Galope para crianças

Raramente os elementos presentes na literatura de cordel e no martelo agalopado dos cantadores são explorados no universo infantil.

Iniciou-se há 30 anos a trajetória de O Poder da Natureza (Editora 34, 36 páginas, R$ 30,00), novo livro infantil do paraibano Braulio Tavares com ilustrações de Jô Oliveira.

Quando morava em Campina Grande, o escritor e colunista do JORNAL DA PARAÍBA convivia com os cantadores, cordelistas e repentistas, o que lhe valeu de bagagem para produzir um conjunto de versos que ficariam adormecidos no fundo do seu baú até hoje.

“É um dos motes mais antigos que os cantadores gozam”, observa o premiado autor, resgatando a ideia quando estava pensando em um próximo livro destinado as crianças.

Em O Poder da Natureza, Braulio Tavares apresenta poemas de dez versos decassilábicos, para serem lidos ou cantados ao ritmo do martelo agalopado, seguindo o modelo tradicional propagado pelos artistas nordestinos. Ele ainda explana sobre essa forma poética no final do volume.

Os temas das rimas do paraibano radicado no Rio de Janeiro remetem aos bichos e plantas. Vão desde o vaga-lume iluminando a escuridão até o João-de-Barro e sua casa na árvore. Diversos animais como o camelo, baleia, gato-do-mato e pombo correio estão presentes na obra.

“Atualmente, a Natureza é defendida nas escolas e se encontram em programas didáticos”, frisa Tavares.

TRAÇO DA XILOGRAVURA
Para adornar os versos do livro, que é impresso com as páginas de várias cores, remetendo à multicolorida literatura de cordel e ao processo de xilogravura de suas capas, foi chamado o pernambucano Jô Oliveira, renomado quadrinista de álbuns como Hans Staden: Um Aventureiro no Novo Mundo (este lançado no Brasil pela Conrad) e L'uomo di Canudos, ambos publicados na Itália.

Oliveira, que já havia usado uma de suas artes em um livro anterior de Braulio Taveres, Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil (Editora 34), lançado em 2009, e tinha intimado o autor para fazer um trabalho maior com ele.

Com o seu estilo rústico, detalhado e estilizado, que evoca outros mestres dos quadrinhos como o mineiro Flavio Colin (1930-2002), Jô Oliveira ilustra as páginas de O Poder da Natureza dialogando com a cultura popular nordestina, moldando no seu traço “as coisas que ninguém ensina, mas que as plantas e os bichos sabem e fazem”, como é apresentada a obra pela editora.