icon search
icon search
home icon Home > economia
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

ECONOMIA

Agricultores de pequeno porte usam apicultura para sobreviver à seca

 Agricultores do Cariri, Agreste e Zona da Mata encontraram na produção de mel fonte de renda

Publicado em 26/07/2015 às 8:00

Com técnicas simples e de baixo custo, apicultores da Paraíba garantem a extração de mel, evitando a migração das colmeias durante a estiagem. Grande parte dos criadores de abelhas são agricultores de pequeno porte de regiões paraibanas do Cariri, Agreste e Zona da Mata que têm na produção dos favos uma fonte de renda extra. A história de Evanildo Oliveira de Araújo, 43 anos, resume a realidade dessas famílias que lutam para manter viva esta tradição, ameaçada pela falta de chuva.

Edvaldo Araújo mora no sítio Duas Serras, no Cariri Ocidental da Paraíba, onde cuida das colmeias e do roçado de milho e feijão. A rotina do trabalhador mudou um pouco com a seca. Há cerca de quatro anos, quando as chuvas estavam dentro da média normal, ele cuidava da plantação e mantinha como atividade paralela o apiário com 94 colmeias (66 de abelhas com ferrão e 28 sem ferrão). Ele ainda tinha cerca de 100 galinhas caipiras e fazia o beneficiamento de castanhas de caju, que eram vendidas para cidades como Sumé, Coxixola e Monteiro.

Com a estiagem prolongada, os cajueiros morreram, as galinhas caipiras tiveram que ser vendidas, o milho e o feijão só suprem agora a família do agricultor. A única atividade que restou foi a apicultura, que hoje, além do benefício do Bolsa Família, é a única fonte de renda de Edvaldo. Contudo, a restrição de água e a escassez de néctar, por causa da falta de floração, fizeram com que parte dos enxames sumissem e do apiário restaram apenas 20 colmeias.

Mas Edvaldo Araújo não se intimidou, procurou capacitação e depois de pôr em prática os ensinamentos do Sebrae e da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A (Emepa-PB), conseguiu fazer as divisões das famílias de abelhas, capturar outras e recuperar parte de seu apiário que hoje conta com 50 colmeias. Apenas com as colônias que restaram, sua produção era nula e este ano já conseguiu extrair, somente de 18 melgueiros, quase 150 quilos de mel. “Se não tivesse feito o manejo correto, a multiplicação das famílias, não tinha mais nenhuma abelha. E este ano já vendi, por mês, R$ 250 de mel na cidade”, revelou.

O apicultor mora com a esposa e o filho de 11 anos em 10 hectares de terras emprestados do sogro. Otimista com o resultado obtido este ano, ele já faz planos para o futuro. “Se eu conseguir meu pedaço de terra, não terei mais limite. Quero comprar 50 hectares de terra e estender meu apiário para 200 colônias de abelhas com ferrão e mais 50 sem ferrão”, confessou.

O técnico em apicultura da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A (Emepa-PB), Leon Denis Batista do Carmo, afirmou que o Projeto de Propagação de Famílias e Produção de Rainhas começou há cerca de seis meses, sendo desenvolvido em parceria com as associações de apicultores de cidades como Taperoá, São José dos Cordeiros e Serra Branca.

De acordo com ele, segundo levantamento concluído em 2013 pela Emepa-PB, foi observado que em condições normais de chuva o Estado produzia por ano 460 toneladas de mel. “Mas com a estiagem prolongada perdeu-se cerca de 60% das abelhas em todo o Estado. Este número está sendo recuperado desde o ano passado com a maior quantidade de chuva em algumas cidades e aplicação do manejo correto”. Ele frisou que este ano o órgão está realizando um novo levantamento da produção de mel para saber a real situação da Paraíba.

Saiba Mais

O coordenador regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater), em Itabaiana, Paulo Emílio Carneiro de Souza, explicou que a seca faz com que cada vez mais a floração desapareça e para não morrer de fome e sede os enxames migram para outras regiões. Para evitar o desaparecimento das colônias, a Emater transmite ensinamentos como a divisão de famílias, reflorestamento da vegetação nativa e confecção de alimentação artificial. Ações com custo zero.

Atividade de baixo custo e viável

O técnico em apicultura da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A (Emepa-PB), Leon Denis Batista do Carmo, afirmou que a apicultura reúne os três pilares da sustentabilidade: é economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta. Por isso, a atividade é estimulada, principalmente nas regiões onde já existe a tradição.

O técnico explicou que esta atividade requer baixo custo e ainda mantém o homem do campo na sua região. “Com o incremento da renda obtida através da extração de mel, ele ainda melhora sua vida social porque pode adquirir bens como TV, geladeira, computador e outros equipamentos para a residência”.

A atividade também não oferece nenhum tipo de degradação à natureza porque não polui, nem agride os animais. “As abelhas ainda são responsáveis por 87% da reprodução das espécies vegetais, através da polinização”, lembrou.

ENTREPOSTO DE MEL

Mas não basta apenas capturar e saber manusear os enxames. Na Paraíba existem seis entrepostos de beneficiamento do produto situados em Bananeiras, Salgado de São Félix, Aparecida, Cacimba de Areia, Catolé do Rocha e Itaporanga. Alguns, como o de Aparecida, têm capacidade para exportar o produto, mas ainda aguarda o Selo de Inspeção Federal (SIF) para poder funcionar.

O presidente da Associação de Apicultores de Salgado de São Félix, Virgínio Félix, afirmou que os apicultores estão ansiosos para trabalhar no entreposto. “Já extraímos por ano cerca de 50 mil quilos de mel em 2011, mas com a estiagem houve queda nessa quantidade. Em 2012, a produção passou para 20 mil quilos e, em 2013 para 8 mil quilos. Em 2014 já não tiramos mel. Mas esperamos que a situação melhore para que possamos trabalhar no entreposto”, afirmou.

De acordo com ele, nos tempos mais produtivos, a produção que saía do município era escoado para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresas do Estado, além dos mercadinhos da cidade.

Veneno incrementa produção

Para garantir a renda dos apicultores durante todo o ano, independente da periodicidade das chuvas, está sendo desenvolvido na Paraíba um projeto que trabalha com o composto ativo do veneno de algumas espécies de abelha. A substância, chamada de Apitoxina, é liberada pelo ferrão quando o inseto ferroa. O veneno possui fins terapêuticos e tem alta rentabilidade no mercado nacional e internacional.

De acordo com o técnico em apicultura da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A (Emepa-PB), Leon Denis Batista do Carmo, o Rio Grande do Norte e o Japão são os únicos lugares do mundo a terem um projeto específico para trabalhar o veneno da abelha. “O nosso objetivo é oferecer uma alternativa de renda aos apicultores durante os doze meses do ano”, frisou Denis Batista.

Segundo ele, a produção deverá acontecer a partir de agosto, através de um trabalho que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Agricultura do Município de São José dos Cordeiros, em parceria com a Emepa e a Emater, que hoje estão juntas como Gestão Unificada. A Apitoxina será produzida inicialmente na Associação dos Apicultores de São José dos Cordeiros e a ideia é que toda a região do Cariri, por meio de suas Associações Apícolas, possam trabalhar com este produto.

A substância será uma das novidades da 7ª Edição do Festival do Mel de São José dos Cordeiros, que será realizado nos dias 25 e 26 de setembro, na cidade que leva o nome do evento. O festival reúne apicultores do Nordeste que participam de oficinas, palestras, trocam experiências e expõem seus produtos.

Segundo o técnico, dentre os diversos componentes da Apitoxina destacam-se a Melitina, substância de ação anti-inflamatória. O veneno também é usado na produção de cosméticos, a exemplo de creme facial a base de Melitina, utilizado como botox natural e creme relaxante muscular. “O mercado de Apitoxina está aquecido, várias indústrias farmacêuticas e de cosméticos estão à procura do produto, que é muito rentável. Então achamos que a produção de veneno na região do Cariri paraibano veio em boa hora, resta agora as associações apícolas se organizarem para que possam entrar nesse mercado”, frisou Denis Batista.

Atualmente, os técnicos que participam deste projeto buscam um espaço para que o beneficiamento da substância seja feito e também estudam a legislação vigente para que tudo transcorra dentro das exigências sanitárias do Ministério da Agricultura. “O processo de coleta é bem simples, porém requer cuidados para que se possa manter a qualidade do produto”, garantiu Denis Batista.

“Acreditamos que com a produção contínua de veneno nas colmeias ao longo do ano, possamos alavancar novamente a apicultura no Cariri paraibano. Outra vantagem da produção de Apitoxina é que o apicultor vai poder continuar produzindo mel da mesma forma no período de florada, sendo mais um produto das abelhas a gerar renda", disse o técnico.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp