Eu queria fazer um disco de músicas animadas pensando nessas pessoas que nos finais de semana se juntam e se encontram... Pra ficarem juntas e comer, dançar e beber, principalmente nas comunidades.”

Fazendo um filminho legal

O projeto é o primeiro de três volumes que compõem uma espécie de opereta com personagens próprios de sua formação social. “As personagens foram pintando e aí eu percebi que eu estava fazendo um filminho através deste disco, montando personagem”, atesta. “Eu vi que nós tínhamos um filminho legal, uma rapsódia suburbana.”

Com arranjos utilizando instrumentos ora acústicos, ora elétricos e ora vintage, Seu Jorge povoa as letras das dez faixas com figuras como a vizinha, a amiga da minha mulher, a japonesa e outras ‘musas’ inspiradoras que fazem parte do gueto da periferia. “Essas personagens são populares, elas estão por aí, elas existem”, reconhece. “Eu não as conheço, mas sei que existem pessoas com esse perfil. E eu queria falar delas e queria falar pra elas também.”

Entre o black e os metais estão personagens como ‘A véia’, “aquela coroa que depois de criar os filhos vai curtir a vida no bingo, com as amigas, e o pobre do coroa reivindica a presença dela, porque ele também tem amor pra dar.”

Os jargões e gírias da comunidade também estão presentes no álbum. Música como ‘A doida’, carro-chefe que abre o disco, coloca o tom de como será as demais faixas, uma mistura de samba, funk, groove e metais. Como um hino, ‘Dia de comemorar’ é a expressão máxima da atmosfera das confraternizações em cima da laje, com direito a cerveja gelada no isopor e a pelada do campinho.

Na saideira, com harpas e sintetizadores, a tranquila ‘Quem não quer sou eu’ se despede da farra antropológica na varanda e marca mais uma festa na laje, com novos convidados para o volume dois. “O fim não é o fim. Estou ativamente no campo de trabalho, estou participando e na área”, avisa Seu Jorge.

Nos últimos meses, com a vinda de bandas como U2 e ícones como Paul McCartney, Seu Jorge entende que o Brasil se transformou em “uma praça, um roteiro obrigatório” para tais eventos. “Esse é o momento do Brasil, de experimentar coisas grandes”, analisa e sampleia: “A gente quer tudo zero quilômetro, não quer só comida, diversão e arte; a gente quer viver a vida, como a vida é, e como a vida quer, em qualquer parte.”

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Jornal da Paraíba

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